Neste domingo (4), ao meio-dia (horário de Brasília), teremos mais uma edição do Derby della Capitale entre Lazio e Roma, com mando de campo dos biancocelesti, que terão maioria no estádio, exceto pela tradicional Curva Sud romanista, pela 14ª rodada da Serie A. Um clássico que sempre promete fortes emoções. O jogo será apitado pelo árbitro italiano Luca Banti.

Este derby será o de número 165. Ao longo da história foram 164 confrontos oficiais pelo Derby della Capitale, com 61 vitórias da Roma, 60 empates e 43 vitórias da Lazio. Com 204 gols giallorossi, e 157 gols biancocelesti. Pela Serie A, foram 146 confrontos, com 51 vitórias romanistas, 36 vitórias dos laziale e 57 empates, com 181 gols da Roma e 138 gols da Lazio.

É o primeiro derby com as duas equipes brigando juntas pelo topo desde 2001: com a distância entre a Roma, segunda colocada com 29 pontos, e a Lazio, quarta com 28, a diferença é de somente um ponto, a menor em muito tempo. Os times não ficavam em posições tão próximas na tabela em um momento de derby desde a temporada 2000/01, que ficou marcada pelo scudetto romanista, e que na altura do primeiro derby da temporada tinha a Roma na liderança e a Lazio na quarta colocação. Na última rodada, a Roma venceu o Pescara por 3 a 2 em casa, enquanto a Lazio venceu o Palermo fora de casa por 1 a 0. 

Os últimos Derby della Capitale na temporada 2015/16 foram vencidos pela Roma, o primeiro turno em vitória por 2 a 0, enquanto o segundo turno teve vitória dos giallorossi de goleada, por 4 a 1. A Lazio não vence o derby desde uma data que o torcedor biancoceleste não esquece: 26 de maio de 2013, o único derby que decidiu título na história, e o título da Copa Itália naquela tarde foi para os laziale com gol de Lulic na vitória por 1 a 0. Pela Serie A, a espera é maior: não vencem desde o dia 11 de novembro de 2012, em partida que teve mando da Lazio e vitória por 3 a 2. 

História marcada por tensões entre Lazio e Roma

O clássico começou em 1927, quando em meio ao regime fascista, a Roma foi fundada através da fusão entre três equipes romanas: a Albaromana, o Roman e a Fortitudo. Era de intenção do governo fascista comandado por Benito Mussolini que todas as equipes romanas se fundissem em prol de acabar com a dominância das equipes do norte, na época especialmente representadas por Juventus, Inter, Milan, Pro Vercelli e também pelo Genoa. Era uma época em que diversas equipes se fundiram: Inter Naples e Naples fundaram o Napoli, e Palestra Ginnastica Fiorentina Libertas e o Club Sportivo Firenze fundaram a Fiorentina, ambos em 1926, por exemplo. 

Mas havia um problema nos planos de quem queria a unificação romana: a Lazio recusou a fusão com os outros três clubes. E o resultado só poderia ser a formação de uma grande rivalidade com a Roma. Os romanistas de início tinham a vantagem dos torcedores dos três outros clubes se fundarem em uma torcida só. Uma torcida tão numerosa que fez com que no primeiro confronto, de mando laziale, a torcida da casa parecesse visitante. A torcida da Lazio tinha origem mais burguesa, enquanto a da Roma tinha origem mais popular. 

Além disso, a vantagem romanista na torcida teve influência das evocações da Roma as origens romanas, por exemplo. Em meio a isso, os primeiros dérbis sempre tiveram tensões. O primeiro dérbi oficial, pela temporada 1929-30, quase não foi disputado, mas com a bola rolando, a vitória foi giallorossa, com gol de Rodolfo Volk, em meio a torcida de 15 mil laziales. No returno, vitória romanista por 3 a 1. Palco para mais tensões, mas a vitória da Roma na última rodada diante do Padova por 8 a 0 impediu que a Lazio jogasse um mata-mata para fugir do rebaixamento diante da Triestina, o que fez muitos laziales, de dirigentes a torcedores presentes no estádio, a festejarem a vitória da grande rival.

As primeiras vitórias laziales no derby só iriam ocorrer em 1932: primeiro, a não-oficial, em 26 de junho, pela Copa Fornari, com vitória da Lazio por 3 a 0. Em seguida, já pela temporada 1932-33, a Lazio vencera o derby de 23 de outubro, com gols do brasileiro Demaría e Castelli para a Lazio e Volk para a Roma. Em seguida, nova série de vitórias romanistas que teve direito a maior goleada da história dos dérbis, não superada até hoje, com goleada da Roma por 5 a 0 na temporada 1933-34, com direito a tripletta marcada por Tomasi e a doppietta marcada por Bernardini. 

A série duraria até 1936, quando no primeiro confronto pela Coppa Italia, os biancocelesti dariam o troco naquela série eliminando a rival nas oitavas-de-final com vitória por 2 a 1 em 19 de janeiro. Pela Serie A, os laziale só voltariam a vencer pela temporada 1938-39, com vitória por 2 a 0, a primeira na casa giallorossa, o Campo Testaccio, que seria demolido em 1940.

Já na temporada 1941-42, ainda que a Lazio começasse a ganhar seus derbys, a Roma começava a predominar: os romanistas venceram o derby do primeiro turno por 2 a 1 em sua casa, confirmando a liderança no campeonato. No segundo turno, o empate por 1 a 1 fez a Lazio tirar a Roma da liderança do campeonato, que seria recuperada pelos giallorossi na rodada seguinte após tropeço do Torino, seu perseguidor, e goleada sobre a Inter por 6 a 0, que trilhou o caminho para o primeiro Scudetto de sua história. 

Na temporada 1942-43, uma vitória para cada lado: A Lazio venceu no turno por 3 a 1, enquanto a Roma venceu no returno por 1 a 0. Após o duelo pela Coppa Italia com vitória romanista por 2 a 1, a Serie A ficou parada por conta do Armistício de Cassibile, em meio a Segunda Guerra Mundial. Em meio a isso, os clubes jogaram por uma espécie de campeonato romano, algo semelhante ao campeonato estadual no Brasil, com a primeira edição vencida pelos laziale e a segunda pelos romanistas. Depois da guerra, as vitórias passariam a ser maiores para o lado laziale.

A Roma não teria vitórias diante da Lazio entre o derby de 16 novembro de 1947 e o de 18 de abril de 1954, vencido por 2 a 1. Neste tempo todo, a Lazio chegaria a emendar uma série de quatro vitórias consecutivas em dérbis nas temporadas 1950-51 e 1952-53, a primeira após o retorno da Roma da Serie B, divisão para a qual tinha caído e que disputou e venceu na temporada 1951-52. Por ironia do destino, uma destas quatro vitórias, a segunda, do dia 25 de fevereiro de 1951, foi decisiva para o rebaixamento romanista: a vitória por 2 a 1 dos laziali serviu para praticamente empurrar a rival para a disputa do rebaixamento.

Houve uma goleada em jogo não-oficial pelo Troféu Zenobi, 5 a 1 para a Roma, no dia 11 de setembro de 1955. Naquele dia, era apresentado o cartão de visitas de Dino da Costa, brasileiro que em um de seus primeiros jogos com a camisa giallorossa marcou o segundo gol da Roma na goleada. As vitórias passaram a se alternar um pouco mais. Mas sempre com gols de Dino da Costa, que marcou 11 vezes no derby entre 1955 e 1960. Na temporada 1957-58, foi a primeira temporada com quatro derbys: melhor para a Lazio, que venceu dois deles, um pela Serie A, e outro pela Coppa, na qual eliminou a rival, com o segundo jogo terminado empatado. A Roma venceu apenas o primeiro duelo, o do turno da liga.

Após essa temporada, a Roma engataria uma série de cinco vitórias consecutivas entre 1958 e 1961. Mas a vitória que quebrou o tabu laziale, em 19 de março, por 2 a 1, não impediu o clube de cair pra a Serie B pela primeira vez em sua história. Em meio a temporada que confirmaria o retorno da Lazio, em 1961-62, os clubes se enfrentaram pela Coppa Italia, e pela primeira vez, tiveram duelo decidido nos pênaltis após empate sem gols, com vitória da Roma por 6 a 4. Após o retorno e algumas temporadas se estabelecendo na elite, a Lazio voltaria a cair na temporada 1966-67, para só voltar a primeira divisão somente duas temporadas depois, em 1969-70.

A Roma estabeleceria hegemonia no derby, no qual a Lazio só voltaria a vencer em 1971-72, pela Coppa Italia, por 1 a 0, com gol de Giorgio Chinaglia, enquanto os laziale novamente passavam pelo agouro da segunda divisão, na qual voltariam mais uma vez, agora bem mais fortes do que nunca. E dali, voltaram fortes para brigar pelo Scudetto na temporada 1972-73, que teve doppietta da Lazio sobre a Roma pela primeira vez em 20 anos. O Scudetto não viria nessa temporada, mas veio em 1973-74, novamente com uma doppietta laziale, com duas vitórias de 2 a 1, ambas de virada, e ambas com o gol decisivo marcado pelo artilheiro Chinaglia, e com o segundo jogo tendo gol da bandeira laziale Vincenzo D'Amico.

Dali em diante, a Lazio só venceria a rival na década mais duas vezes: em 28 de novembro de 1976, por 1 a 0, com gol de Giordano, e em 18 de março de 1979, na qual a Lazio venceu por 2 a 1 os giallorossi e a torcida na Curva Nord do Olímpico lembrou de quando mandaram a rival para a B com uma enorme faixa: "Ve' Mannamo in B", que em dialeto romano, significa "Nós mandamos vocês pra B". Por ironia do destino, estas foram raras vitórias pós-Scudetto em uma década que teria a partir dali empates e vitórias giallorossas.

E em seguida, em 1979-80, a Lazio voltaria a Serie B fora de campo pelo escândalo Totonero, em uma temporada de derbys tensos: o primeiro, por 1 a 1, foi jogado em clima de tensão pelo estado de saúde do torcedor laziale Vincenzo Paparelli, que viria a morrer após ser atingido por um foguete vindo da Curva Sud. O segundo, em clima de tensão pelas investigações do Totonero, teve vitória da Roma por 2 a 1. A Lazio só voltaria a Serie A em 1983-84. Pior, teve a volta a primeira divisão ofuscada pela sua rival, que era a atual detentora do scudetto conquistado em 1982-83. E a Roma tratou de recepcionar no primeiro derby após a volta com vitória por 2 a 0, com gols de Nela e Pruzzo.

A Lazio voltaria a Serie B pela última vez após o rebaixamento em 1984-85. Só voltaria na temporada 1988-89, e logo no primeiro derby após o retorno, venceu a Roma no Olimpico por 1 a 0, com gol do então jovem Di Canio. Na temporada seguinte, em 1989-90, palco raro para o derby: o estádio Olimpico estava em reformas para a Copa do Mundo, então os dois times jogariam a Serie A no estádio Flaminio. E após empate por 1 a 1 no turno, com gols de Giannini para a Roma e Bertoni para a Lazio, no returno os giallorossi venceram por 1 a 0, com gol de Voller.

O início dos anos 90 era os tempos do empate no derby: entre 1990 e 1994, foram sete empates consecutivos, seis deles por 1 a 1. Só voltaria a ter um vencedor no dia 27 de novembro de 1994, com vitória por 3 a 0 da Roma. Esta também seria a última vitória giallorossa no derby até 11 de abril de 1999, quando a Roma venceu a Lazio por 3 a 1, com doppietta de Delvecchio e gol de Totti. Aquela vitória romanista ajudaria a Lazio a perder o título italiano da temporada 1998-99 para o Milan. Mas, por outro lado, a década de 90 foi majoritariamente biancocelesti, com mais vitórias da Lazio, e com direito a quatro vitórias numa mesma temporada no derby, em 1997-98, tendo a águia vencido a loba em todos os dérbis, seja pela Serie A, seja pelas quartas-de-finais da Coppa Italia.

A Roma coroaria o bom começo na temporada 1999-00 com uma goleada por 4 a 1 diante da Lazio, com doppietta de Delvecchio e Montella, enquanto Mihajlovic descontara para a Lazio. Mas com o decorrer da temporada, a águia laziale foi voando em direção ao topo. E começou a voar cada vez mais alto no derby de 25 de março de 2000, quando venceu após sair atrás com gol de Montella, e virou com gols de Nedved e Verón. A águia acabou voando rumo ao Scudetto, que conquistaria de forma épica frente a Juventus na última rodada.

O troco romanista não demoraria: após vencer o derby do turno por 1 a 0, com gol contra de Paolo Negro, e empatar por 2 a 2 no returno, com direito a empate laziale aos 50 da segunda etapa, a Roma se consolidaria cada vez mais na temporada 2000-01 e conquistaria o terceiro scudetto de sua história. Na temporada seguinte, um derby foi marcante para os giallorossi: o do dia 10 de março de 2002, quando a Roma venceu a rival por 5 a 1, com noite inspirada de Montella, que marcara quatro gols na rival, e outro de Totti, com Stankovic descontando para a Lazio. 

Os anos 2000 foram marcados pela violência entre as torcidas no derby: violência que gerou um cancelamento de um derby, por conta de uma falsa notícia de morte de um garoto romanista nos arredores do estádio, em 21 de março de 2004. O derby foi jogado um mês depois com empate por 1 a 1. Já em 23 de outubro de 2005, foi a vez do árbitro ser a vítima, sendo atingido durante a partida por uma moeda lançada pela torcida romanista. 

Nos últimos tempos, as vitórias da Roma sempre foram em boas vantagens, enquanto as da Lazio sempre tinham vitórias épicas: como a do returno da temporada 2007-08, vencida com gol aos 47 do segundo tempo por 3 a 2, com gol de Behrami. Ou a da temporada 2011-12, vencida também com gol aos 48, de virada, marcado por Klose, em vitória por 2 a 1. Nos últimos 10 anos, foram duas doppiettas em temporadas romanistas, em 2009-10 e 2010-11 (esta com uma vitória da Roma na Coppa Italia no derby), e uma laziale em 2011-12. 

Lazio vai praticamente com força total no Derby

Os laziale quase não tem problemas para levar a campo sua equipe para o derby, mas tem uma dúvida: a presença de Milinkovic-Savic, que decidiu a última vitória sobre o Palermo, mas é dúvida por problemas físicos. A condição física também é dúvida, mas para o bem, pois o derby pode marcar o retorno de De Vrij ao time titular da Lazio. Depois deles, o departamento médico laziale está praticamente vazio. Só há um pendurado, o titularíssimo Felipe Anderson, que é uma das esperanças da equipe para o derby. Além dele, o técnico Inzaghi pode confiar em Immobile, um dos primeiros na lista de artilheiros da Serie A, com 9 gols marcados. Os dois devem formar o trio de ataque no 4-3-3 com Keita.

O técnico laziale Simone Inzaghi falou sobre o Derby em entrevista coletiva, e saiu do lugar comum quanto a ausência de Salah no inimigo giallorosso, e lembrou das ausências da sua equipe: "Mas olhe para a minha casa, tivemos lesões graves também nós, como as de Biglia e De Vrij. Mas descobrimos recursos que permitiram uma classificação assim. Egoisticamente digo que é melhor sem a Roma sem Salah, mas eu sei que aquele que substituí-lo vai ser a altura dele".

Inzaghi também falou sobre o que será o seu primeiro derby como treinador: "Como se vence? Como jogador eu tenho tantos feitos, como gestor dos caras também, mas será a primeira desse tipo. Nós nos encontramos com uma equipe forte, mas com a mesma humildade e determinação podemos vencê-los. A classificação diz que estamos a altura da Roma: nós respeitamos, são construídos para a Liga dos Campeões e para ganhar o campeonato. Nós começamos com desconfiança e obtivemos resultados, mas o melhor é agora. Todo mundo está falando sobre nós, teremos um grande derby".

Roma vai sem medo do adversário no Derby

Inevitavelmente, sempre que há um Derby della Capitale, as expectativas recaem sobre Totti, afinal, ele é o maior artilheiro da história dos dérbis, com 11 gols, ao lado de Dino da Costa. Mas ele deve começar no banco na partida deste domingo. O destaque negativo fica para a ausência de Salah, lesionado durante a semana nos treinos. Por outro lado, de destaque positivo os giallorossi tem Dzeko. Artilheiro da Serie A com 12 gols, o bósnio tem sido carrasco laziale. Mesmo quando estava em má fase na última temporada, não deixou de marcar gols nos dois duelos diante da grande rival. 

Para a partida, os romanistas tem os desfalques de, além de Salah, os de Paredes e Florenzi. E para sanar o problema, o técnico giallorosso deve ir a campo com um 3-4-2-1, dando espaços para Perotti e Nainggolan criarem jogadas para Dzeko. Além disso, nenhum grande problema na escalação para Spalletti, que apenas tem como pendurado o zagueiro Juan Jesus, que deve começar o derby no banco de reservas, longe da formação que deve ir com três zagueiros no sistema defensivo da Roma. 

O técnico romanista Luciano Spalletti falou sobre o Derby em entrevista coletiva: 

Clássico começa em clima de provocações

Durante a semana, o zagueiro romanista Antonio Rudiger deu entrevista ao site oficial do clube e provocou: "Para que me parar vão ter que me matar. Se eles nos fazem medo? Não conheço o clube, e muito menos seu técnico, certamente eles estarão muito motivados, é um jogo importante para ambos. É um derby com uma grande história, mas não se preocupo e não desvio o olhar para a Lazio, prefiro concentrar no nosso objetivo: ganhar e é isso".

No Twitter, o volante da Lazio, Danilo Cataldi, respondeu as provocações apenas com: "Quem falou? Não te conhecemos...". Já podemos ter um clima de rivalidade no ar no Derby della Capitale.

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