Nesta segunda-feira (11), Carlo Tavecchio, presidente das ligas amadoras italianas, a Lega Nazionale Dilettanti, venceu a eleição da FIGC (Federazione Italiana Giuoco Calcio, Federação Italiana de Futebol em português) e é o novo chefe do futebol italiano. Ele superou o ex-vice-presidente da Federação e ex-jogador de Milan e seleção italiana Demetrio Albertini, com 63,63% dos votos -- contra 33,95% de Albertini (274 delegados votaram no pleito). Tavecchio ocupará o lugar que era de Giancarlo Abete, que renunciou após o fracasso da seleção italiana na Copa do Mundo. 

Após a vitória, Tavecchio declarou que "a democracia venceu", e que "será o presidente de todos" no comando da federação italiana. Tavecchio, que segundo Adriano Galliani, vice-presidente do Milan, teve votos de 16 dos 20 clubes da Serie A, também disse que não era bom com as palavras, mas sim com as ações. Pregou a união na FIGC e disse que a Itália poderia avançar se todos trabalhassem juntos. Enquanto isso, o derrotado Albertini buscou justificar sua derrota parabenizando o adversário: "É puramente corporativismo. Quis ser uma alternativa para uma mudança no esporte no país". Apoiadores da candidatura Albertini também criticaram a votação, como Damiano Tommasi, presidente da Associação de Futebolistas da Itália, que declarou que "o futebol italiano não quer mudar de marcha e avançar."

Carlo Tavecchio terá um grande desafio de reestruturar o futebol italiano. Na semana que vem, o novo técnico da seleção será escolhido. O favorito ao cargo é o ex-técnico da Juventus, Antonio Conte, que é o alvo "número 1" tanto para o vencedor Tavecchio, como era o alvo número 1 de Albertini também. Outros que correm por fora e são cogitados são Roberto Mancini, ex-treinador de Manchester City, Galatasaray e Internazionale, e Alberto Zaccheroni, ex-treinador de Juventus, Milan e Internazionale.

QUEM É O VENCEDOR

Carlo Tavecchio nasceu na cidade de Ponte Lambro, na província de Como, no norte italiano, em 1943. Foi prefeito da cidade por quatro mandatos consecutivos, entre 1976 e 1995. Começou a carreira de dirigente esportivo em 1974, quando fundou a Polisportiva de Ponte Lambro, e foi presidente da Pontelambrese -- em sua gestão, disputou o campeonato da Prima Categoria (espécie de sétimo nível do futebol italiano).

Sua carreira na FIGC começou em 1987, quando assumiu o cargo de conselheiro do comitê da Lega Nazionale Dilettanti, a associação das ligas amadoras da Itália, e permaneceu entre 1987 e 1992, quando virou vice-presidente até 1996 -- então eleito presidente do conselho regional da Lombardia. Em 29 de maio de 1999, foi eleito presidente da Lega Nazionale Dilettanti, e, em 2007, eleito um dos vice-presidentes da FIGC. É torcedor declarado da Internazionale.

CONTROVÉRSIAS

Carlo Tavecchio tem a vida marcada por controvérsias. Foi processado e condenado por cinco vezes: a primeira em 1970, com quatro meses de prisão por falsidade em título de crédito; a segunda em 1994, com dois meses e 28 dias de prisão por evasão fiscal; em 1996, com três meses de prisão por vazamento de informações previdenciais; a quarta em 1998, com três meses de prisão por omissão em depoimentos; e a última também em 1998, também com três meses de prisão por abuso de poder.

Dezesseis anos depois, deu declaração polêmica a RAI, televisão estatal italiana, sobre o futebol feminino. "Como sempre nos esforçamos para querer dar uma dignidade estética para o futebol feminino. Antes se pensava que era deficiente em comparação com a resistência do sexo masculino e de outros fatores, mas agora temos encontrado um jeito para ser muito similar. Agora criamos um slogan que fala da mulher como a outra metade do futebol", declarou, na época. Para Renzo Ulivieri, presidente da AIAC (Associazione Italiana Allenatori Calcio, em português Associação Italiana de Treinadores de Futebol), Tavecchio também propôs um projeto a se lançar no futebol feminino. Mesmo com as críticas de Ulvieri, há defensores do modelo Tavecchio, como os presidentes das equipes femininas de Lazio e Torres, que endossam a ideia de que Tavecchio teria 'dado dignidade' ao futebol feminino.

Também entrou em polêmica com torcedores romanistas após ter declarado que estes são "forçados" e "comedores de tripa", após uma derrota de sua Inter para a Roma.

Mas sua declaração mais polêmica foi dada recentemente, em um discurso oficial de defesa à presidência da FIGC. “Na Inglaterra, eles identificam os jogadores que chegam: se são profissionais, podem jogar. Aqui, temos Opti Pobà, que antes comia bananas e agora é titular da Lazio. Na Inglaterra, você precisa demonstrar currículo e pedigree”, disse. Sua declaração gerou revolta entre os jogadores estrangeiros e imprensa, que por meio de vários grandes jornais postaram editoriais de repúdio a Tavecchio. Nove clubes da elite repudiaram oficialmente suas declarações, e a ministra do Interior da Itália, Cécile Kyenge, de origem congolesa, além de outros políticos de centro-esquerda do país, também manifestaram sua indignação. A Fifa pediu explicações sobre o caso, já que oficialmente é contra o racismo -- só no futebol italiano, houveram 282 casos de discriminação racial no futebol entre 2007 e 2013 e 660 desde 2000.

Mesmo com a declaração e os inúmeros pedidos para que renunciasse a candidatura, Tavecchio, com o grande apoio de seu "padrinho" Claudio Lotito, presidente da Lazio, foi eleito o novo chefe do futebol italiano.