Em 14 de novembro de 2013, o técnico que já era campeão de tudo pelo Corinthians se despedia do Parque São Jorge pela segunda vez. Naquele ano, mesmo com a eliminação do Corinthians de forma extremamente questionável pelo Boca Juniors na Taça Libertadores, a equipe comandada por Tite conquistou o Campeonato Paulista e a Recopa Sul-Americana, sobre o rival São Paulo. Com um período de instabilidade que se seguiu no Brasileirão após as conquistas, a diretoria acreditou que o momento de Tite no clube já havia passado, e decidiu não renovar contrato com o treinador gaúcho. 

Apesar de não ter o desejo de deixar o Timão, Tite não guardou ressentimentos do clube após sua saída. Sem receber o convite para assumir a Seleção que tanto esperava, fez a escolha de não emendar trabalho em nenhum outro clube. Para Adenor Bachi, 2014 seria um ano sabático, utilizado para atualizar-se com alguns dos melhores técnicos da Europa e dedicar-se 100% a estudar o futebol. E essa escolha, segundo o próprio treinado, fez dele um profissional melhor. 

Buscou, com humildade, conhecer e aprender tudo aquilo que não dominava como técnico. Uma das grandes marcas dessa experiência vivida por Tite é, sem sombra de dúvida, o esquema tático 4-1-4-1 que fez parte da fórmula para a conquista do hexacampeonato. Durante sua segunda passagem pelo alvinegro, pouco antes de sua saída, uma das maiores críticas que sofria era ao fato de sua equipe possuir mais força defensiva que ofensiva (na época, seus comandados posicionavam-se na formação 4-2-3-1), o que lhe rendeu o apelido de retranqueiro. A verdade é que Tite não tinha domínio sobre a formação 4-1-4-1, e entendê-la e aprender a aplicá-la em futuros trabalhos acabou virando sua grande obsessão para 2014. 

Na montagem de times com este sistema, sua grande referência era o treinador Carlo Ancelotti. E foi com o técnico italiano que fez um período de estágio no Real Madrid. Essa formação, colocada em prática no Corinthians de forma bem compacta, é ideal para que se formem as triangulações entre os jogadores, de onde geralmente saíam os gols da equipe e que sempre oferecem mais de uma opção para criar jogadas para jogadores pressionados pela marcação. Mas as lições de Ancelotti não terminaram na parte tática. Tite aprendeu a manter o estilo sóbrio, formou grupos em que tinha ótima relação com os jogadores e formou times equilibrados, embora com traços mais ofensivos (características fortes de seu professor italiano). 

As viagens de Adenor porém, não pararam na Espanha. Foi na Inglaterra, com o técnico do ArsenalArsène Wenger, que Tite aprendeu as várias funções que poderia ter uma ferramenta que ele mesmo já havia usado no Corinthians: os vídeos de seus jogadores em ação durante as partidas. O gaúcho tinha o costume de utilizar os vídeos dos jogos de sua equipe apenas para fazer um estudo das principais características de seus adversários, mas Wenger fazia mais do que isso com as imagens. Através das gravações, o técnico frânces fazia a correção de erros que seus comandados cometiam durante os jogos, e reforçava seus acertos. O método, "simples" e brilhante, impressionou Tite, que passou a adotá-lo em sua terceira passagem pelo alvinegro paulista. 

Com as experiências, as diferentes visões do futebol que conheceu em seu ano sabático, Tite criou uma nova filosofia. Para o técnico que virou lenda no alvinegro, o trabalho com os atletas começa do lado de fora do campo. O treinador costuma se reunir com seus comandados, tanto antes quanto depois de seus jogos, para conversas que envolvem mais do que o desempenho do conjunto, mas também aquilo que eles sentem em relação ao grupo. Com a postura serena que tem, seu trabalho sempre começa através do diálogo, pois o jogador também faz parte das decisões táticas da equipe. Foi assim que o Corinthians de 2015 passou a adotar os ensinamentos deu seu renovado técnico e, ainda hoje com sua saída, mantem traços de uma equipe montada e estruturada pelo melhor treinador do Brasil.