Nos últimos dias, a NFL tem vivido momentos de muitas críticas. Após o último caso de violência doméstica com o kicker do New York Giants, Josh Brown, e a insatisfação dos jogadores pelo controle nas comemorações depois de grandes jogadas, muitos nomes importantes da Liga tem mostrado insatisfação.

Richard Sherman, cornerback do Seattle Seahawks, escreveu em sua coluna semanal no The Players Tribune sobre o assunto, mostrando uma visão bem crítica sobre a política da Liga.

"Vocês viram o que Andrew Hawkins (do Cleveland Browns) fez após marcar contra o Patriots recentemente? Foi uma das melhores comemorações pós-touchdown que vi nos últimos tempos. Ele pegou um passe no canto da end zone para empatar o jogo e prontamente colocou a bola no gramado, ficou com postura de soldado e marchou para longe como um robô.

Não quero dizer que ele fez uma dança de robô para comemorar — ele literalmente só se afastou como um robô.

Achei hilário porque, do jeito que está, pela brincadeira, é verdade. É isso que a NFL quer, certo? Quer que os jogadores que marcam um touchdown entreguem a bola para o juiz e saiam andando. Que ajam naturalmente. O que é só mais um exemplo da inconsistência — e, de certa forma, da hipocrisia — da NFL.

Antonio Brown não pode rebolar depois de um touchdown porque é “sexualmente sugestivo”. Mas todo domingo, em quase todas as laterais, há uma fila de cheerleaders fazendo o mesmo tipo de movimento para entreter a torcida.

A NFL não quer que os jogadores façam nada que possa servir de exemplo ruim para as crianças na audiência — como entretenimento ou celebrar excessivamente — e ainda assim coloca propagandas de cervejas em todos os seus estádios e em quase todos os intervalos comerciais. Josh Norman (do Washington Redskins) não pode atirar um arco e flecha imaginário depois de uma grande recepção porque a NFL diz que retrata um “ato violento”. Enquanto isso, o nome do time que ele joga retrata os nativos americanos de uma forma que muitos consideram ofensivo.

Não é surpreendente. A NFL é inconsistente com muitas coisas que faz. Digo, muitas pessoas não conseguem nem explicar o que uma catch (no português, recepção), quer dizer na nossa língua. As regras ficaram tão confusas e complicadas que quase não faz mais sentido. Até as pessoas que são pagas para tomar as decisões têm dificuldade para aplica-las.

(Foto: MESSERSCHMIDT/AP)
(Foto: MESSERSCHMIDT/AP)

O fato de que uma coisa tão simples quanto dizer que uma recepção foi uma recepção virou tão complicado não inspira confiança na habilidade da Liga de lidar com problemas mais sérios.

Com certeza, nessas últimas semanas a NFL tem lidado com um problema muito sério: o primeiro caso grande de violência doméstica desde Ray Rice (ex-jogador do Baltimore Ravens).

Se você lembra, depois do incidente de Ray Rice — e depois que a NFL admitiu que fez cometeu um “erro crucial” em como lidou com isso —, a Liga fez mudanças em sua política de violência doméstica. Para evitar que o erro se repetisse, a NFL declarou que qualquer jogador que violasse a política de conduta pessoal sobre violência doméstica seria suspenso por seis jogos.

Mas então, quando o kicker do Giants, Josh Brown, recentemente foi pego violando essa política, a NFL o suspendeu por apenas um jogo.

Veja, o que algumas pessoas não notaram sobre a nova política de conduta pessoal é que nela estava a estipulação de que a NFL tinha direito de impor uma suspensão maior ou menor dependendo das circunstâncias do incidente.

Então, basicamente, não há nova política. A NFL pode fazer o que quiser. Eu simpatizo com a NFL em um grau. Problemas como a violência doméstica são difíceis de legislar. Não existem casos iguais, o que pode deixar a aplicação das regras complicada. Nós lutamos em nossa sociedade como um todo contra vários problemas parecidos, então cobrar alguma coisa a mais da NFL é provavelmente injusto.

Mas enquanto é difícil aplicar ações disciplinares em casos de violência doméstica, é impossível fazer isso quando não há política clara ou padrão, o que a Liga não tem.

A realidade é que a Liga diz que não há lugar para a violência doméstica na NFL. Suas ações nos casos recentes, entretanto, simplesmente não refletem isso. É só mais um motivo pelo qual os jogadores não confiam muito na Liga. Eles dizem uma coisa — tipo como levam a violência doméstica a sério — mas quando precisam agir, fazem outra coisa.

(Foto: BOB ROSATO/SI/GETTY IMAGES_)
(Foto: BOB ROSATO/SI/GETTY IMAGES_)

Acho que se a NFL fosse assim, seríamos todos robôs. Nós seríamos seres humanos perfeitos fora do gramado para que a Liga não precisasse lidar com outros pesadelos, e todos sorririam e acenariam e entregariam a bola ao juiz depois de um touchdown ou uma grande jogada.

A parte engraçada é que, se a NFL fosse realmente assim, perderíamos o que torna esse jogo maravilhoso. Perderíamos o que traz os fãs ao esporte.

Nós jogamos um jogo. Parte da alegria em assistir esse jogo é ver a emoção a tela. Ver a paixão. Se as pessoas não jogassem com paixão e só fossem lá jogar normalmente, acho que as pessoas parariam de assistir.

Já estamos vendo isso. As audiências da TV estão baixas e acho podemos colocar a NFL impondo regras na emoção do jogo como um dos fatores. A NFL está forçando políticas contra comemoração. Contra alegria. Contra o divertimento. É uma coisa que sei que muitos jogadores se sentem frustrados e parece que os torcedores também estão.

Agora a Liga está colhendo o que plantou.

Parte do problema é porque os jogadores estão ouvindo de um grupo de pessoas que nunca estiveram nessa posição que devem "agir naturalmente" — incluindo Roger Goodell. Também acredito que uma das coisas que precisam acontecer é que Roger Goodell deve perder um pouco de seu poder. Ele não é um ser onipresente, onipotente e todo poderoso. Ele é um humano e acho que precisa de ajuda para lidar com os problemas da Liga — desde conduta antidesportiva até violência doméstica.

Decisões neutras resolveriam muitos problemas da NFL. Como se houvesse uma terceira parte para tomar decisões — alguém que não jogou e sem escudo protetor  — para tomar decisões em multas e suspensões, acho que veríamos um grau de objetividade maior. Deveria haver um comite de ex-jogadores e treinadores para as ações dentro de campo e um plantel de especialistas para os problemas de fora.

O verdadeiro problema com a NFL é a falta de um sistema de acertos e balanciamento.

O comissário simplesmente tem muito poder.

No fim, os torcedores não querem assistir robôs. Eles querem assistir jogadores se divertindo e mostrando emoções. Estou com eles. Acho que o que eles também querem é que a Liga seja consistente com a disciplina. Que seja transparente. Que faça o que diz que fará e que use um pouco de senso comum.

Não acho que seja pedir muita coisa".