CRÍTICA: 'El Marginal' é uma série que mistura arte com realidade do sistema carcerário
'El Marginal' ganhou elogios do diretor e criador de Os Sopranos (La Nación)

El Marginal chamou atenção do mundo quando recebeu o prêmio francês do Festival Séries Mania quando um dos jurados era o diretor David Chase (Os Sopranos). O seriado argentino foi produzido pela Underground Produciones e TV Pública, seus direitos foram adquiridos pelo Netflix para distribuição mundial, sendo a primeira do país sul-americano a conseguir este feito. 

O fator genialidade, do criador e diretor  Luis Ortega, é clara, no universo sólido que o mesmo criou. Mas o que impressiona é  o fato que o mesmo poderia ter partido da ambição de criticar o sistema carcerário na plataforma de filmes documentário. Porém ele decidiu ousar e fazer uma ficção sobre o caso. Só por isso vale muito a pena assistir.

A trama se passa no submundo carcerário, que divide o espectador em duas vertentes: por um lado uma historia policial e por outro os conflitos de um ex-policial Miguel Palácios, pertubado por problemas legais, interpretado grandiosamente Juan Minujín. Ele é contratado por um juíz que oferece o que tanto almeja: dando uma identidade falsa, com o nome de Pastor Peña e o incriminando com duplo homicídio dentro de uma prisão de segurança máxima, afim  de conseguir informações para o resgate sua filha (Maite Lanata), a troco de sua liberdade. 

Personagens secundarios como Diosito (Nicolás Furtado), do chefe mafioso Mario Borges (Cláudio Rissi); Emma (Martina Gusmán), Cesar (Abel Ayala); o colombiano James (Daniel Pacheco); o chefe da delegacia, Antín (Gerardo Romano) e até o anão Pedro (Bryan Buley) dão ao produto uma humildade, e ajudam a construir o arco da história, sendo favores decisivos para o crescimento do protagonista.

El Marginal se beneficia muito da iluminação mais cinzenta , proporcionando o ar que necessita para o visual presidiário. Alem dos movimentos de câmera muitas vezes focalizado nos detalhes, lembrando um filme de ação francês. Outrora as cenas com câmera na mão são executadas de forma excelente reforçando a deixa do tema policial. A trilha sonora também não deixa a desejar, em alguns tempos é bem ambientada, entretanto em outros, passa batido.

O grande alto e baixo da obra fica por parte do roteiro, seja por um início um tanto lento é chato, seja por um final surpreendente. Ao todo a série passou por uma roleta russa, com episódios ótimos e outros descartáveis. Algumas situações poucos exploradas e explicadas se tornavam entediantes, sem contar nas cenas dadas a personagem sem importância nenhuma na história. No entanto, as reviravoltas e desenvoltura na trama, por específico o final salvam tudo e deixam um gostinho na boca por outra temporada.

Acima de tudo, Marginal, é um retrato de um dos maiores problemas sofridos na América Latina - superlotação de presídios, a forma de como são tratados, seja com regalias que como animais, brutalidade policial, corrupção no sistema e também a discriminação racial social dentro dos próprios cárceres. Se contextualizarmos para o Brasil, muitas coisas que acontecem no país vizinho também acontece no nosso.

A produção nos faz questionar se há realmente um vilão, se a vida é pra ser solucionada no preto e branco, ou se deve ser estudada ao todo. Não só o bandido é o vilão, contudo também pode ser aquele que as paginas de jornal chamam de servidor da lei. Os 13 episódios apesar de mostrar a história de palacios, é crítica exacerbadas ao sistema penitenciário é ótima, traz um ótimo retrato da verdade nua e crua da realidade vivida em um sistema corrupto.

Ao todo, apesar de alguns tropeços, El Marginal é uma excelente série policial, arriscada, acima de tudo relevante nos tempos atuais que sabe atrelar arte com assuntos sociais muito importantes. O futuro da série é incerto, podendo ser renovada a mais uma temporada pelo Netflix. Mas é inegável que precisa de uma segunda temporada tão espetacular quanto seus últimos episódios. 

NOTA 7,5

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