Pela segunda vez na história da Supercoppa Italiana, Juventus e Napoli entram em campo para decidir o supercampeão da Itália. Não é exatamente um dérbi, como o time napolitano tem com a Roma e a Vecchia Signora tem com o Torino e a Inter, por exemplo. Mas é um jogo de rivalidade muito forte, que nasceu antes da criação das duas equipes. Um clássico que já teve 150 jogos, com 69 vitórias da Juventus, 32 vitórias do Napoli e 49 empates.

A rivalidade nasceu muito antes dos times: em 1860. Em tempos de unificação italiana, quando o reino dos piemonteses (região onde se localiza Turim), invadiu o reino das duas Sicílias (onde se localizava Nápoles) e chegou a matar 1 milhão de meridionais. A unificação se confirmou em 1861, mas a rixa foi se aumentando com a rivalidade entre os povos. Especialmente, o povo do norte, terra industrializada, rica e bem desenvolvida, contra o povo do sul, terra mais agrária e menos favorecida. Ambos se segregam entre si. Os nortistas apelam com "lá eles têm a máfia; cuidado com sua carteira", além dos estereótipos de que "o povo do sul não gosta de trabalhar". Já os sulistas apelam com "o povo do norte é muito frio" e "a nossa culinária é melhor".

Os nortistas chamam os sulistas de terrones, devido à uma história de que um habitante do sul, ao ver uma banheira, desconhecendo sua função, resolveu colocar terra e cultivar uma horta, ao invés de a lavar. Nasceu assim o termo "terrone", que é um dos principais para a discriminação ao povo do Sul italiano. Outro fato que é citado nos recentes fatos de discriminação é o de quando o Vesúvio entrou em erupção e destruiu a cidade de Pompéia, em 79 d.c.

O fato é citado em cânticos discriminatórios em jogos contra o Napoli e até em jogos contra torcidas "irmãs" dos napolitanos, como Genoa e Catania, em cânticos como "Vesuvio, lavali col fuoco". Em tradução isso seria "Vesúvio, lave-os com fogo", em um claro pedido para que o Vesúvio destrua a região novamente. Estes cânticos discriminatórios já fecharam a "Curva Sud" no Juventus Stadium durante uma partida da Serie A na temporada passada, e foram repetidos por outras torcidas, como as de Bologna e Roma.

Dentro de campo, a rivalidade começou a se aflorar nos anos 60 e 70, especialmente em 1965, quando Omar Sívori, lenda da Juventus, deixou o clube bianconero para montar dupla com José Altafini, o Mazzola, brasileiro também lenda do Palmeiras, e campeão mundial de 1958 pela Seleção, que veio contratado junto ao Milan para jogar no Napoli.

A dupla duraria até 1969, quando durante um Napoli e Juventus vencido pelos napolitanos por 2 a 1, Sívori brigou e ofendeu o técnico bianconero Heriberto Herrera. Na temporada anterior, em 1968, veio contratado junto ao Mantova, o então jovem goleiro Dino Zoff. Esse time de Sívori, Altafini e Zoff, chegou a ser vice-campeão da Serie A na temporada de 1967-68, vencida pelo Milan. A campanha foi tão boa que os três grandes nomes da equipe fizeram parte da Squadra Azzurra campeã da Eurocopa de 1968.

Porém, aos poucos este time foi se esfacelando, com a suspensão de Sívori em 1969 e as chegadas de Zoff e Altafini para a Juventus em 1972, considerados como traidores pelos tifosi napolitanos. A traição de Altafini foi ainda mais sentida na temporada 1974/75, quando na reta final do campeonato, com as duas equipes disputando o título (ainda que o Napoli tenha perdido durante a campanha em casa por 6 a 2 para a própria Juve), a Juve venceu o Napoli, treinado pelo brasileiro Luís Vinício, ídolo azzurro nos anos 50, por 2 a 1, com Altafini marcando o gol decisivo para a vitória e para mais um Scudetto juventino.

Aos napolitanos, só restou lembrar o ''coração ingrato'' de Altafini. Desde a última vitória em outubro de 1973, pela Serie A, o Napoli ficaria 12 anos sem vencer a Juve pela Serie A, e somente com uma solitária goleada por 5 a 0 sobre a Juve na Coppa Italia, em maio de 1978, mesmo com nomes como Krol e Savoldi, ídolos da torcida neste período. Mas a chegada de um homem mudaria a história do Napoli e, consequentemente, do clássico.

A partir de 1976, a Juventus, que já havia conquistado três scudetti nos anos 70, sob o comando de Giovanni Trapattoni, começou o seu domínio no futebol italiano que perduraria do final da década à primeira metade dos anos 80. Sendo base da Seleção Italiana, com craques como Scirea, Zoff e Paolo Rossi, dominaram o futebol italiano conquistando neste período seis dos dez scudetti disputados, e especialmente capitaneada por um craque: Michel Platini.

Desde que chegou à Juve, em 1982, o francês foi o Bola de Ouro de melhor europeu por três vezes, de 1983 a 1985. A equipe neste período desde a abertura dos estrangeiros na Serie A, ainda teve o irlandês Liam Brady, que seria substituído por Platini, e Zbigniew Boniek, polonês que seria o grande parceiro do craque francês. O Napoli nem sequer ameaçava o domínio da Juve no futebol italiano até 1984. Até a chegada de Diego Armando Maradona junto ao Barcelona.

Maradona começou a sua magia no clássico e na luta pelo título, após uma fraca temporada de estreia, na temporada 1985/86, quando em novembro, no San Paolo, o Napoli voltou a vencer a Juve, com belíssimo gol de falta do gênio argentino, lembrado pelos napolitanos até hoje. Mas, ainda assim, insuficiente para impedir a Juve de vencer o Scudetto, naquele que seria o último título juventino da década.

Na temporada seguinte, em 1986/87, o Napoli deu o troco e venceu o Scudetto, com a Juve sendo vice-campeã, mas a partida que marcou para o tifosi napolitano foi a vitória em Turim em novembro de 1986 por 3 a 1 sobre a rival, vencendo-a em seus domínios pela primeira vez desde sua última vitória em 1958. A temporada 1988/89 foi a que teve o maior número de confrontos em uma temporada: quatro, com duas vitórias para cada lado.

Na Serie A, o Napoli venceu a Juve em Turim por 5 a 3, com direito a tripletta de Careca, enquanto a Juve venceu no San Paolo por 4 a 2, ajudando asim a rival Inter a praticamente garantir o Scudetto. E as duas equipes, se enfrentaram na Copa da Uefa (atual Uefa Europa League), com a Juve vencendo o primeiro jogo em Turim por 2 a 0, com gols de Pasquale Bruno e gol contra de Corradini para os bianconeri. Mas os azzurri deram o troco no segundo jogo, vencendo por 3 a 0, com gols de Maradona e Carnevale, que levaram a partida para a prorrogação, e com gol no último minuto da prorrogação, Renica fez o gol que deu a vaga ao Napoli para a final.

As vitórias de 1990, a primeira válida pela temporada 1989/90, em março, por 3 a 1, que ajudaria o Napoli a confirmar seu segundo Scudetto mais tarde, e a vitória por 5 a 1 napolitana na Supercoppa (leia o parágrafo abaixo) foram as últimas napolitanas. Desde então, os anos de chumbo napolitanos começaram: a partir da vitória na Supercoppa, vieram os anos de crise, com a Juventus de nomes como Baggio, Vialli, Conte, Del Piero, Ravanelli e tantos outros dominando o futebol italiano, e o Napoli, em crise, perdia seus ídolos como Ferrara, grande nome da era Maradona, para a própria Juventus, outros como Cannavaro (que chegaria a ser ídolo na Juve anos depois) e Zola, e nunca mais venceu a Juventus e acumulava fracassos e crise financeira, que culminaram em rebaixamentos como os de 1998 e 2001 a Serie B, e a falência decretada em 2004 até que Aurelio De Laurentiis, produtor de cinema italiano, comprasse a equipe.

Em 2006-07, no entanto, os caminhos dos dois voltaram a se cruzar na Serie B, quando a Juventus, rebaixada após envolvimento no Calciopoli, reencontrava o Napoli, que havia acabado de voltar da Serie C1, após rebaixamentos e a falência declarada em 2004. Na mesma temporada, ambos voltaram à primeira divisão: a Juve como campeã e o Napoli, como terceiro colocado.

Além disso, na mesma temporada, Napoli e Juventus se encontraram pela Coppa Italia, com os napolitanos vencendo nos pênaltis após empate no tempo normal em 3 a 3. O Napoli voltaria a vencer uma partida contra a Juve no tempo normal na temporada seguinte, em 2007/08, por 3 a 1 em Nápoles, mas perdendo por 1 a 0 em Turim.

O Napoli só voltaria a vencer em Turim na temporada 2009/10, após uma espetacular virada por 3 a 2 dos napolitanos, que perdiam por 2 a 0. Após esta temporada, um jogador sentiu o ódio de trocar Nápoles pelo lado bianconero de Turim: Fabio Quagliarella. O atacante italiano foi do Napoli para a Juventus por 25 milhões de euros e sentiu o ódio dos napolitanos.

Mas seus confrontos voltaram a pegar fogo especialmente em 2011/12, quando Juventus e Napoli se enfrentaram em Roma, pela final da Coppa Italia, na qual a Juve entrou em campo invicta na temporada – além de campeã italiana –, mas foi o Napoli que saiu campeão, sob a batuta do trio Cavani, Lavezzi e Hamsík. O time de Nápoles conquistava seu primeiro título pós-Maradona.

O troco bianconero veio em Pequim, com a vitória na Supercoppa, muito contestada pelos napolitanos. O Scudetto de 2012/13 prometia, e Juventus e Napoli brigaram pelo título, com a Vecchia Signora sendo campeã e ficando invicta no confronto direto contra os napolitanos, vencendo em Turim por 2 a 0 e empatando em Nápoles por 1 a 1.

Os duelos quentes entre os dois em 2012/2013, mais as provocações entre jogadores via imprensa, esquentaram de vez o clássico. Em janeiro de 2013, o meia Claudio Marchisio, da Juventus, em uma entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, quando perguntado qual o jogador que ele mais tinha antipatia, ele declarou: "Não é um jogador em especial, mas uma equipe, o Napoli. Algo me acende quando enfrento eles".

A declaração irritou os napolitanos, o que fez Marchisio pedir desculpas publicamente. Um ano depois, outra demonstração provocativa entre os dois foi dada por José Callejón, do Napoli, que foi fotografado usando uma camisa da Juventus como uma espécie de "papel higiênico".

Em seguida, nos duelos da temporada 2013/14, mesmo com a Juve hegemônica na Serie A e as duas equipes não se enfrentando na Coppa Italia, que consagrou o Napoli como campeão, os dois duelos pela Serie A foram quentes.

No primeiro turno, a Juve venceu por 3 a 0, em partida em que os napolitanos reclamaram muito da arbitragem, com direito a gol impedido de Llorente para a Juventus e dois pênaltis não marcados para o Napoli. A partida foi marcada também por lindos gols marcados por Pirlo, em cobrança de falta, e Pogba, acertando um belíssimo chute de fora da área.

Já no segundo turno, o Napoli venceu por 2 a 0, em partida que os juventinos reclamaram do gol irregular de Callejón e os napolitanos, por sua vez, reclamaram um pênalti não marcado. Mertens marcou o segundo gol dos napolitanos, que fez somente a segunda derrota da Juve em todo o campeonato.

Somente em casos raros, os jogadores conseguem sobreviver ao ódio entre os dois e virar ídolo das duas equipes, o que é o caso de Ciro Ferrara e Fabio Cannavaro, ambos formados no Napoli, e que posteriormente fizeram história na Juventus após fazer história no Napoli. Um ódio que é forte a ponto de que ser juventino em Nápoles ou no sul da Itália é quase como ser considerado um ''traidor da terra'', ainda que no Sul, a Juve tenha a maior torcida, mesmo que na Campânia, região onde fica Nápoles, o Napoli tenha disparadamente a maior torcida.

Duelos entre Juventus e Napoli na Supercoppa

1990: Napoli de Maradona e Careca, campeão do Scudetto, goleia a Juventus de Baggio, campeã da Coppa Italia

O jogo no estádio San Paolo tinha um caráter especial: além do clássico entre Napoli e Juventus, que ali parava o futebol italiano, especialmente a parte sul, mais dividida entre napolitanos e juventinos historicamente, havia a estreia de Roberto Baggio na Juventus. Contratado junto à Fiorentina depois de uma longa novela, Baggio estrearia oficialmente pela Juve na Supercoppa contra o Napoli.

Em oito minutos de jogo, o Napoli saiu na frente com gol de Silenzi, aproveitando o espaço vazio na defesa bianconera e completando para o gol após corte da defesa. Três minutos depois, Careca fez o segundo dos napolitanos. Aos 39 minutos, o estreante Baggio diminuiu em cobrança de falta. Ainda no primeiro tempo, em bela jogada individual aos 44 minutos, Silenzi marcou o terceiro do Napoli na partida. Um minuto depois, Tacconi saiu mal do gol, e Silenzi dividiu e ganhou do goleiro, e tocou para gol.

A zaga bianconera, que tinha o brasileiro Júlio César como um de seus protagonistas, não conseguiu impedir o quarto gol napolitano. No segundo tempo, o Napoli continuou disposto a massacrar a Juventus, e conseguiu. E com gol aos 26 do segundo tempo de Careca, que aproveitou nova saída de Tacconi do gol, e tocou por cobertura para fechar a goleada azzurra na Juventus.

2012: Campeã invicta do Scudetto, Juventus vence Napoli, campeão da Coppa Italia, em jogo com polêmicas

O jogo no estádio do Ninho do Pássaro, em Pequim, na China, era a segunda Supercoppa fora da Itália, já que no ano anterior, Milan e Inter haviam jogado por lá. O jogo já não teve a presença de Antonio Conte, suspenso por suposto envolvimento em máfia de apostas na Itália, em uma suspensão que duraria até janeiro de 2013.

O Napoli saiu na frente no primeiro tempo com Cavani, que após receber passe, ficou cara a cara com Buffon, tentou driblá-lo, mas o goleiro italiano tocou na bola; não o suficiente para impedir o uruguaio de marcar, já que ele pegou o rebote e chutou para o gol vazio. Aos 37 minutos, após cruzamento da direita de Vidal, Asamoah empatou o jogo com um voleio de fora da área espetacular. Quatro minutos depois, o Napoli novamente ficou à frente do marcador. Após Bonucci tentar cortar, a bola bateu em Pandev, o atacante macedônio pegou a bola, arrancou e tocou por cima de Buffon.

O Napoli estava na frente até os 29 minutos do segundo tempo, quando a figura do árbitro Paolo Mazzoleni deu polêmica à partida: Fernandez dividiu com Vidal e o chileno caiu na área. Mazzoleni marcou pênalti para reclamação dos napolitanos. O próprio Vidal foi para a cobrança e empatou a partida, que foi para a prorrogação.

Antes da prorrogação, as reclamações dos napolitanos dobraram: primeiro, de um pênalti não marcado de Bonucci em Behrami aos 34 minutos. Aos 38, o atacante Pandev recebeu o segundo cartão amarelo e foi expulso por supostas ofensas ao bandeirinha. No último minuto, Zúñiga recebeu o segundo amarelo foi expulso após fazer falta clara em Vidal, impedindo o contra-ataque bianconero.

Porém, a reclamação napolitana é a de que o primeiro amarelo do colombiano surgiu de uma inversão de falta apitada por Mazzoleni, que após a expulsão do lateral colombiano, expulsou o técnico napolitano Walter Mazzarri. Com dois a menos, o Napoli na prorrogação não sucumbiu perante à Juve, que marcou seu terceiro gol aos sete minutos do primeiro tempo da prorrogação, com gol contra de Maggio.

Quatro minutos depois, após jogada de Marchisio, Vucinic marcou o quarto e o gol do título bianconero. Com o final do jogo, a revolta napolitana foi tão grande que ninguém do Napoli foi receber as medalhas do vice-campeonato. A Juventus, que não tinha nada a ver com a revolta napolitana, festejou o seu triunfo.

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