O clamor foi grande nos chamados "bandeiraços". Muitas foram as vezes que mais de 100 mil torcedores do San Lorenzo caminharam rumo ao Palácio de Justiça e à Embaixada da França para reivindicar o retorno à Boedo, a terra que viu o Ciclón crescer. No início desse ano de 2014, um fato foi comemorado pelos torcedores: a confirmação da volta do San Lorenzo à Boedo, depois de 35 anos longe do seu berço.

Tudo começou em 1979. Sob forte regime da Ditadura Militar, a direção do San Lorenzo teve de vender o terreno onde se encontrava o Viejo Gasómetro, antigo estádio do San Lorenzo. A explicação da prefeitura de Buenos Aires era que a paisagem urbana do local precisava ser modificada. Com temor dos militares e assombrada por fortes dívidas na época, a direção do Ciclón se viu pressionada a vender o local. Três anos depois, o terreno foi vendido a um banco que o repassou à rede de supermercados Carrefour, que ali construiu uma de suas loja.

Campanha para a compra do terreno (Foto: Divulgação / San Lorenzo)

A venda, além da perda emocional, de 60 anos de história do antigo estádio, palco das glórias do clube, teve resultados negativos dentro de campo. Em 1981, o tradicional clube caiu para a segunda divisão do futebol argentino e viu os títulos e as antigas conquistas sumirem. Sem contar a itinerância do clube, que mandava seus jogos em vários estádios diferentes.

A atual casa do San Lorenzo, o Nuevo Gasómetro, foi inaugurado em 1993 para suprir a falta de um lar para o clube. A identificação apareceu com os anos, mas nunca chegou ao mesmo do Viejo Gasómetro. Dois anos depois da inauguração, em 1995, o Ciclón conquistou o Clausura daquele ano, com grandes atuações do brasileiro Silas e do zagueiro Oscar Ruggeri.

Na cultura do futebol argentino, a história e as raízes dos clubes são muito valorizadas. Praticamente todo bairro de Buenos Aires tem seu clube local, muitas vezes minúsculo. Os públicos em Bajo Flores, no novo estádio, não foram os mesmos de Boedo. O número de sócios também foi reduzido pela metade. Por sair de Boedo, muitos torcedores deixaram de lado o clube. A pequena sede que restou em Boedo é muitos mais requisitada e visitada do que a moderna Ciudad Desportiva, em Bajo Flores.

Capa do Jornal Olé em um dos dias de "bandeiraços" nos torcedores (Reprodução / Diario Olé)

Nos últimos 10 anos, principalmente, incontáveis foram as caminhadas por Buenos Aires pedindo a volta à Boedo. Juan Carlos Temez, ex-secretário do San Lorenzo, tentou explicar o sentimento da torcida em um desses "bandeiraços": "O que os torcedores estão pedindo tem a ver com o compromisso com a cidadania do clube, que foi o mais prejudicado pela ditadura, que fez todo o possível para tirar-nos de Boedo. Por isso, este é um pedido de justiça. Mas não será muito fácil conseguir com êxito as terras, mas seguiremos insistindo, reclamando o que é nosso”.

Enfim, 2014 tem tudo para ser o melhor ano da história do San Lorenzo. No início do ano, a retomada à sua casa, Boedo. Em Agosto, essa oportunidade de conquistar a primeira Copa Libertadores da América e acabar com o eterno tabu, motivo de piadas dos rivais. O único dos cinco grandes da Argentina a não conquistar a maior competição sul-americana de futebol está mais perto do que nunca. O sonho de todo torcedor do Ciclón é projetar novamente um estádio em Boedo com uma taça da Libertadores na sala de troféus do Nuevo Gasómetro.

Emocionante vídeo divulgado pelo San Lorenzo após confirmada a volta à Boedo: