São 20 anos dedicados exclusivamente ao basquete. Alex Ribeiro Garcia é um expoente no esporte brasileiro. Multicampeão em solo nacional e internacional, segue mostrando que a idade pode ser compensada com técnica e muita disposição. São incontáveis títulos em sua carreira, tendo como mais recente deles a Liga das Américas, competição onde foi eleito o MVP pelo Paschoalotto/Bauru.

Promovido aos profissionais pelo COC/Ribeirão Preto, iniciou sua carreira com vitórias e conquistas. Rumo à NBA, sofreu seu primeiro declínio após graves lesões. Retornando ao Brasil, fez história no Brasília antes de se aventurar na Euroliga pelo Maccabi Tel Aviv. Novamente repatriado, desta vez em São Paulo, segue sua rotina de levantar troféus.

Direto do Ginásico Panela de Pressão, Alex Garcia recebeu a equipe da VAVEL Brasil e concedeu entrevista exclusiva para o site. Entre os temas abordados, sua passagem pelo San Antonio Spurs, a evolução do basquete nacional em parceria com a NBA e a expectativa para seu futuro junto ao Paschoalotto/Bauru.

Confira a entrevista na íntegra

VAVEL BRASIL: Você fez parte do excelente grupo do COC/Ribeirão, sendo tricampeão paulista no início da década. Como foi para sua maturidade como jogador ganhar títulos logo no início da carreira?

ALEX GARCIA: Antes mesmo do COC/Ribeirão, já havia tido passagens vitoriosas pelas categorias de base do São José do Rio Preto. Quando você consegue atingir seus objetivos, ganhar títulos e disputar finais, você chega a fase adulta já acostumado a esse mundo. Apesar de atuar contra jogadores diferentes e mais experientes, o ambiente de decisão é o mesmo que você está acostumado. Então, pra mim foi importante para crescer em termos de base ao profissional, evoluir com técnicos diferentes e dar sequencia a essas situações vitoriosas.

VB: Sua mecânica de arremeso é bem diferente da realizada por outros jogadores. Sua técnica é algo que você utiliza desde o início da carreira, aperfeiçoando-a com o passar dos anos, ou foi algo que precisou ser mudado com o passar do tempo?

AG: Eu arremessava com corpo mais torto, sem centralizado e apenas com a mão canhota quando era mais novo. Com o passar do tempo você vai se acomodando a novas situações e vendo o que é mais agradável para você. Com o passar da carreira, fui me adaptando a novos estilos e aperfeiçando minha melhor forma de arremesso.

VB: Quem foi o seu maior parceiro dentro de quadra, analisando em termos de entrosamento e parceria?

AG: Tive vários parceiros excelentes, mas sempre falo do Nezinho e não tem como mudar isso. Nos entedíamos muitos bem e em apenas um olhar já sabíamos o que o outro queria, onde a bola deveria ir, de que maneira deveria chegar e esse entendimento de mais de 10 anos atuando juntos foi marcante e o tornou meu melhor parceiro.

(Foto: Divulgação/NBB)

VB: Você esteve presente na NBA durante as temporadas de 2004 e 2005 defendendo o San Antonio Spurs. Acreditamos que atuar ao lado de Tony Park, Manu Ginóbili e Tim Duncan deve ter sido incrível. Como você descreve a experiência de atuar na maior liga de basquete do mundo?

AG: NBA é um sonho realizado. Dividir o mesmo espaço que esses caras foi fantástico. Emoção única e momento importante na minha carreira, apesar das lesões que ocorreram. Mas, jogar no Spurs, ao lado dos caras que eu cresci assistindo na televisão e tanto admirava foi sensacional. Principalmente com o Ginóbili, por ser canhoto e ter um estilo de jogo parecido com o que eu gosto. Atuar na NBA é diferente de tudo que já vivi. Você chegar lá é uama coisa, se manter é outra. Atuei por duas temporadas e só quem viveu sabe como é.

VB: Você comentou sobre suas lesões que atrapalhavam sua passagem pelo Spurs. Você considera frustrante sua passagem pela NBA? E como foi sua relação com Gregg Popovich?

AG: Não, frustrante não. Estamos sujeitos a lesões, isso normal para qualquer atleta e infelizmente tive duas. Quebrei o metatarso do pé esquerdo na primeira temporada e rompi o ligamento cruzado logo no ano seguinte. Mas, se fosse pra voltar e sofrer novamente tudo isso, eu voltaria. São coisas que acontecem, não foi por fraqueza minha, nem desistência ou medo. Infelizmente são coisas naturais.

VB: Gregg Popovich é um ícone do basquete americano e considerado um dos maiores treinadores de todos os tempos. Como era sua relação com ele e a sensação de ser mestrado por tal?

AG: Minha relação com Popovich foi espetacular, assim como atuar na NBA que me permite ter esse tipo de sensação. Ele é um cara que cobra muito dentro de quadra, mas sempre me deu apoio quando precisei. É um verdadeiro paizão, um cara que dá liberdade e incentiva a todo momento. Foi sensacional conhecê-lo nesta passagem.

VB: Ainda sobre as lesões sofridas na NBA, você crê que esse período serviu de aprendizado para o resto da carreira, tendo em vista seu aspecto físico?

AG: Sempre procurei trabalhar no limite. Treino da mesma maneira que jogo. As lesões podem vir a acontecer ou não. É estranho falar disso pois as únicas situações sérias aconteceram lá (NBA), enquanto no Brasil nunca tive probemas. Mas como falei, fiz o que tinha que fazer, treinei como tinha que treinar e sigo dando meu máximo. Se aconteceu, não era pra ser. Talvez não fosse pra eu atuar na NBA.

(Foto: Arquivo Pessoal)

VB: Saindo da NBA e indo à Europa. Você atuou no Final Four da Euroliga em 2008, quando defendia Maccabi Tel Aviv. Quais lições você tira de aprendizado do basquete europeu?

AG: O basquete europeu é totalmente diferente do jogado aqui na América do Sul ou na NBA. É mais tático, mais estudado e jogar pelo Maccabi serviu para meu aprendizado. Até mesmo a presença de vários americanos no elenco tornaram meu jogo um pouco mais individual. Jogar pelo Final Four da Euroliga, onde todos os clubes da Europa almejar estar, foi sensacional. Ficará para sempre marcado na minha carreira. Mesmo não tendo ganho, foi uma experiência única só poder ter atuado.

VB: Os clubes da NBB vêm realizando parcerias nas pré-temporadas com a NBA. O quê você espera que isso pode trazer de evolução para o basquete nacional em um futuro próximo?

AG: Tanto eu como todos esperamos evoluções em estrutura física, na formação de jogadores e de arbitragem. É difícil analisar essa parceria por ainda ser muito cedo, mas espero que possa trazer mais profissonalização para o nosso basquete, melhorando o campeonato nacional e tornando uma manobra rentável para quem investe e prazeroso para quem assiste.

VB: Recentemente o Bauru conquistou o título da Liga das Américas de Basquete, fato o credenciou para disputa do Mundial Interclubes no segundo semestre de 2015, onde enfrentará o campeão da Euroliga. Baseado nas experiências que você viveu lá, o que esperar de seu futuro adversário?

AG: Cai no mesmo problema do ano passado. Todos esperavam um Barcelona, um Real Madrid, mas esquecem que sempre tem um Maccabi Tel Aviv que entra sempre forte em decisões. Esse ano a Euroliga está aberta. Apesar dos espanhóis sempre estarem bem, zera tudo quando chega a fase de Final Four e quem estiver melhor no dia ganha. Temos que focar apenas em fazer o nosso trabalho, seguir concentrados e realizar uma boa temporada. O Flamengo venceu ano passado e nós também temos condições.

(Foto: André Durão)

VB: Você esperava conquistar a Liga das Américas de maneira tão rápida com o Bauru? E em quais quesitos o grupo ainda pode evoluir, se tratando que você ainda têm mais três anos de contrato com a equipe paulista?

AG: O objetivo sempre foi conquistar esse título. Mas, foi surpreendente pela maneira que foi, tanto para nós, quanto até mesmo para a diretoria. Não sabíamos que o time ia encaixar tão fácil como encaixou. Isso é bom pelos atletas que já estavam, tanto como pelos que chegaram recentemente. Quando você une jogadores vitoriosos, com vontade de vencer, aliado a uma comissão técnica profissional como a nossa, o resultado é esse.

VB: Você é um dos grandes nomes na história do basquete nacional e permite aos espectadores presenciarem uma mistura de passado e futuro em sua tabela com Ricardo Fischer. Sabendo que ele é o mais jovem entre os titulares, como é vê-lo atuando como armador principal da equipe? E acredita que o mesmo merece uma vaga na Seleção Brasileira?

AG: O Ricardo vêm sendo o armador titular há dois anos no Bauru, e mesmo com a pouca idade vem adquirando uma enorme experiência no basquete. Foi premiado com um elenco forte e está sabendo comandá-lo com perfeição. Sabe fazer todos andarem do jeito que gosta e é merecedor de tudo que está acontecendo. Uma convocação para a Seleção será consequencia de um bom trabalho realizado.

VB: Você recentemente comentou em entrevista que a ausência de Jefferson, fora da temporada devido a uma grave lesão, dificulta no andamento de seu estilo de jogo. Com o passar dos jogos e recentemente a conquista da Liga das Américas, você crê que o Bauru já conseguiu se readaptar sem ele? E se sentem preparados para os playoffs da NBB mesmo com esse desfalque?

AG: Nós estamos atuando sem o Jefferson há mais de 10 jogos e estamos conseguindo dividir esta responsabilidade com todos os jogadores. A própria movimentação do Murilo e do Rafael em quadra estão ajudando nessa readaptação. Lógico que às vezes nosso jogo trava um pouco, o que é normal. Mas nossa equipe está sabendo lidar com essa ausência e entrará nos playoffs da NBB tão bem posicionada como no Final Four.

VG: Para finalizar, você recebeu um bandeirão em sua homenagem de presente da torcida do Brasília. O quê esse clube representa em sua carreira?

AG: Foram sete anos em Brasília. Conquistei títulos importantes, nacionais, internacionais, foi minha casa e me sinto bem lá. O bandeirão foi reconhecimento pelo trabalho que fizemos. Agradeço muito pelo presente, principalmente partido desta torcida que sempre me apoiou. Tenho um carinho enorme por todos de lá.

Entrevista realizada por Abner Bento, Marcello Neves e Wesley Contiero.

Agradecimento a Alex e a assessoria de imprensa do Paschoalotto/Bauru.

(Foto: Getty Images)