Se existe uma decisão entre Atlético e América que pode se assemelhar com o embate desta temporada é a final do Campeonato Mineiro de 1999. O Coelho chegou a tomar a vantagem atleticana, mas o Galo levou a melhor na grande final ao derrotar o Coelho por 1 a 0, com gol marcado pelo meia Lincoln, aos 36 minutos do primeiro tempo. O alvinegro não conquistava um Estadual desde 1995.

Na ocasião, o Campeonato Mineiro se apresentava com oito equipes. Os quatro melhores colocados da temporada anterior, Atlético, América, Cruzeiro e Villa Nova aguardariam os quatro melhores da Taça Minas Gerais. O campeão do torneio foi a URT, seguido por Democrata-GV, Caldense e Valério Doce.

Enquanto a Taça Minas Gerais era disputada pelos clubes do interior mineiro, os três grandes da capital mais o Villa Nova disputavam entre si a Copa dos Campeões Mineiros. Uma espécie de torneio "regional" que corria junto com os demais campeonatos inter-regionais, como Rio São Paulo, ou Copa Nordeste. O campeão de MG teria vaga garantida em uma decisão contra o vencedor da Copa Centro-Oeste. Na ocasião, o Cruzeiro foi o vencedor em solo mineiro, e encarou o Vila Nova-GO, ganhador na região central do Brasil.

Após a Copa dos Campeões Mineiros teve início o Campeonato Mineiro, com oito times, disputando jogos em turno e returno. Os dois melhores classificados fariam a decisão. O Atlético terminou em primeiro lugar, e o América fechou a fase de classificação em segundo.

Como eram os postulantes ao título mineiro?

Foto: Reprodução/Camisa Doze

O Atlético era um bom time, mas teve seu elenco montado no decorrer da temporada. Começou o ano sob o comando técnico de Toninho Cerezo, que acabou demitido após perder a Copa dos Campeões Mineiros para o Cruzeiro. O uruguaio Dario Pereyra, outrora treinador do São Paulo foi contratado para dirigir a equipe.

O alvinegro não vivia um bom momento dentro e fora de campo. Se o elenco ainda não era dos melhores, nos bastidores, a equipe procura um local para treinar. Chegou a treinar no campo da Fiat, em Betim, e também no Estádio Independência.

Aos poucos, o Atlético foi trazendo jogadores pontuais para o elenco, que já tinha Marques, como grande ídolo e maior destaque. Chegaram o meia Robert, os volantes Belletti e Gallo, e o lateral-esquerdo Ronildo.

Já o América tinha uma equipe composta por jogadores que estavam no clube há vários, entre atletas vindos de outras agremiações, e outros formados nas categorias de base do Coelho. Destacavam-se no time o goleiro Milagres, a dupla de zaga Wellington Paulo e Dênis, os volantes Gilberto Silva e Marco Antônio Boiadeiro, e os atacantes Somália e Rinaldo. O treinador era o jovem Flávio Lopes.

A campanha

Durante o Campeonato Mineiro, nenhuma das duas equipes deixou de postular uma vaga na decisão. Atlético, América e Cruzeiro se alternavam na ponta da tabela. O Coelho, com uma equipe mais estável, nunca deixou de estar entre os dois primeiros que iriam à decisão. Já o Galo, que começou razoavelmente bem, deixou os torcedores com dúvidas quanto à chegada da equipe na final mineira.

Enquanto o América fazia uma campanha excelente, o Atlético chegou a ficar quatro jogos sem vencer, e só chegou a decisão porque pegou o embalo de cinco vitórias seguidas. Na última rodada, o Cruzeiro era líder com 27 pontos. O Coelho vinha em seguida com 26, e o Galo estava em terceiro, com 25.

Na última rodada, o América enfrentou o Villa Nova e empatou por 2 a 2. O Atlético precisava vencer para chegar a decisão. O Cruzeiro dependia apenas de um empate. O Galo jogou sua melhor partida no ano até então e venceu o time celeste por 2 a 0, com gols de Marques e Lincoln. O alvinegro não só chegou conseguiu a vaga na final do Campeonato Mineiro, como também levou um ponto de bonificação que era dado ao campeão da primeira fase.

A decisão: Três jogos eletrizantes e equilibrados

Os três jogos foram no Mineirão e sempre um com excelente público. No primeiro embate, o América venceu por 2 a 1, com gols de Irênio e Gilberto Silva. O Atlético diminuiu com Lincoln. Nesta partida, o grande vilão foi o goleiro Emerson.

O camisa 1 atleticano, que chegou a ser convocado por Vanderlei Luxemburgo para a Seleção Brasileira, falhou no segundo gol americano, ao sair errado na cobrança de escanteio. O arqueiro já vinha sendo cobrado pelos torcedores antes mesmo da decisão.

Na segunda partida, uma quinta-feira à noite, o América precisava apenas de mais uma vitória para ser campeão mineiro. Ao Galo bastava um empate para forçar o terceiro jogo. No gol atleticano, Kleber, o reserva de Emerson, assumiu a titularidade. O Atlético abriu o placar com Belletti, mas o Coelho empatou com Irênio, cobrando penalidade máxima.

O goleiro alvinegro quebrou o braço após fazer uma defesa milagrosa. Coube ao criticado Emerson voltar à meta e segurar o empate. A grande final ficaria para o domingo.

Na grande decisão, o Mineirão estava lotado, com mais de 70 mil pagantes. O Atlético teria que vencer a qualquer custo. Ao América, caberia apenas o empate. O goleiro Emerson estava de volta a meta atleticana. Mesmo com todas as críticas, o camisa 1 foi importante naquela partida.

O gol do título aconteceu em um pênalti marcado pelo árbitro Lincoln Afonso Bicalho, hoje falecido, em cima de Marques. Uns dizem que o atacante do Atlético teria puxado o volante Ruy pela camisa. Outros garantem que foi o americano que agarrou o camisa 9 do Galo. Lincoln, que não tem nada a ver com isso, bateu a penalidade muito bem e fez o gol do título. No segundo tempo, o volante Gallo sofreu um corte no supercílio esquerdo, e voltou a campo, demonstrando a raça atleticana. O América pressionou, mas não conseguiu empatar. No final, vitória atleticana e o 37º título mineiro estava garantido.