Quando Gérson chega no estúdio da rádio Bradesco Esportes FM, tudo para. As atenções se voltam para ele. O programa se volta para ele. Quando o tricampeão do mundo fala, todos prestam atenção. E ele gosta de falar. E fala tudo, sem medo, vergonha, pudor. Não à toa seu apelido, quando jogava, era papagaio. A entrevista exclusiva que o Canhotinha de Ouro concedeu à VAVEL Brasil foi no estúdio, diante dos microfones, que são seus companheiros de trabalho desde 1974, quando começou a comentar futebol na Rádio Tupi.

A frase que mais define Gérson é a que José Carlos Araújo, um dos maiores locutores esportivos da história do rádio brasileiro, usa quando anuncia o Canhota nos microfones: "tricampeão do mundo na bola, campeão todo dia na latinha". O ex-craque da Seleção Brasileira continua sendo craque todo dia. Quando jogava, era craque com os pés, nos lançamentos mágicos, nas jogadas ofensivas ao lado de Pelé, Garrincha, Rivelino, Tostão e companhia. Hoje, sua genialidade se expressa no rádio. Quem ouve, pode constatar isso.

A Seleção Brasileira foi o tema da nossa conversa, que era interrompida, de vez em quando, para Gérson dar sua opinião no programa que estava no ar na rádio. Ele conseguia prestar atenção nas duas coisas ao mesmo tempo: na nossa conversa, e nos temas debatidos no programa. E ainda arrumava tempo para fazer voar pelo estúdio suas gaivotas de papel. Ele não consegue ficar parado. "Quando criança, apanhava que nem remédio: de três em três horas", conta o craque, nascido e criado em Niterói, cidade que vive até hoje.

Comecei logo pelo tema que sabia que ele queria se expressar: a construção dos estádios para a Copa das Confederações e Copa do Mundo. "Achei um absurdo! O Brasil não está preparado pra isso, principalmente pra Olimpíada. Enquanto os hospitais estão fechados, a insegurança é total, eles gastam milhões em estádio. Estamos no país certo, com os políticos errados. O pior é que eles gostam de aparecer e se metem no esporte", esbraveja, com propriedade, o tricampeão do mundo.

Os milhões se tornaram bilhões. E parte desse dinheiro foi gasta no Maracanã, palco de grandes partidas de Gérson, que jogou no Flamengo, seu primeiro time profissional, no Botafogo e no Fluminense, seu time de coração. "Pra dizer a verdade, ainda não fui no Maracanã. Quem foi diz que está uma maravilha, mas ainda falta muita coisa, principalmente no lado de fora. Pelo alto custo, quem assumir agora vai querer faturar. Com preços altos, o povo não vai poder ir. O estádio vai ficar às moscas", teme o Canhotinha.

Dentro das quatro linhas, Gérson também não está muito otimista com o Brasil. "O Brasil só é favorito porque está dentro de casa, mas essa seleção não está pronta. Se jogasse fora, com esse time, não ia conseguir nada", garante. O Canhota vê a Copa das Confederações como um treinamento para a Copa do Mundo. Nela, Felipão teria que achar um time para a Copa. Felipão que, na opinião de Gérson, não é o cara certo para a Seleção. Para ele, se o time fosse comandado por Tite, por exemplo, não estaria no estágio atual.

Na época em que jogava, Gérson tinha ao seu lado craques que decidiam para a Seleção. Quando não, ele mesmo decidia. O time de hoje é bem diferente. "Hoje em dia não tem ninguém para decidir. Quem deveria, não está jogando nada, que é o Neymar. Hernanes, Paulinho e Oscar podem ser decisivos, mas têm que jogar juntos", afirma Gérson. Sobre Ronaldinho e Kaká, duas figuras importantes e que poderiam ser decisivas, ele acha que o primeiro deveria ser convocado. Kaká, não. "Ele é reserva no Real Madrid!".

Se o time não tem um cara que resolva, quiçá um canhoto, como Gérson. O único do sistema ofensivo da Seleção é Hulk, que não vem bem. Para Gérson, o time não precisa, necessariamente, de um canhoto que resolva. "Falta, para a Seleção, jogadores inteligentes no meio. O Felipão quer botar um zagueiro no meio! Aí complica tudo". Poderia ficar conversando com ele por mais horas, mas ele tinha que ir para o estúdio da tevê, onde, como todos os dias, daria suas opiniões. Além de fera na latinha, é fera na telinha também. Ele não disse, mas eu arrisco a dizer que falta um Gérson na Seleção. Tanto dentro, quanto fora do campo. 

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