Islândia, um país pequeno, sendo descoberto pelo mundo nos anos 2000 por suas belezas naturais, culturas bem preservadas e por ser bem exótico em diversos aspectos. Dizem que o povo islandês fica feliz quando vê um turista indo conhecer sua nação tão pequena, silenciosa e calma. Adjetivos estes que não estão sendo preservados no mês de junho dentro e fora de seu território. E isso se explica porque os 8% da população que viajaram para a França para acompanhar a Seleção Islandesa na Eurocopa estão fazendo a festa mais bonita e barulhenta que se pode ter conhecimento nos últimos tempos em futebol internacional. Os outros 92%? Fazem dentro de casa e nas ruas do país a mesma coisa, perturbando quem foi para o lugar mais silencioso do mundo para usufruir de tal qualidade.

O mundo, contudo, está conhecendo o futebol islandês apenas agora na Eurocopa, depois que muito esforço, trabalho e organização a longo prazo estão sendo recompensados. O país iniciou uma revolução pequena para a sua estrutura futebolística depois que o craque Eidur Gudjohnsen vestiu a camisa do Barcelona ao lado de estrelas como Ronaldinho Gaúcho e outros. Na verdade, ele foi o primeiro fruto de uma tentativa de crescimento.

Essa pequena revolução ganhou seu primeiro triunfo competitivo nas Eliminatórias da Copa do Mundo do Brasil. Um time que sempre ficou nos últimos lugares nos grupos por onde passava, sendo tratada como ‘saco de pancadas’, acabou indo longe pela primeira vez. Depois de cair num grupo com Suíça e Eslovênia, terminou na segunda posição, com 17 pontos, um a mais que a Eslovênia e sete a menos que os líderes suíços. Na repescagem, porém, perderam para a Croácia, que veio e caiu no grupo do Brasil.

União sempre foi algo comum no país (Foto: Craig Mercer/Getty Images)
União sempre foi algo comum no país (Foto: Craig Mercer/Getty Images)

Um time que sempre fora unido, bem disposto taticamente e com um ponto forte em bolas paradas ganhou um embalo a mais para então tentar novamente, nas Eliminatórias da Eurocopa deste ano. Dessa vez, porém, não teve bola na trave. Liderou o grupo até a última rodada e com o luxo de ter conseguido a vaga antecipada para a competição. Terminou em segundo porque perdeu na última rodada para a Turquia, mas mesmo assim iria para a França. E a festa começara, pois pela primeira vez na história a pequena Islândia disputaria algo oficial.

História. Quem diria que um ‘primeira vez na história’ viraria um ‘fazendo história’? Uma questão que parece não ter resposta. Para o mundo. Os islandeses sabiam e sabem responder essa pergunta, porque eles entendiam que essa história iria acontecer. Uma entrevista antes da Eurocopa com um islandês para o canal Youtube Copa90 mostrava isso. Quando perguntado até aonde ele achava que sua seleção iria, ele foi bem enfático na resposta.  “Por que não ganhar?”, disse. “E digo isso porque para morar na Islândia você tem que ter uma mentalidade forte, e acho que essa será a principal força da nossa equipe”, acrescentou.

É certo que o time da Islândia não é superior tecnicamente a times como Inglaterra, Alemanha ou até mesmo Croácia, e o seu principal jogador atua num clube intermediário da Premier League. Poderia surpreender num grupo com Portugal, Hungria e Áustria, mas não sobreviveria contra uma seleção como a Inglaterra, correto? Errado. A mentalidade mais forte prevaleceu, assim como a força defensiva, a estratégia mais adequada e a importância de entender o seu lugar e querer algo mais. A Inglaterra subestimou a Islândia e isso foi levado como um insulto.

O torcedor previu o que iria acontecer antes do mundo conhecer o futebol islandês. Eles até podem não vencer o campeonato, mas esses jogadores certamente irão receber o tratamento que os vikings recebem em seu país: respeito e serão levados como heróis.

Mas é preciso ressaltar que essa Islândia não é tão surpreendente assim. Como dito, é um trabalho que foi iniciado há alguns anos, com expectativas de conquistar alguma coisa em longo prazo e uma classificação para um torneio oficial estaria de bom tamanho. E quando um projeto é levado a sério, com organização e paciência, ele alcança os objetivos traçados mais cedo ou mais tarde. Certamente ele veio um pouco mais tarde do que deveria, porque a ideia seria ir para a Copa do Mundo de 2014.

Que fique esse exemplo para outras nações pequenas e grandes, que passam por dificuldades e tentam se erguer. Certas entidades poderiam levar isso como uma lição para começar do zero, depois de passar por alguns vexames.

O que fica pelos apaixonados pelo futebol é o agradecimento. Obrigado, Islândia, por preservar e respeitar tão bem a sua cultura, por ser valente e se impor para cima de gigantes, por não esquecer o seu lugar, por ousar. Mas, acima de tudo, obrigado por nos ensinar que podemos ser grandes mesmo sendo tão pequenos.

Você já é a grande vencedora da Euro, não importa o que aconteça daqui para frente. 

Foto: Tobias Schwarz/Getty Images
Seja muito bem-vinda ao mundo do futebol, Islândia (Foto: Tobias Schwarz/Getty Images)