Xavi Hernández é um daqueles jogadores que marca o futebol para sempre. Ídolo no Barcelona, clube que o moldou como atleta, o meio-campista, de 36 anos, defende atualmente o Al-Sadd, do Catar, onde se prepara para encarar a prancheta após pendurar as chuteiras. O desejo de virar treinador é tanto que, embora tenha ainda mais uma temporada para disputar antes do fim de seu contrato junto ao Al-Sadd, o jogador concedeu entrevista ao jornal italiano Gazzetta dello Sport e fez uma análise minuciosa sobre a Seleção Italiana e a Seleção Espanhola, quem se enfrentam nesta segunda-feira (27) pelas oitavas de final da Eurocopa.

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Com duas Eurocopas (2008 e 2012) e uma Copa do Mundo (2010) no currículo pela Espanha, Xavi acredita que italianos e espanhóis farão um grande duelo em Saint-Denis. O meio-campista afirmou que ambas as seleções irão se manter fiéis a seus princípios: a Itália, abdicar da posse de bola; a Espanha, controlá-la.

Vai ser um jogo muito atraente. A Espanha vai assumir o domínio do jogo porque a Itália está à vontade sem a bola. Então, quando eles a recuperarem, é capaz de jogar de forma sensata”, disse. “No entanto, a posse não é prioridade dos italianos. A Espanha sofre quando não tem a bola, enquanto a Itália, não; eles ficam tranquilos. Essa é a grande diferença entre as duas equipes. Honestamente, em termos de filosofia, caráter e competitividade, eu acho que a Itália é o rival mais desconfortável que existe para a Espanha”, completou.

Xavi é símbolo de uma seleção adepta da posse de bola
Xavi é símbolo de uma seleção adepta da posse de bola                     

Xavi rasgou elogios à Seleção Italiana de Antonio Conte. O jogador pontuou que Cesare Prandelli, técnico que renunciou ao cargo de técnico da Azzurra após a eliminação na primeira fase do Mundial de 2014, introduziu um estilo de futebol moderno à seleção que foi consolidado por Conte, usando métodos aplicados em seu ex-clube, a Juventus.

Eu acho que houve uma evolução decisiva na passagem de Donadoni para Prandelli. Conte, então, continuou o trabalho. A Itália de 2008 esteve mais perto de seu modelo clássico, fechando a defesa e explorando contra-ataques. Agora, eles sabem como manter a bola sob seu domínio também. Agora, os italianos são muito capazes. Mas temos que ver, porque a posse de bola não é o principal objetivo da Itália. Para eles, ter ou não ter a controle da bola é tudo a mesma coisa. Mas se decidirem jogar, eles têm os elementos para fazê-lo”, começou.

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Tirar a bola de De Rossi, Motta, Parolo ou Giaccherini não é tarefa fácil. E devemos ter em mente que eles perderam jogadores fundamentais como Verratti e Marchisio. Eu acho que a Itália moderna, em termos de futebol, teve origem com Prandelli. Conte acabou aplicando a filosofia da Juventus. A equipe fica confortável com e sem a posse da bola, defendendo profundamente e jogando a partida de acordo com seus adversários. Eu vejo a Itália de Conte como um mix entre Barcelona e Atlético de Madrid. E também há o seu DNA histórico, eles sabem a hora de correr ou lutar”, analisou.

Xavi também comentou sobre tática. Ele prevê dificuldades para a Espanha quando for enfrentar a Itália, já que o time de Vicente del Bosque sofre quando encontra equipes armadas no 3-5-2. “O 3-5-2 é o sistema mais complexo para um adversário que quer pressionar na frente. Quando a Itália quer levar a bola ao ataque, eles têm três jogadores na defesa e dois nos flancos do campo, formando um total de cinco potenciais receptores da bola. Pressionando o caminho que a Espanha gostaria de fazer se torna realmente difícil”, alertou.

E jogar com dois atacantes torna as coisas mais difíceis para os homens de frente, também, porque os dois zagueiros centrais estão fixos e um dos laterais, Juanfran ou Jordi Alba, não pode subir muito para fechar em Candreva ou Florenzi. Deixa-nos com uma defesa de três homens. Isso nos obriga a mudar de esquema tático para se adaptar ao do adversário, o que só deixa tudo mais complicado. Na Copa do Mundo, no Brasil, Holanda e Chile optaram pelo 3-5-2 e nos causaram dificuldade tremenda”, acrescentou.

Por fim, o eterno camisa 6 do Barça exaltou as atuações da Espanha durante a primeira fase da Eurocopa. A Fúria perdeu a liderança do Grupo D na última rodada ao ser derrotada pela Croácia, mas, para Xavi, o revés não tira o brilho das duas primeiras partidas, onde os espanhóis venceram República Tcheca (1 a 0) e Turquia (3 a 0).

Neste momento, a Espanha é a equipe que joga melhor nesta Euro. Isso é útil, mas é claro que não é nenhuma garantia de vitória. E o trabalho defensivo é excelente, a começar pelos atacantes que fazem um grande trabalho sob pressão na frente. Os adversários não veem muito a bola e, por isso, não podem criar muitas chances contra você. Podemos defender muito bem com a bola, porque a bola é uma só: se você a tem, então seus oponentes podem ser perigosos. O segredo é o trabalho em equipe, a solidariedade entre setores, especialmente quando a bola está perdida. Trabalhar todos os 11 jogadores juntos. Se a pessoa não faz a sua parte, então é aí que começam os problemas, e eles são graves”, explicou o meio-campista, que elegeu Sergio Busquets e Andrés Iniesta – ex-companheiros de Barça – os pilares da Espanha.

Há dois homens que são fundamentais [na Seleção Espanhola], a chave para o sucesso da equipe nacional, e eu não estou dizendo isso porque eles são meus amigos. Trata-se de Busquets e Iniesta. O primeiro traz equilíbrio ao jogo defensivo e quando o time não tem a bola, enquanto o último desestabiliza as coisas no ataque e sua capacidade de organização. Eles são os únicos que carregam o peso da equipe, os dois melhores elementos da Espanha, e disparados”, enalteceu.

Confira, na íntegra, o restante da entrevista de Xavi à Gazzetta:

Parece que estamos destinados e encontrar sempre. E é uma pena para ambos. É um pecado: este jogo veio cedo demais. Poderia ser tranquilamente uma semifinal ou até mesmo uma final porque, considerando o nível médio visto nesta Eurocopa, Itália e Espanha, para mim, eram candidatos à final. Eles fizeram duas belas partidas, cada um com seu estilo. A Espanha fez dois jogos magníficos; a Itália jogou bem com sua formação 3-5-2 que pratica há alguns anos. Talvez eles tiveram um pouco de sorte no resultado, mas a filosofia é ótima. A defesa da equipe de Conte funciona muito bem.

Embora o ataque da Itália não tenha jogadores de classe mundial, Éder e Pellè ainda são jogadores que podem marcar a qualquer momento. E você também tem sempre o recurso da bola parada: De Rossi, Barzagli, Bonucci e Chiellini fazem qualquer bola morta um perigo.

No banco você tem jogadores talentosos, mas a Itália dá prioridade ao trabalho de Pellè e Éder, que são jogadores mais físicos, mais de sacrifício, benefício coletivo e, provavelmente, são escolhidos por causa desses recursos. Então, talvez nos últimos 20 minutos, se houver uma necessidade de mais qualidade em campo, pode entrar pessoas talentosas como Insigne ou Immobile.