Após o final da última temporada, Jorge Fernando Pinheiro de Jesus passou a ser diariamente criticado. Sim, mais do que já era. A mídia portuguesa e principalmente boa parte dos adeptos do Benfica criticaram fortemente o desempenho do técnico na última temporada, mesmo tendo disputado duas finais de duas grandes competições e sendo vice no campeonato nacional. Para quem não acompanha o futebol português, estes resultados poderiam simbolizar um ótimo trabalho que foi realizado por Jesus. De fato, no papel, o Benfica fez uma boa temporada. Porém o que mais enraivece os torcedores da capital portuguesa é o fato de ter chegado tão perto destas conquistas e não terem vencido quando mais precisavam, justamente quando estava valendo a taça. Porém, o que mais incomoda o torcedor do Benfica é a forma da qual o time perdeu estes três títulos. Foi extremamente dolorosa para o torcedor, e é claro que Jesus receberia a culpa pelos fiascos.

A primeira das três dolorosas derrotas do Benfica foi contra seu maior rival, Porto, pela Liga Sagres. Naquela altura do campeonato - penúltima rodada da competição, o Benfica liderava com dois pontos a frente do arquirrival. Até o jogo no Dragão, pela 29ª rodada. Se o Benfica vencesse, era campeão português com uma rodada de antecipação. Mas falhou. Até os 47 minutos do segundo tempo, os benfiquistas estavam empatando o jogo por 1 a 1, resultado que servia para o time de Lisboa, quando o jovem brasileiro Kelvin, que havia entrado recentemente, recebeu boa bola e marcou o gol que decretou a primeira derrota do Benfica no campeonato (justo na penúltima rodada) e que fez o Porto passar os encarnados na classificação.

Consequentemente, os portistas colocaram praticamente as duas mãos na taça, e tornaram a missão do Benfica vencer a Liga quase impossível - o Porto só dependia de si mesmo para vencer o último jogo da Liga, que era contra o surpreendente Paços de Ferreira, fora de casa. Missão não tão fácil para os portistas, mas o clube azul e branco não decepcionou, entrou muito motivado e levou a taça. Já o Benfica viria a vencer o seu último jogo na Liga, mas de nada adiantou. E de quebra, antes deste último jogo, os benfiquistas sofreriam mais um baque forte.

A segunda das três grandes derrotas do Benfica ocorreu quatro dias depois de perder a Liga para o Porto. Depois de cair na Liga dos Campeões ficando com o terceiro lugar, o Benfica seguiu para a Liga Europa focado em conquistá-la. As águias precisavam muito desta conquista. Depois de um jogo contra o Marítimo pela Liga Sagres, o Benfica teria a difícil missão de reverter um placar mínimo, porém desfavorável, contra o Fenerbahçe. Mesmo com a desvantagem, torcida e clube jogavam juntos, a sintonia era muito forte. Mais uma vez, quando Jesus pediu...

... e a torcida, apaixonada torcida, não deixou de apoiar. Os benfiquistas lotaram a Luz e fizeram uma festa maravilhosa. O Benfica venceu por 3 a 1 e estava na final da competição continental.

Naquela altura, contra o Fenerbahçe, o Benfica realizava uma "ótima" temporada, na visão dos torcedores. Pois liderava a Liga Sagres, avançava na Taça de Portugal e estava perto da finalíssima da Liga Europa. Eram dias felizes para o esperançoso torcedor benfiquista, mas na final, mais uma queda. Na decisão da Liga Europa, contra o Chelsea, em jogo disputado na Amsterdam ArenA, mais um 1 a 1 até os últimos minutos de jogo... quando a partida iria entrar nos acréscimos, Ivanovic marcou para o Chelsea de cabeça e selou mais uma decepção para os benfiquistas, agora a nível continental.

Já a terceira derrota doída para o torcedor do Benfica talvez tenha sido a que mais tenha mexido com os sentimentos do torcedor. Provavelmente o torcedor benfiquista tenha sentido, após aquela partida, mais ira do que tristeza. Desta vez, contra o Vitória de Guimarães pela final da Taça de Portugal, o Benfica tentou juntar os cacos das últimas duas derrotas e fechar a temporada com um título de consolação, mas não foi o que ocorreu. O Benfica não sofreu gols perto dos acréscimos, mas mais uma vez, tomou gols quando a partida já se encaminhava para o seu fim. Sim, gols, não apenas um, como contra o Porto e Chelsea. Até os 34 minutos do segundo tempo, a equipe benfiquista vencia a partida por 1 a 0, gol de Gaitán ainda na primeira etapa. Porém, aos 37, já perdia por 2 a 1. Com dois gols relâmpagos, de Soudani e Pereira, o Benfica mais uma vez foi derrotado em uma final que disputara, mais uma vez por 2-1. E desta vez a raiva tomou conta não só da torcida, como também de Óscar Cardozo, avançado da equipe de Lisboa. Após o apito final desta decisão, Cardozo foi para cima de Jesus, inconformado por ter sido substituído, e o agrediu. Inclusive os jogadores do Benfica tiveram que segurá-lo, caso contrário o paraguaio iria para cima do técnico novamente.

Depois de três decepcionantes decisões, a torcida do Benfica e algumas pessoas de dentro do clube pediram, enlouquecidamente, a cabeça do técnico. É neste momento que surge a pergunta: se os adeptos querem uma renovação, qual seria o nome apropriado para assumir o lugar de Jesus? Será que o clube estaria preparado para se adaptar a uma nova filosofia? Não perderia uma temporada inteira com isto? Será que os torcedores teriam paciência para uma temporada de adaptações, ou pediriam a saída do técnico logo após mais uma temporada na Liga perdida, mais uma vez, para seu arquirrival?

A ira do benfiquista contra o treinador de seu time é compreensível. Eu diria até que normal. Mas acredito que o torcedor deveria ter mais paciência com Jesus. Sim, é muito difícil, mas é necessário. Aprendi isso depois da última temporada do Bayern de Munique, clube alemão que atualmente é campeão de tudo. Quando a temporada 2011/2012 do Bayern acabou, o clube da Baviera havia conquistado três vices - igual o Benfica. Vice da Champions League, vice da Copa da Alemanha e vice da Liga da Alemanha. Jupp Heynckes, na época treinador do Bayern, recebeu grande parcela da culpa pelos fiascos bávaros, inclusive colocou seu cargo a disposição da diretoria bávara, que acreditou no experiente técnico e o deixou por mais uma temporada no comando. O resultado? Hoje ele é considerado pelos torcedores do Bayern uma lenda viva. Heynckes deu para o Bayern uma inédita tríplice coroa, venceu a Champions League, a Copa da Alemanha e a Bundesliga da temporada 2012/2013, e de quebra faturou também a Supercopa alemã. O segredo do sucesso foi ter um elenco focado em vencer e mais um voto de confiança em seu trabalho. Os frutos foram colhidos.

O Benfica não é um clube grande, é gigante. Por isso que a cobrança para cima do treinador é mais do que compreensível. Porém, como aconteceu no Bayern, eu acredito que o que Jesus necessita hoje no Benfica é de mais um voto de confiança.