VAVEL analisa Bates Motel
(foto:divulgação/A&E)

O primeiro ano do programa acabou surpreendendo como uma das melhores produções durante o período em que foi lançada e conseguiu manter o alto nível em suas temporadas seguintes. O seriado contou com a difícil tarefa de trazer o icônico personagem Norman Bates de volta em uma mídia diferente e ainda introduzi-lo em um cenário contemporâneo. O vilão ficou conhecido pelo grande público pelo clássico filme Psicose que foi dirigido pelo conhecido diretor Alfred Hithcock, tendo sua estréia em 1960. O protagonista do seu longa metragem retornou dessa vez na televisão como um adolescente ambientado na atualidade. Inicialmente, a premissa de reutilizar a clássica obra foi encarada com negatividade por grande parte do público e da crítica antes da série ter estreado de fato. Contudo, o roteiro da série provou-se realmente prazeroso, explorando magistralmente a origem do esquizofrênico psicopata.

O programa conseguiu estabelecer uma trama verdadeiramente envolvente e com bastante consistência. O primeiro ano foi capaz de fazer com o que o suspense permanecesse do inicio ao fim sem que o ritmo dos episódios acabasse ficando entediante. Geralmente sempre ocorrem episódios filler (aqueles que não passam de enrolação sem acrescentar nada para a história central) na maioria dos seriados, o famoso formato procedural, mas Batel Motel consegue manter-se com um ritmo sempre agradável, nunca ficando maçante. Não era difícil imaginar que não haveria soluções para certas situações, ou que uma delas parecesse simplória quando abordada. Porém, após alguns episódios, essa sensação não era mais transmitida, demonstrando que poderíamos confiar tranquilamente nos roteiristas que sabiam conduzir uma boa trama.

Muito do sucesso da série se deve a excelente relação familiar abordada no programa. A família que compõe o núcleo principal do seriado é formada por Norma (Vera Farmiga), Norman (Freddie Highmore) E Dylan (Max Thieriot). O relacionamento deles é indiscutivelmente conturbado, com Norma, mãe do protagonista, sofrendo constantemente ao ter que lidar com diversas situações perturbadoras desde o episódio piloto. A mulher tenta conciliar seus próprios problemas enquanto tenta ajudar o problemático Norman que não tem consciência do que está ocorrendo com si próprio. Assim que Norma acaba desabafando e explicando a situação de seu perturbado filho mais novo para Dylan, irmão mais velho de Norman, a protetora mãe acaba aprendendo a tratar respeitosamente seu primeiro filho, que até aquele momento era deixado de lado por ela, passando a acolhê-lo naquela família disfuncional. Dylan tenta se virar na medida do possível na cidade White Pine Bay, mas acaba cruzando com uma delicada situação que o faz querer auxiliar e tornar tranqüilo o relacionamento nada saudável entre Norman e Norma. 

O roteiro é ainda mais beneficiado com as excelentes atuações de Farmiga e Highmore, que convencem em seus respectivos papéis instáveis. É possível compreender com a interação de filho e mãe apresentada ali o provável futuro de Norman. O lado esquizofrênico psicótico do garoto é nitidamente perceptível através de suas ações, seus olhares que transmitem instabilidade e até mesmo de sua movimentação ligeiramente metódica, sendo visível que se trata de um indivíduo que carrega consigo problemas psicológicos. Além disso, fica evidente que os atos e decisões de Norma são freqüentemente refletidos no menino, e Farmiga é certeira em focar do lado delicado de sua personagem devido à inconstância emocional da mulher.

Somente na primeira temporada do programa vimos casos homicidas e psicológicos, além de estupros, tráfico de mulheres, drogas, uma vasta plantação de maconha e até mesmo taxidermia. Entretanto, mesmo que nem todos os tópicos mencionados tenham sido devidamente explorados até a última gota, o primeiro ano não deixou ganchos nítidos após a season finale, mas deixou uma boa ponta solta que foi aproveitada na segunda temporada, apesar de não ter sido forte o suficiente para fazer com que o público mal pudesse aguardar pelo próximo ano.

Definitivamente, Bates Motel surpreendeu logo de inicio, tendo sido uma das melhores, possivelmente a melhor, série que estreou durante o período de 2012-2013. Ao prezar um enredo direto e sem “encheção  de lingüiça”, é apresentado ao telespectador uma perspectiva completa do que Norman Bates se tornará futuramente, evidenciando os elementos que o motivaram e influenciaram. Toda a narrativa se encaixa com maestria, ainda que faltem determinados fragmentos para que a construção fique completa até que tenhamos o empalhamento de Norma Bates no porão assim como no original.

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