Ser eliminado nas oitavas de final da Copa do Brasil pode não ser o resultado dos sonhos para um grande clube, mas está longe de ser, ao menos em tese, um vexame. Para o Corinthians, no entanto, a noite desta quarta-feira (3) reserva apenas uma possibilidade para afastar a crise que já anda rondando o CT Joaquim Grava: despachar o Bragantino, evitar uma enorme decepção e seguir para as quartas de final do torneio.

O ano corinthiano é quase uma montanha-russa de emoções. Depois do começo conturbado e da vergonhosa eliminação na primeira fase do Paulistão, o time de Mano Menezes se encontrou, achou sua formação ideal e engrenou no Brasileirão. Na Copa do Brasil, classificação sem susto nas três fases iniciais. De algumas semanas para cá, no entanto, os bons ventos mudaram de direção e tudo começou a dar errado: os resultados não vieram, o desempenho caiu e problemas extracampo pioraram ainda mais a situação.

Na semana em que completa 104 anos - o aniversário foi na última segunda-feira (1) - o Corinthians tem a pouco agrádavel missão de, na visão da torcida, "não fazer mais que a obrigação", ou passar pelo primeiro vexame sem precedentes da história do seu novo estádio, em Itaquera. A derrota por 1 a 0 no jogo de ida, aliada a mais um empate, no domingo (31), em casa, contra o Fluminense, já fez com que alguns torcedores mandassem, nas arquibancadas, o recado: "é quarta-feira". Não há nenhuma dúvida de que, em caso de eliminação, dias difíceis virão.

Para o Bragantino, a situação é quase totalmente oposta. Com um time bastante limitado, o Leão patina na Série B e só conseguiu deixar a zona de rebaixamento no sábado (30), ao vencer o ABC. Na Copa do Brasil, eliminar o Figueirense já foi algo além dos objetivos mais plausíveis. A derrota por 2 a 1 "em casa" (a diretoria mandou o jogo em Ribeirão Preto para lucrar com a renda) para o São Paulo, no jogo de ida da terceira fase, parecia o fim da linha. Mas, no Morumbi, o Massa Bruta surpreendeu a todos e conseguiu vencer por 3 a 1.

Chegar às oitavas de final, para quem nunca havia passado da segunda fase, já foi um feito histórico. O campeão paulista de 1990 e vice-campeão brasileiro de 1991 foi sorteado para enfrentar o Corinthians e não pensou duas vezes em jogar duas vezes fora de casa. Mandou a partida de ida em uma Arena Pantanal tomada por corinthianos e venceu. Uma vitória que reacendeu as esperanças de dar mais um passo adiante, de, mais uma vez, fazer história. Se para o Timão avançar é obrigação, para o Braga, o que vier, é lucro.

A vitória por 1 a 0 na última quarta-feira (27) dá ao clube do interior a vantagem de jogar por um empate ou mesmo por qualquer derrota por um gol de diferença. A única exceção é o 1 a 0, que leva a disputa para os pênaltis. Se quiser avançar já no tempo normal, o Timão precisará vencer por dois ou mais gols de diferença. Corinthians e Bragantino se enfrentam a partir das 22h, na Arena Corinthians, na Zona Leste da Capital Paulista.

Pressão, desfalques e julgamentos: os fantasmas do Corinthians

O Corinthians já tinha algo a lamentar para o jogo de volta dessas oitavas de final antes mesmo de conhecer o seu adversário nesta etapa. No meio do mês de agosto, quatro jogadores do Timão foram convocados para os amistosos de suas respectivas Seleções: os brasileiros Gil e Elias, o uruguaio Lodeiro e o peruano Guerrero, que até tentou uma liberação com a Federação local, mas não obteve êxito. Além de dois jogos pelo Brasileirão, os atletas também perderão essa partida decisiva.

Com o tempo, porém, este acabou se tornando o menor dos problemas: os empates em casa contra Bahia e Fluminense, a derrota para o Grêmio em Porto Alegre (todos pelo Brasileirão) e o inesperado revés na Copa do Brasil, criaram um clima de muita pressão no elenco corinthiano. Não só por conta dos resutados, mas, principalmente, pelas atuações ruins. A outrora intransponível defesa, falha muito; O badalado meio-campo, pouco cria; o promissor ataque, quase não aparece. Em meio ao desespero na partida de Cuiabá, Mano Menezes ainda perdeu Ferrugem, expulso nos acréscimos ao matar um contra-ataque do adversário.

Como se não bastassem os problemas dentro do campo, surgiram outros, que podem se tornar muito maiores, fora deles. Não é de hoje que o Corinthians sofre com as punições do STJD, mas, de uns tempos para cá, a situação piorou. Petros pegou 180 dias por agressão ao árbitro e Guerrero será julgado pelo mesmo motivo, mas isso não é quase nada. Ainda que passe pelo Bragantino, o Timão corre o risco de abandonar o torneio e perder 21 pontos no Brasileirão por conta de um erro na inscrição do próprio Petros no Boletim Informativo Diário da CBF, o BID.

Em todo caso, Mano Menezes e elenco precisam, na medida do possível, esquecer tudo e focar na decisão. Nesta terça-feira (2), Mano comandou o último treinamento antes da partida sob os olhares atentos do Presidente Mário Gobbi. Como costuma fazer antes de toda decisão onde exista essa possibilidade, o treinador colocou os atletas para treinarem cobranças de pênalti e essa foi a única parte dos trabalhos que foi aberta para a imprensa.

Os problemas, porém, não ficaram de fora da entrevista coletiva com o comandante do alvinegro. Para Mano, os desfalques prejudicarão sim o time, mas darão ainda mais garra para enfrentar essa partida decisiva: "Nesse caso específico, as ausências ajudaram ainda mais para mostrar a necessidade de um espirito forte para o jogo. O caráter decisivo já levava para essa direção. À medida que você perde jogadores importantes, o grupo se sente na necessidade de dar uma resposta. É assim que estamos vendo essa oportunidade", afirmou.

Bragantino desembarca na Capital para fazer história

Esse é, inegavelmente, o melhor momento do ano para o Bragantino. A boa campanha na Copa do Brasil evidentemente contribui para isso, mas o alívio mesmo vem por conta de outro torneio: o Brasileirão da Série B, onde a equipe enfim conseguiu sair da zona de rebaixamento ao final do primeiro turno. Sem qualquer tipo de pressão pela classificação, o Massa Bruta está tranquilo e preparado para, mais uma vez, fazer história.

O experiente PC Gusmão, responsável direto pelo bom momento do Leão, não esconde o alívio com o bom momento e encontra ainda mais motivos para sorrir: os atacantes Mota e Léo Jaime, o volante Geandro e o lateral-direito Robertinho estão novamente à disposição e o volante Jackson Caucaia é o único desfalque.

Por tudo isso, ele ainda não confirma a escalação oficial: "Titular absoluto comigo não existe. O Léo Jaime se recuperou de uma lesão no tornozelo e pode voltar. Temos várias outras peças à disposição. Existe luta todos os dias pela oportunidade. Meu time trabalha com os pés no chão"

O treinador ainda valorizou o resultado conquistado em Cuiabá, mas faz questão, a todo momento, de ressaltar: o favoritismo está com o Corinthians. "O favoritismo é todo do Corinthians. Conseguimos fazer um resultado lá em Cuiabá e sabemos que o jogo vai ser uma guerra".

Ele pede principalmente para que o time tenha calma e, principalmente, muita atenção para esse jogo tão importante: "Precisamos principalmente de pés no chão. Atenção é fundamental. Acho que se você ficar na retranca, é perigoso. Desde que cheguei, isso não existe. Jogamos com três atacantes em todas as partidas. Respeito grande a todos os adversários. Mas isso não quer dizer que vamos temê-los", finalizou.

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