Nesta quarta-feira (13) o Borussia Dortmund recebe o Bayern de Munique no Westfalenstadion, para a disputa da DFL-Supercup. Será a terceira vez seguida em que os times se enfrentam pela competição que abre a temporada, a segunda seguida em Dortmund. O clube aurinegro deseja uma temporada melhor que a anterior, tanto que investiu cirurgicamente no mercado de transferências, com todas as contratações prometendo ter um impacto imediato no time.

Enquanto Jürgen Klopp se desdobra para encontrar o melhor esquema em campo, a fim de potencializar as qualidades de seu elenco, olhar para a temporada passada é um bom começo para não permitir que os mesmos erros e problemas voltem a se repetir.

Início de temporada inspirador

Após o vice-campeonato da Uefa Champions League em 2013, o objetivo do Dortmund era consolidar sua posição de destaque no cenário europeu. Para isso, o clube trouxe o gabonês Aubameyang e o armênio Mkhitaryan, contratação mais cara da história do clube. Nos primeiros amistosos de pré-temporada, o time prometia ser tão incisivo quanto fora na temporada anterior. Um camisa 10 mais qualidades ofensivas e um ponta mais veloz, era a promessa de que os conhecidos contra-ataques do time comandado por Jürgen Klopp seriam mais mortais.

Mkhitaryan sai acompanhado pelo Dr. Markus Braun após lesionar-se em amistoso contra o FC Basel (Foto: Schwatzgelbe.de)

Tudo se desenhava bem até que em amistoso contra o FC Basel no St. Jakobs Park, Mkhitaryan torce o tornozelo e precisa passar quatro semanas ausente do time. Justamente na época em que o Borussia Dortmund faria o tradicional acampamento de treinos em Bad Ragaz . Com isso, o volante Gündogan, que estava em sua melhor forma na carreira, foi avançado para a faixa central e permitiu que Sahin fosse promovido a titular. A segunda necessidade de improvisação, já que o meia-esquerdo Grosskreutz fora recuado para a lateral-direita, já que Piszczek se recuperava de cirurgia no quadril (ele só voltaria em janeiro de 2014), começou a alertar o torcedor aurinegro para um problema que seria escancarado nos meses seguintes: o abismo de qualidade técnica entre reservas e titulares.

A promoção de Jonas Hofmann do time sub-23 para o elenco principal amenizou o problema de elenco, e o garoto começava a se mostrar como uma potencial substituição de impacto, uma arma para Jürgen Klopp utilizar nos momentos difíceis. Contra o SV Wilhelmshaven, pela abertura da DFB-Pokal, o time teve dificuldade por 74 minutos até conseguir abrir o marcador. Já no jogo da Supercopa da Alemanha, uma atuação absurda de Gündogan, uma das melhores em sua carreira, fez com que o time vencesse o Bayern por 4 a 2, conquistando o que seria o único título da temporada. Esse jogo disputado 62 dias após a derrota na final da Uefa Champions League serviu como afirmação moral para o clube. Algo do tipo: “Sim, perdemos nosso principal jogador mas ainda podemos competir contra eles”. A partir daí, um início com vitórias nas cinco primeiras rodadas da Bundesliga contra Augsburg, Braunschweig, Werder Bremen, Eintracht Frankfurt e Hamburgo causavam diferentes impressões. O problema de Gündogan, inúmeras chances de gol perdidas e problemas defensivos mostravam que apesar das vitórias, o time aurinegro teria muitos problemas na temporada.

Partida mágica de Gündogan deu título da Supercopa de 2014 ao BVB (Foto: Schwatzgelbe)

A sequência de vitórias acabou quando o Borussia Dortmund estreou na Champions League contra o Napoli no Stadio San Paolo. Um gol de cabeça de Higuaín numa jogada de bola parada em que ele era marcado por Schmelzer, mostrava que o problema defensivo do Dortmund era gravíssimo, além de um belíssimo gol de falta de Insigne. Um time que na temporada anterior ficou invicto até perder as duas últimas partidas, começava já na primeira com derrota, era algo a se preocupar.

Bola aérea foi um dos problemas defensivos do BVB na temporada (Foto: Schwatzgelbe.de)

Os problemas defensivos dos aurinegros

Enquanto isso, Hummels já não se mostrava o mesmo zagueiro dos tempos anteriores, sofrendo com pequenas lesões e sendo superado nas atuações por seu companheiro Subotic, como destaque do setor defensivo do Dortmund. Nas laterais, Schmelzer e Grosskreutz eram facilmente rendidos pelos adversários em tabelas e jogadas individuais, havia um problema no apoio aos dois. Entretanto, o principal problema defensivo do time de Jürgen Klopp até o momento era que nenhum zagueiro conseguia sobrepor o adversário em bolas aéreas e jogadas de bola parada. Para levar perigo ao gol aurinegro, era basicamente arrumar uma falta ou cruzar bola na área que os próprios zagueiros “criavam” a situação de perigo. Até a nona rodada da Bundesliga, o Dortmund era o time alemão que mais havia sofrido situações de perigo de gol com esse tipo de jogada, e Klopp simplesmente não conseguia solucionar o problema.

Gegenpressing apresentou sinais de falha com a ausência de Gündogan

O estilo incisivo de pressionar o time adversário em busca de roubar a bola ainda no campo de ataque, batizado de gegenpressing pela imprensa alemã, foi o responsável por dar três títulos ao Borussia Dortmund (duas Bundesliga e uma DFB-Pokal) e fazer com que o time fosse notado pelo resto da Europa. Entretanto, no início da temporada 2013/2014, esse método já não funcionava tão bem como nos anos anteriores.

Primeiramente, a ausência de Gündogan fez com que Nuri Sahin precisasse ser solução imediata como segundo volante, em apoio a Mkhitaryan e Marco Reus na criação das jogadas de ataque. O melhor jogador da Alemanha na temporada 2010/2011 estava de volta ao clube que o formou, após não conseguir jogar pelo Real Madrid e pelo Liverpool devido às frequentes lesões. Isso despertou no torcedor de Dortmund uma memória afetiva das belíssimas atuações que consagraram o jogador turco. Entretanto, sem ritmo de jogo, o atleta não foi capaz de demonstrar em campo o mesmo nível de atuação, e a equipe como um todo sentiu isso.

Sahin teve dificuldades para substituir Gündogan à altura (Foto: Schwatzgelbe.de)

O Borussia Dortmund apresentava problemas de marcação na saída de bola, que já não era tão eficiente como nos anos anteriores, e a criação das jogadas sofria com a limitação física de Sahin, que aos poucos adquria ritmo de jogo. Além disso, Jürgen Klopp não conseguia potencializar as principais qualidades de seus novos contratados: Mkhitaryan não finalizava com a mesma eficiência que o fez brilhar no Shakhtar Donetsk e Aubameyang raramente recebia bolas em velocidade, e o time todo perdia gols em demasia. O Dortmund tinha um ponta velocista que nunca era lançado em profundidade. Ainda assim, estes jogadores conseguiam lampejos de boas atuações, principalmente Aubameyang, que marcou gols importantes no início da temporada.

O drama de Gündogan

Após a temporada de 2012/2013, o volante Ílkay Gündogan se tornou um dos destaques do Borussia Dortmund devido a grandes atuações no jogo de ida da semifinal da Uefa Champions League contra o Real Madrid, e na final da mesma competição, contra o Bayern de Munique.

Já na temporada 2013/2014, o volante foi obrigado a atuar como camisa 10 devido a lesão de Mkhitaryan no início da temporada, e mesmo assim correspondeu. Uma atuação mágica contra o Bayern de Munique, já mencionada, seguidas de jogos contra o Wilhelmshaven pela DFB-Pokal e o jogo de estreia na Bundesliga contra o FC Augsburg. Essas seriam as únicas três partidas oficiais de Gündogan na temporada, pois aos 28 minutos do primeiro tempo do jogo Alemanha - Paraguai no dia 27 de agosto de 2013, o jogador deixou o campo do Fritz-Walter Stadion em Kaiserslautern sentindo dores nas costas.

O que se passou desde esse jogo foi um verdadeiro mistério para todos. O jogador não foi visto por muito tempo no centro de treinamentos de Brackelsberg, e o clube não fazia a menor questão de esclarecer o que estava havendo com Gündogan. O prazo inicial era que o jogador estaria disponível na metade de setembro de 2013, e a situação foi se arrastando indefinidamente até que o ele ficou de fora da Copa do Mundo de 2014.

Ao decorrer da temporada, a imprensa descobriu que o atleta sofria de uma doença crônica chamada espondilolistese, algo como uma fratura em uma das vértebras da coluna lombar acrescentada de um pequeno desvio. O diagnóstico oficial era de inflamação constante de um dos nervos dessa região das costas do jogador. O Borussia Dortmund evitou o procedimento cirúrgico, submetendo o atleta a constantes sessões de fisioterapia que nunca davam resultado.

Ao final da temporada de 2013/2014, Gündogan voltou a Dortmund, renovou contrato por 1 ano e contou o que se passou no tempo de sua ausência. O jogador se internou em clínicas de reabilitação para pessoas com problemas motores e em um hospital militar na Ucrânia. O Borussia Dortmund chegou à conclusão de que era necessário a intervenção cirúrgica. Atualmente, o jogador já treina individualmente com bola e tem retorno aos gramados previsto para o início do mês de setembro.

Os primeiros tropeços na temporada

Voltando no tempo depois do drama pessoal de Gündogan, o Borussia Dortmund venceu suas 7 primeiras partidas da temporada e teve o primeiro revés justamente na estreia da Champions League contra o Napoli. A partir de então, mais dois resultados negativos: um empate fora de casa contra o Nuremberg e uma derrota para o Borussia Mönchengladbach no Borussia-Park permitiram que o Bayern tomasse a frente na tabela da Bundesliga, e o Dortmund não seria mais capaz de alcançá-lo.

Mas nesse período de temporada também se destacaram vitórias importantes, como o Revierderby contra o Schalke 04, seu arquirrival e também contra o Arsenal fora de casa, em que o time contou com o brilhantismo de Lewandowski apesar da má atuação do conjunto. No clássico contra o Schalke na Veltins-Arena, destaca-se a potência ofensiva como o time tratou a partida, e com direito a pênalti defendido por Weidenfeller.

Weidenfeller defende pênalti de Boateng em derby contra o Schalke (Foto: Schwatzgelb.de)

A sina das lesões compromete definitivamente as ambições da temporada

O excesso de lesões foi o principal problema do Dortmund na temporada 2013/2014, mas não o único, como será explicado posteriormente. Ainda assim, elas ocorreram com frequência, principalmente a partir da derrota em casa para o Arsenal. Em dado momento da temporada, o Borussia Dortmund chegou a contar com 8 jogadores no departamento médico, a maioria deles titulares importantíssimos. Reus, Schmelzer, Hummels, Bender, Sahin e Kehl viram-se lesionados constantemente nesse período. Além de duas lesões gravíssimas além do misterioso caso de Gündogan. Primeiro Subotic, que sofreu ruptura do ligamento do joelho no jogo fora de casa contra o Wolfsburg no dia 9 de novembro de 2013. Com Hummels também fora, o Borussia Dortmund se viu obrigado a contratar um zagueiro às pressas. E o fez trazendo Manuel Friedrich, que até o momento estava aposentado. O jogador teve passagem pelo Bayer Leverkusen e também pelo Mainz 05, na época em que o Jürgen Klopp treinava o time vermelho.

Com uma zaga totalmente desentrosada, o Borussia Dortmund perdeu uma sequência longa de jogos na Bundesliga, somando pelo fato de ter que concentrar forças para passar de fase na Uefa Champions League, começando pelo Wolfsburg, para o Bayern em casa por 3 a 0, para o Bayer Leverkusen e para o Hertha Berlin, além de ter empatado jogos contra o Augsburg e o Hoffenheim. Ao todo, o Borussia Dortmund somou apenas 5 pontos em 7 jogos, despencando para o quarto lugar na tabela.

Subotic sendo carregado após lesão que o tirou da temporada (Foto: Reprodução/Twitter)

Apesar disso, o Borussia Dortmund conseguiu vitórias importantes na Champions League nas duas últimas rodadas: contra o Napoli em casa e a emocionante vitória contra o Olympique de Marseille no Vèlodrome, com gol de Grosskreutz aos 87 minutos de jogo, sagrando a classificação da equipe no primeiro lugar do grupo F.

Devido a quantidade de lesões nesse período, Klopp teve que apelar para o jovem zagueiro Marrian Sarr de 18 anos, para compor a zaga no jogo final contra o Marseille. Aquela altura da temporada, tudo o que o torcedor do Dortmund queria era que chegasse logo a pausa de inverno e o time conseguisse se recuperar minimamente das lesões, a fim de conseguir boas campanhas na Champions League e na DFB-Pokal, por que o título na Bundesliga já estava completamente fora de questão.

Alguns titulares voltaram na pausa de inverno, mas o clube aurinegro não estava livre da sina das lesões: no dia 25 de janeiro de 2014, logo na primeira rodada do ano, foi a vez de Jakub Blazczykowski se lesionar gravemente. Mais uma lesão de joelho e mais um jogador fora da temporada.

Kuba rompe ligamentos do joelho em partida contra o Augsburg (Foto: schwatzgelb.de)

Recuperação tardia na Bundesliga e Eliminação na Champions League

Quando o elenco do time aurinegro se viu mais completo na medida do possível, as vitórias foram saindo em quantidade suficiente para colocar o time novamente na vice-liderança da Bundesliga e o classificar a mais uma final de DFB-Pokal. Na parte final da temporada, na competição doméstica, o BVB foi derrotado apenas pelo Hamburgo no dia 22 de fevereiro e pelo Borussia Mönchengladbach no dia 15 de março. No mais, apenas empates contra Schalke e Leverkusen, fazendo com que o time encerrasse a temporada na segunda colocação, com 71 pontos. Em temporadas anteriores, essa pontuação seria suficiente para que o Dortmund levantasse mais uma Salva de Prata na sua história, mas o Bayern sagrou-se campeão com um total de 90 pontos, desperdiçando pontos apenas 5 vezes (3 empates e 2 derrotas), ao contrário do Dortmund, que o fez 12 (5 empates e 7 derrotas).

Já na Uefa Champions League, o Borussia Dortmund começou bem o mata-mata com uma vitória por 4 a 2 contra o Zenit na Rússia, que praticamente assegurou a classificação. Na volta, uma derrota por 2 a 1 colocou o time nas quartas-de-final da competição pela segunda vez seguida depois de 16 anos.

Marco Reus foi a estrela do final de temporada do Dortmund (Foto: Schwatzgelb.de)

Já o confronto contra o Real Madrid foi o pior cenário possível para o Dortmund, que não poderia contar com 8 jogadores dos que participaram da vitória por 4 a 1 na semifinal da temporada anterior, 5 lesionados (Subotic, Schmelzer, Bender, Gündogan, Blaszczykowski), 1 transferido (Götze) e 1 suspenso, Lewandowski, autor dos quatro gols na inesquecível semifinal de 2013. Uma derrota na ida no Santiago Bernabéu por 3 a 0 em uma atuação pífia do time dificultou as coisas, entretanto, numa atuação magnífica de Marco Reus, o Borussia Dortmund ficou a apenas um gol de levar o confronto para a prorrogação, parando em gols perdidos por Mkhitaryan, Grosskreutz e Hummels, além de defesas magníficas de Casillas.

Gol anulado na final da Copa da Alemanha e fim amargo de temporada

A final da DFB-Pokal de 2014 no dia 17 de maio era a última chance de título para o Dortmund na temporada, e era muito desejada pelos torcedores e time. Contra novamente o Bayern de Munique e dessa vez em Berlin. Em um primeiro tempo muito estudado, os times ficaram no 0 a 0. Aos 66 minutos o lance capital: escanteio na área, a bola foi escorada por Reus e cabeceada pro gol por Hummels. Com o pé de apoio em cima da linha, Dante tirou a bola e o árbitro da partida não validou o tento legítimo dos aurinegros. No restante do jogo, o Bayern fez valer a força de seu elenco numeroso e venceu o Dortmund com dois gols no segundo tempo da prorrogação, marcados por Arjen Robben e Thomas Müller.

Após 120 minutos, Dortmund foi novamente derrotado pelo Bayern em uma final (Foto: Schwatzgelb.de)

O fim de temporada aurinegro acabou sendo amargo após uma derrota na final com direito a erro de arbitragem, mas o time conseguiu classificação para a próxima Uefa Champions League, na qual deverá ser sorteado no pote 2 do sorteio da fase de grupos.