Com a precoce eliminação na Copa Libertadores da América, o Botafogo inicia mais uma edição do Campeonato Brasileiro em dívida com a sua torcida. Se no ano passado, após conquistar o Campeonato Carioca ganhando os dois turnos, o então time de Clarence Seedorf iniciava a disputa do campeonato nacional pensando em conquistar o título brasileiro, a realidade desse ano é completamente diferente. No campeonato anterior, a ex-equipe de Oswaldo de Oliveira terminou de forma honrosa, na quarta colocação, voltando, após 17 anos, a disputar uma Libertadores.

O novo ano chegou, mas problemas financeiros, salários atrasados e uma profunda reformulação de elenco feita pela diretoria, comprometeram os quatro primeiros meses do ano, o que deu um tom de drama e medo ao botafoguense. Neste guia, a VAVEL Brasil traz em detalhes como o Botafogo está se preparando para mais um Brasileirão.

Memória

1995 foi o último grande suspiro do torcedor do Botafogo

O ano que marca uma geração botafoguense. Campeão brasileiro com mais de cinco meses de salários atrasados, a geração de Túlio Maravilha, Wágner, WIlson Gottardo, Gonçalves, Sérgio Manoel, Donizete entre outros, brilhou e deu ao Botafogo o seu primeiro trófeu do Campeonato Brasileiro - posteriormente com a decisão da CBF de reconhecer a Taça Brasil como Campeonato Brasileiro, o título de 95 acabou sendo o segundo da história.

Em 1968, a Estrela Solitária levantou o seu primeiro trófeu ao bater o Fortaleza na final pelo placar agregado de 6 a 2. Na primeira partida, no Ceará, empate em 2 a 2. Na decisão, no Maracanã, vitória por 4 a 0, com gols de Roberto, Afonsinho e Ferreti, duas vezes. Esse esquadrão alvinegro foi considerado um dos melhores da década por ter levado também o Campeonato Carioca de 1968.

Em 1995, numa final épica contra o Santos de Giovanni e Narciso, erros de arbitragem marcaram a decisão. No primeiro jogo, no Rio, vitória do time carioca por 2 a 1. Gottardo e Túlio marcaram para o Glorioso, Giovanni foi o autor do gol santista. Na partida decisiva, no Pacaembu, em São Paulo, empate em 1 a 1, gols de Túlio e Marcelo Passos. O resultado deu o inédito título ao Botafogo. Esse confronto ficou marcado pelos gols irregulares, visto que Túlio, no lance do gol, estava impedido e Marcelo Passos recebeu a bola de Marquinhos Capixaba que, no chão, acabou levando a pelota com a mão.

"Foi a vitória da humildade, de quem não cantou vitória antes da hora. É uma vitória do futebol carioca. O futebol do Rio provou ser o mais alegre e o melhor do Brasil.", disse Túlio logo depois da conquista.

Na última edição...

A equipe de Oswaldo de Oliveira entrou no Campeonato Brasileiro de 2013 como campeã carioca. Liderados por Fellype Gabriel, Clarence Seedorf e Rafael Marques, o Botafogo apresentava um futebol vistoso e terminou entre os quatro primeiros colocados antes da pausa para a Copa das Confederações. Entretanto, com o fechamento do Engenhão, em Março, a estrutura financeira do Botafogo foi comprometida. Com isso, Fellype Gabriel e Andrezinho tiveram que ser negociados. O temor de que houvesse uma demandada era geral e os atrasos salariais eram constantes, o que fez, por exemplo, com que o Botafogo abolisse a concentração nos jogos como mandante.

À esquerda, como começou; à direita como terminou

Na volta após a Copa das Confederações, uma nova estrela surgiu: Vitinho. Oriundo das categorias de base do Botafogo, o jovem jogador logo conquistou a torcida com seus gols e assistências. Porém, devido a uma multa rescisória baixa, o garoto da Zona Oeste foi vendido na última semana da janela de transferências. Com mais uma perda, Oswaldo teve que reinventar, de novo, a Estrela Solitária. Elias apareceu com gols importantes e, mais a frente, Hyuri, jovem jogador que viera do Audax, brilhou em alguns jogos garantindo pontos importantíssimos.

Com a grande quantidades de partidas na temporada, o nível físico e futebolístico caiu, e o Botafogo por muito pouco não deixou escapar, novamente, a vaga na Libertadores. Com um elenco esfacelado e a grande maioria dos jogadores exauridos, casos de Seedorf e Rafael Marques, que não mantiveram o ritmo do primeiro turno, Oswaldo de Oliveira conseguiu levar o Botafogo de volta a uma Copa Libertadores da América.

Classificação final do Brasileirão 2013 PTS JGS
Cruzeiro 76 38
Grêmio 65 38
Atlético-PR 64 38
Botafogo 61 38
Vitória 59 38
Goiás 59 38

O nome de 2013: Clarence Seedorf

Foto: Reprodução / Botafogo FR
Seedorf na sua apresentação em julho de 2012 (Foto: Divulgação/Botafogo)

A maior contratação de um estrangeiro no futebol brasileiro. Assim pode ser definida a chegada de Clarence Seedorf pelo Botafogo. Contratado em julho de 2012, ele não ajudou o Botafogo a ir à Libertadores da América em 2013. Entretanto, com a virada do ano e pré-temporada, Clarence Seedorf assumiu mais do que nunca o papel de referência do elenco alvinegro. Com participação fundamental no título do carioca, único título conquistado pelo holandês no clube carioca, Seedorf prometeu mais para o Brasileiro.

Seedorf devolveu ao Botafogo a possibilidade de sonhar com voos maiores

Se no Milan ele jogava como volante, no Botafogo o astro jogava como um autêntico camisa 10, e até como falso nove. Foi dessa maneira que o jogador participou de 56 partidas na temporada – o maior número de jogos na carreira. Com 15 gols marcados e inúmeras assistências no ano, o meio-campista foi o destaque de 2013 e no Campeonato Brasileiro.

Apesar de toda a idolatria conquistada quase que instantaneamente, o jogador encontrou problemas no final de sua passagem pelo clube de General Severiano. Criticas à torcida do Botafogo e a sua não ida ao estádio se tornaram comuns e uma queda de rendimento devido ao aspecto físico foi outro fator que marcou o final de sua carreira. No dia 14 de janeiro de 2014, Clarence Seedorf anunciou a sua aposentadoria e deixou o Botafogo para comandar o Milan.

O ínicio de temporada

Sem Oswaldo de Oliveira, que fora treinar o Santos, sem Rafael Marques que foi para a China e sem Clarence Seedorf, que se aposentou, o Botafogo iniciou os preparativos de técnico novo para o ano de 2014, de olho na Libertadores da América. Ex-auxiliar de Oswaldo, Eduardo Húngaro era o nome de Maurício Assumpção para comandar o Botafogo no ano mais importante desde o título brasileiro, conquistado em 1995. No sorteio realizado no último mês de 2013, ficou definido que o adversário do Botafogo na pré-libertadores seria o Deportivo Quito, do Equador. O jogo de ida seria no Equador, a volta no Rio de Janeiro.

Paralelo a Libertadores, mais um Campeonato Carioca se iniciara e o Botafogo com um time B não dava a necessária atenção. Com dois empates com o time B e uma vitória com o time titular, a equipe de Eduardo Húngaro foi ao Equador jogar a primeira perna do confronto. Postura apática e derrota por 1 a 0. No jogo de volta, com um Maracanã cheio - mais de 50 mil pessoas foram ao jogo -, o Botafogo goleou o Deportivo Quito por 4 a 0 e se classificou à fase de grupos da Copa Libertadores da América. Na semana seguinte, novo show da torcida e nova vitória em cima do San Lorenzo por 2 a 0. Se na Libertadores, o Botafogo cumpria seu papel, no Campeonato Carioca a situação era crítica. Más atuações fizeram com que, aos poucos, uma eliminação antecipada fosse mais do que provável. Na Libertadores, um empate contra o Unión Española, no Chile, garantiu o Botafogo na liderança da chave.

Vexame na Libertadores marcou de forma negativa o primeiro semestre

Na volta ao Rio, novo tropeço por 2 a 0 diante do Macaé. Com tantos resultados negativos, a eliminação no Campeonato Carioca acabou vindo de forma antecipada na 13ª rodada numa derrota para o Flamengo por 2 a 0. A torcida começava a se incomodar com os resultados e com Eduardo Hungaro, mas a boa campanha na Libertadores era vista por todos como um motivo de confiança. Depois da derrota fora de casa para o Independiente Del Valle, o Botafogo encerrou a sua participação no Estadual com um empate por 1 a 1 contra o Nova Iguaçu .

Com o foco total na competição continental, o Botafogo derrotou o Independiente Del Valle, no Maracanã, pelo placar de 1 a 0. Sem jogos à disputar no torneio regional, o time da Estrela Solitária ficou treinando por duas semanas a espera do jogo que poderia classificar o time de maneira antecipada e em primeiro lugar na chave: a partida contra o Unión Española, no Maracanã, no dia 02 de abril. Mesmo com um apoio espetacular vindo das arquibancadas, o alvinegro carioca acabou sendo derrotado pelo placar de 1 a 0. O resultado obrigava o time a derrotar o San Lorenzo, na Argentina, pela última rodada da fase de grupos. No país vizinho, nova derrota por goleada por 3 a 0 e, como conseqüência, uma improvável eliminação da Copa da Libertadores da América.

Torcedores foram ao aeroporto protestar (Foto:Gustavo Rotstein/Globoesporte.com)

De volta ao Brasil, protestos foram realizados contra Eduardo Húngaro e Maurício Assumpção, presidente do clube. Para apaziguar os ânimos, Assumpção anunciou a demissão de Eduardo Húngaro, rebaixando-o a auxiliar técnico. No sábado (12), quase 50 torcedores foram à General Severiano pedir a renúncia de Maurício Assumpção. Sem dinheiro, com salários atrasados, novo comandante e apenas Emerson Sheik contratado, o Botafogo inicia o Campeonato Brasileiro de 2014 de maneira totalmente oposta ao de 2013.

Quem comanda: Vágner Mancini

Contratado para o lugar de Eduardo Hungaro, Vagner Mancini assinou com o Botafogo até o fim de 2014. Com passagens por Grêmio, Santos, Vasco e Cruzeiro, o treinador não tem títulos importantes na carreira. Mancini chega ao Glorioso credenciado pelo bom trabalho com o Atlético Paranense na temporada passada, quando levou a equipe de Curitiba à Libertadores e ao vice-campeonato da Copa do Brasil. Cercado de expectativas, o novo comandante tem como missão levar o alvinegro carioca de volta à Libertadores da América.

No seu último time, o paulistano apostou num 4-3-1-2 com liberdade para o trio ofensivo do Atlético, que era formado por Paulo Baier, Marcelo e Ederson. O trio de volantes tinha como destaque Evérton, falso volante e válvula de escape pelo lado esquerdo. Aliado a uma boa defesa formada por Léo, Manoel, Luiz Alberto e Pedro Botelho, e com uma preparação física invejável, o CAP teve uma temporada de sucesso. No Botafogo, a expectativa é pela manutenção do 4-2-3-1 com bastante posse de bola e um padrão definido, ao contrário do estilo de seu antecessor, Eduardo Hungaro.

Vagner Mancini terá trabalho no Botafogo (Foto: Divulgação/Botafogo)
Vagner Mancini terá trabalho no Botafogo (Foto: Divulgação/Botafogo)

Quem decide: Jefferson

Titular absoluto do Botafogo há quatro temporadas e meia e goleiro reserva da seleção Brasileira, Jefferson de Oliveira Galvão é o destaque do elenco botafoguense. Depois de sair do Botafogo em 2005 rumo à Turquia, o arqueiro voltou em 2009 para salvar o Glorioso de um rebaixamento, que parecia ser bem provável. Em 2010, foi campeão carioca ao brilhar na final contra o Flamengo, ao defender o pênalti de Adriano Imperador.

Com tamanha regularidade, o goleiro foi convocado pelo então técnico da seleção Brasileira, Mano Menezes, e não saiu mais de lá, mesmo com a troca no comando técnico. Dono de técnica apurada e reflexos incríveis, Jefferson é figura certa na Copa do Mundo de 2014 e é o grande nome botafoguense para o Brasileirão.

Quem promete: Emerson Sheik

O novo camisa 7 é a grande contratação para a temporada. Assim pode ser definida a chegada de Márcio Passos de Albuquerque, ou Emerson Sheik, ao Botafogo de Futebol e Regatas. Depois de um período em baixa no Corinthians, Emerson chega ao Rio para tentar brilhar pelo seu terceiro clube carioca na carreira. No Flamengo, em 2009, foi campeão brasileiro. No ano seguinte, pelo Fluminense, novo título brasileiro. Em 2011, o então atacante tricolor saiu em baixa do clube das Laranjeiras e foi para o Corinthians, para ganhar absolutamente tudo. Campeonato Paulista, Campeonato Brasileiro, Copa Libertadores, Mundial de Clubes e Recopa Sul-Americana. Cinco títulos que Sheik ganhou, o que o fez ser alçado ao patamar de ídolo pelo time do Parque São Jorge. Em baixa no segundo semestre de 2013 e no começo de 2014, o jogador foi negociado pela diretoria.

No Botafogo, vem para ser titular absoluto e para contribuir com um certo perfil que andava em falta no clube carioca, desde a saída de Loco Abreu, em 2012. Com seu jeito marrento, sincero e até ponto polêmico, ele é visto pela torcida botafoguense como um cara que atrai títulos. Por tudo isso e pelo futebol que ainda joga, Emerson será a grande esperança alvinegra para uma temporada de sucesso.

Emerson ao lado do gerente de futebol, Sidnei Loureiro (Foto: Divulgação/Botafogo)

O desafio

O Botafogo entra no Campeonato Brasileiro disposto a voltar à Copa Libertadores da América. Se nos últimos anos, o clube fracassou nas rodadas finais, em 2013 foi diferente. Sob o comando de Vagner Mancini, a expectativa da diretoria alvinegra e de grande parte da torcida é de uma campanha digna e vitoriosa. Entretanto, o elenco mediano e a falta de peças de reposição podem comprometer esse sonho.

O desafio de todos, passando por jogadores, comissão técnica e diretoria, é levar o Botafogo de volta à maior competição internacional do continente seja pelo Campeonato Brasileiro ou pela Copa do Brasil, competição que o Glorioso entra a partir das oitavas de final.

Avaliação VAVEL

Diferentemente dos anos anteriores, o Botafogo se enfraqueceu muito - o fracasso na Libertadores é a maior prova disso. Repetir a campanha do ano passado é algo bastante utópico, até mesmo para os mais otimistas. A equipe de Vagner Mancini deve brigar para ficar no meio de tabela, sem chances de terminar no pelotão da frente, mas também sem chances de ser rebaixada.