Era uma quarta-feira, 23 de julho, quando o San Lorenzo recebia o Bolívar para disputar a primeira partida da semifinal da Copa Libertadores da América. Em uma partida que já era histórica desde o começo para a equipe argentina, os donos da casa não tomaram conhecimento dos bolivianos e, com um sonoro 5 a 0, praticamente se garantiram na final inédita. A alegria tomava conta de todos os torcedores presentes ao Nuevo Gasómetro, exceto para Lucia Daniela Bodo.

Sócia do San Lorenzo, a desconhecida torcedora frequenta o estádio do Cuervo há 12 anos, juntamente com seu pai, Juan Carlos Bodo. Aquele dia, entretanto, ficará marcado para sempre na memória de Lucia, mas não apenas pela vitória espetacular de sua equipe. Assim que o volante Mercier colocou 3 a 0 para os donos da casa no placar, seu pai deixou a arquibancada para ir ao banheiro.

Segundo Lucia, uma prática normal, mas que naquela noite parecia estranha. Intrigada, a torcedora seguiu seu pai pelos corredores do Nuevo Gasómetro até o momento em que ele, preocupado como nunca, admitiu para sua filha que sentia uma forte dor no peito e, então, desabou. Desesperada, Lucia encontrou uma ambulância em que colocou seu pai para ser atendido.

Lucia ao lado de seu pai, Juan, que deu a vida pelo San Lorenzo (Foto: Arquivo Pessoal)

Antes da porta da ambulância fechar, ela ainda teve a oportunidade de contar a seu pai que o San Lorenzo havia feito o quarto gol, de acordo com a festa da torcida. Como quem se despedia com a maior alegria do mundo, Juan deixou suas últimas palavras: “Bom, melhor assim”.

Quatro semanas depois, Lucia voltava ao Nuevo Gasómetro para ver seu San Lorenzo disputar a segunda partida da grande final da Libertadores, diante do Nacional Querido, do Paraguai. Depois de empatar a primeira partida por 1 a 1, a equipe argentina era plena favorita, mas não conseguia impor seu estilo de jogo e era dominada pelos visitantes até os 32 minutos do primeiro tempo.

Foi então que Cauteruccio aproveitou uma confusão na grande área para tentar finalizar contra o gol paraguaio e a bola explodiu no braço de Coronel. Pênalti para o San Lorenzo. Na cobrança, Ortigoza abre o placar para os donos da casa e, pela primeira vez em doze anos, Lucia comemora um gol no Nuevo Gasómetro sem receber o abraço de seu pai.

Mas, pela primeira vez em 106 anos, vê o San Lorenzo ser campeão da América. Um título que fez toda a torcida do Cuervo explodir de alegria, mas ninguém deve ter se sentido tão aliviada e feliz naquela noite como Lucia, que viu seu pai dar a vida por aquele momento.