Na terceira semana da pré-temporada, o que movimentou os comentários sobre o football não foram os jogos ou lesões. Durante o hino nacional, o QB do San Francisco 49ers, Colin Kaepernick, decidiu permanecer sentado enquanto todos os outros, como é normal, estavam em pé. Kaepernick não escolheu fazer esse significativo gesto à toa. Pelas minorias e contra a violência com os negros, o jogador fez um protesto silencioso que disse muito e precisa ser ouvido.

Kaepernick não está sozinho e não pode estar. Na semana seguinte ao primeiro protesto, Eric Reid, do 49ers, e Jeremy Lane, do Seattle Seahawks, se uniram ao QB. A estreia da temporada regular trouxe mais um adepto, já que Brandon Marshall, do Denver Broncos, também se ajoelhou. No futebol feminino, Megan Rapinoe, do Seattle Reign, fez o mesmo. Outros devem se juntar ao movimento e precisamos falar sobre isso.

Marshall disse, após a vitória diante do Carolina Panthers, algo que explica exatamante porque o protesto precisa ser ouvido e feito. "Acredito que esta seja a plataforma certa. É a nossa única plataforma para sermos ouvidos. Sinto que, em diversos momentos, as pessoas querem que fiquemos calados e os entretenhamos, cale a boca e jogue football. Mas nós também temos voz. Na verdade, somos indivíduos educados que fomos à faculdade. Então quando temos uma opinião e falamos, sinto que muitas pessoas nos julgam pelo que temos a dizer", disse o jogador do Denver Broncos. E ele está certo.

(Foto: Reuters)
(Foto: Reuters)

Esses jogadores estão sendo vaiados e massacrados em diversos veículos e redes sociais pelas escolhas. Porém, vivem em um país que prega, como o próprio hino afirma, a liberdade. Porque eles não tem liberdade de escolher ficar em pé ou não? Não é obrigatório e não deveria ser. Quantos atletas protestaram ao longo dos anos e não foram ouvidos? Porque agora não podemos ouvir o que esses jogadores têm a dizer?

O protesto não é contra os que perderam a vida em guerras, batalhas ou se dedicaram a servir a bandeira. Isso não é sobre um problema pequeno. É um protesto pelas milhares de pessoas que morrem todos os dias pela cor da pele, orientação sexual, gênero. É por cada um que não tem direito a liberdade. Isso precisa ser discutido não somente por atletas ou norte-americanos, mas também por nós, brasileiros.

Enquanto vaias e boicotes são planejados, outros devem se unir a Colin Kaepernick e, com a liberdade que os foi prometida, se ajoelharão diante da bandeira dos Estados Unidos. E que bom que, pelo menos em algum momento, outros vão discutir a desigualdade evidenciada pelo protesto e, quem sabe, vão olhar para o real problema. Não é só uma gesto durante um jogo. É muito mais do que isso.