Entrevista. Melhor do mundo no futebol de 5, Jefinho afirma: "Rio 2016 será um divisor para nossa visibilidade"
(Foto: Editoria de Arte/VAVEL)

Como a maioria dos jovens, Jeferson da Conceição, o Jefinho, aprendeu os principais fundamentos do futebol na rua com os amigos, em Candeias, no interior da Bahia. No entanto, aos 7 anos perdeu completamente a visão em decorrência de uma glaucoma e teve que se adaptar à nova realidade.

Para poder brincar, em igualdade, enrolava a bola num saco plástico para que fizesse barulho, e além disso, algumas orientações de espaço eram dadas pelos colegas. Contudo, Jefinho, com o apoio da família, principalmente da mãe, nunca deixou seus sonhos para trás. 

"Perdi a visão muito novo. Com 2 anos perdi a visão de um olho, e com 7, perdi a visão totalmente. Mas, apesar de humilde, minha família sempre soube lidar com a situação. Minha vida mudou totalmente depois de perder a visão. Brincava com meus amigos na rua, mas de forma improvisada. Após a perda, fui encaminhado pra um instituto na Bahia, onde conheci o futebol de 5", lembrou Jefinho. 

Jefinho é uma das promessas dos jogos paralímpicos. Considerado o melhor do mundo em 2010, tricampeão mundial e bicampeão paraolímpico (Pequim-2008 e Londres-2012), o pivô tem um dos chutes mais fortes do elenco. Apesar de forte marcador, é veloz e se apresenta muito bem no ataque. Para conhecer mais sobre a vida e a carreira de Jefinho, a Vavel Brasil entrevistou o craque.

Confira a seguir, na íntegra, a entrevista para a VAVEL. 

VB: Quando você percebeu que era possível ser jogador profissional de futebol?

J: "Percebi que realmente dava pra ser jogador de futebol depois de um certo tempo que já estava disputando algumas competições. Minha primeira competoção foi aos 14 anos de idade. Todos me diziam que eu tinha potêncial, e nesta primeira fui eleito a revelação do campeonato. E, então, percebi que era possível ser jogador de futebol".

VB: Você foi convocado muito jovem para a seleção brasileira de futebol de 5. Qual foi sua reação?

J: "Não acreditei muito. Na verdade, nem queria ir. Gostava muito de estudar. Era muito novo, tinha 16 anos, pensei muito e acabei indo para a seleção e foi uma experiência sensacional de estar entre os melhores jogadores. Foi a realização de um sonho".

J: "Tiva a oportunidade de ser o melhor jogador do mundo de 2010. Foi uma grande surpresa. É claro que nos sonhos sempre me imaginava sendo o melhor do mundo, mas foi uma tremenda surpresa. Aos poucos meus sonhos foram se realizando", finalizou.

VB: Você é um jogador diferenciado, eleito melhor jogador do mudo,  campeão mundial e bicampeão paralimpico, o que você acredita que você tenha de especial? As memórias visuais de quando era criança te ajudam durante uma partida, por exemplo? Acha que isso é um dos seus diferenciais?

J:"Acredito que não tenho nada de especial. Tenho o dom de ser um jogador de futebol. Não tenho quase nenhuma recordação visual, então isso não me ajuda em nada. O que me ajuda são os treinamentos, a condução de bola que aprendi com pessoas importantes que me deram esse caminho na base".

VB: A Paralimpíada do Rio de Janeiro é mais uma oportunidade de medalha e de dar visibilidade a um esporte tão bonito. Como a seleção está se preparando para o evento?

J: "Os Jogos Paralímpicos são muitos importantes pra gente. Especiais. Diferentes. Estaremos jogando em casa, com o apoio de nossa torcida. Estamos nos preparando muito bem. Somos umas das seleções favoritas ao conquistar o ouro mas sabemos que o jogo é jogado e o resultado é conquistado dentro de quadra. Nos preparamos muito bem ao longo desses quatro anos, temos uma comissão técnica de excelente qualidade e usamos as últimas competições para organizar melhor nossa equipe e evoluir nosso futebol, procurando novas maneiras de jogar. Esperamos que na Rio 2016 não seja diferente. Que possamos dar esse ouro à toda nossa torcida, familiares e amigos. Apesar da torcida ter que ficar em silêncio durante a a partida, sentimos a energia positiva que ela transmite. Jogar em casa será especial pra mim".

VB: Ainda falando de paralimpíada, foram veiculadas notícias informando que a venda dos ingressos estavam pequenas. O que você acha que ainda falta para das visibilidade para os esportes paralimpicos?

J: "Relmente no início a venda dos ingressos estavam um pouco baixa. Mas a medida em que a competição se aproxima, o público acaba se interessando pela modalidade paralímpica. Acredito que as arenas estarão lotadas porque o brasileiro gosta de esporte, gosta de torcer pelo Brasil. Ficamos em 7º em Londres no quadro geral de medalhas, pretendemos subir duas posições. E, pra isso precisamos da força da torcida. Acredito que essa paralimpíada será um divisor de águas na visibilidade dos esportes paralímpicos. Tenho certeza que os brasileiros vão gostar do espetáculo". 

VB: Você é campeão mundial e eleito melhor do mundo. Já se sente realizado profissionalmente? Se não, qual o seu maior sonho?

J:"Já me sinto profissionalmente realizado. Conquistei tudo que um atleta sonha em conquistar. Claro que sempre sonho com mais, mas profissionalmente já conquistei tudo que tinha que consquistar e me sinto realizado. No entanto, tenho apenas 26 anos, sou jovem, e muita coisa ainda pode acontecer". 

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