Bicampeão brasileiro, o Grêmio chega ao Campeonato Brasileiro 2014 com a obrigação de ao menos repetir a temporada passada e ocupar um lugar na zona de Libertadores. No entanto, diferente do ano passado, a tarefa pode ser mais difícil. Com elenco com muitas diferentes e um elenco com menos estrelas, Enderson Moreira terá um grande desafio pela frente. Para alcançar o objetivo, a diretoria gremista apostou em contratação de jogadores pontuais, além de contar com algumas promessas das categorias de base.

Alguns problemas podem atrapalhar a campanha Tricolor. Assim como na última edição, o sistema defensivo é o ponto fraco da equipe, principalmente pela lateral-direita e o zagueiro do mesmo lado, que está em constante troca entre Werley e Bressan. Além disto, Enderson Moreira não tem reposição para algumas peças da equipe, como o destaque Luan e o centroavante Barcos.

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1996 e o último título do Brasileirão

Os anos 90 estão marcados na história do Grêmio. De Copa do Brasil à Libertadores, o clube passou por diversas conquistas. A última culminou em 96, quando o Campeonato Brasileiro foi conquistado após duas emocionantes contra a Portuguesa, a queridinha do Brasil à época. No campeonato, a equipe de Porto Alegre surpreendeu muito. Foram 14 vitórias, 6 empates e 9 derrotas, com 52 gols pró e 34 sofridos.

O Brasileirão daquele ano era obrigação ao clube. Apesar de conquistar a América em 95, a equipe teve um péssimo desempenho no Campeonato Brasileiro daquele ano e terminou apenas na décima quinta posição. A recuperação era necessária. Com boa base mantida de 95, o Grêmio terminou a primeira em sexto lugar, liderado por Carlos Miguel e o artilheiro do campeonato naquele ano, Paulo Nunes.

Na fase final, o Grêmio eliminou o Guarani com o placar agregado de 3 a 2. Na semifinal, o Grêmio enfrentou o Goiás e saiu com a superioridade de 5 a 3 no agregado. Na final, enfrentou a Portuguesa, que havia eliminado no Atlético Mineiro.

A primeira partida da final teve a vitória da Portuguesa por 2 a 0. Os gols da partida foram marcados por Gallo, no primeiro tempo, e Rodrigo Fabri na segunda etapa. No jogo de volta, a Lusa precisava apenas do empate para garantir o título da competição, e o Grêmio, para levantar a taça, precisava vencer. E foi o que aconteceu. Aos três minutos de partida, Paulo Nunes, destaque do Grêmio, abriu o placar. Aílton, o herói do título, entrou pouco antes de marcar o gol da vitória e que traria a taça ao Olímpico: aos 39 minutos, o meia encheu o pé e venceu a barreira de Clemer, goleiro da Portuguesa, tornando o Grêmio bicampeão brasileiro.

Aílton, o herói gremista, comemorando o gol salvador (Foto: Reprodução / Agência Estado)
Aílton, herói gremista, comemorando o gol salvador (Foto: Reprodução / Agência Estado)

O vice-campeonato de 2013

2013 não começou um grande ano para o Grêmio. Apesar do elenco cheio de estrelas e com forte investimento, o clube mais uma vez não conseguiu a conquista do Gauchão e de quebra, viu o maior rival levantar o tricampeonato da competição. Na Libertadores, a campanha na primeira fase motivou os torcedores, principalmente após a vitória por 3 a 0 diante do Fluminense no Rio de Janeiro. Para muitos, ali começava a caminhada para o título. Leve engano, apesar de classificado, a equipe foi eliminada para o Santa Fé nas oitavas-de-final.

Os fracassos balançaram o emprego de Vanderlei Luxemburgo, mas não o derrubaram. Com começo mediano no Brasil, após a parada para a Copa das Confederações, o treinador não resistiu à pressão de dirigentes e torcidas e foi demitido. Para seu lugar, Fábio Koff apostou em um velho amigo e ídolo da torcida tricolor, o ex-jogador Renato Gaúcho, que já havia comandado o clube em 2010.

Sob o comando de Renato, o Grêmio começou uma arrancada e somou boas exibições. Com o ídolo na área técnica e com um sistema de jogo defensivo, que apresentava três volantes e muita retranca, lutando por uma bola para definir a partida, Portaluppi levou o Grêmio à briga pelo título do campeonato.

No entanto, com poucas peças de reposição e com diversas lesões, além da péssima fase do centroavante Barcos, o Grêmio deixou de somar pontos importantes e caiu diante de adversários mais fracos tecnicamente. Este fato contribuiu para que o clube deixasse de lado a briga pela disputa do título e focasse na vaga para a Libertadores, onde lutou com o Atlético-PR pelo segundo lugar, e levou a melhor, garantindo a classificação direta para o maior torneio de futebol da América.

O nome de 2013: Rhodolfo

O Grêmio não contou com grandes atuações em 2013. No entanto, um jogador se destacou e não foi de forma ofensiva. Vindo por empréstimo do São Paulo, onde estava encostado e sem confiança, o zagueiro Rhodolfo caiu nas graças da torcida gremista em pouco tempo. Com garra e um estilo de jogo agressivo, Renato Gaúcho havia finalmente achado o xerife para seu sistema defensivo, dando suporte à Werley e Dida.

Rhodolfo foi essencial para a grande campanha no Brasileirão e também na Libertadores. O zagueiro, além de cobrir os erros de Werley e, às vezes Bressan que entrava em seu lugar, dava total liberdade para que Alex Telles, mais tarde eleito melhor lateral-esquerdo da competição, pudesse ir à linha de fundo, abusando da sua qualidade ofensiva.

O defensor além de seguro, ainda ajudou sua equipe com alguns gols importantes, que livraram de derrota e também deram a vitória. Grande parte do desempenho de 2013 passa por Rhodolfo e sua contratação.

2014 de altos e baixos

O atual ano do Grêmio começou de forma agradável. Apesar de alguns tropeços nas primeiras rodadas do Gauchão com time sub-20, quando os titulares de Enderson Moreira foram à campo, corresponderam. Com bons desempenhos no Gauchão, logo chegou o primeiro Gre-Nal. Com superioridade no elenco, o Grêmio não conseguiu agradar a expectativa e acabou apenas empatando o confronto. No entanto, ainda restava a Libertadores.

A equipe de Enderson Moreira não teve sorte na competição. No sorteio da fase de grupos foi sorteada para o Grupo da Morte, que continha Newell's Old Boys (ARG), Atlético Nacional (COL) e Nacional (URU). Apesar de contestado, o Grêmio iniciou muito bem o torneio, vencendo o Nacional em Montevidéu, no Uruguai. Nas partidas seguintes, o Grêmio ainda venceu o Atlético Nacional na Arena e teve dois empates contra o Newell's, antes de vencer novamente no Atlético Nacional, dessa vez na Colômbia. Na última partida, contra o Nacional, o clube garantiu a primeira colocação e enfrentará o San Lorenzo (ARG) nas oitavas-de-final.

Enquanto isso, no Gauchão, a fase era diferente. Apesar de algumas vitórias, os tropeços marcavam mais, como empate contra o Brasil de Pelotas e derrota para o São Paulo-RG, em Rio Grande. Mesmo assim, Enderson apostava em sua equipe. E surgiu uma grande revelação da base, após a lesão de Kleber. O jovem Luan apareceu como a grande aposta para o futuro gremista, apontado como o sucessor de Ronaldinho Gaúcho no clube.

Além das excelentes atuações de Luan, o clube ainda acertou o empréstimo do meia-atacante Dudu, ex-Cruzeiro e que estava no Dinamo de Kiev, da Ucrânia. O jogador somou-se à Luan e Barcos, que formaram um trio ofensivo que rendeu ótimas exibições, tanto quanto no Campeonato Estadual quanto na Libertadores.

Classificado para a próxima fase do Gauchão, o Grêmio enfrentou logo de cara um conhecido rival, o Juventude. Na Arena, a dificuldade para vencer não existiu, e foi para a semifinal, onde pegou o Brasil de Pelotas. No entanto, o Xavante dificultou o jogo, mas não o suficiente para tirar a vaga na final da equipe gremista. A final seria contra o maior rival, o Internacional, algo que não acontecia desde 2011.

Com pior campanha, o Grêmio mandou o primeiro jogo em seu estádio, na Arena. Saiu na frente com Barcos, mas cedeu a virada para o rival ao sofrer dois gols de Rafael Moura. Com desvantagem, o Grêmio foi à Caxias para a segunda partida e foi humilhado. Após encerrar o primeiro tempo perdendo por 1 a 0, na segunda etapa o placar encerrou-se 4 a 1 para o Inter, tornando uma das maiores goleadas do clássico no Gauchão.

Equipe gremista soube aproveitar o fator casa (Foto: Lucas Uebel / Grêmio)

Quem comanda: Enderson Moreira

Enderson Moreira jamais pensou que seu sucesso diante o Goiás no Brasileirão de 2012 fosse recompensado tão rapidamente. Após não renovar com Renato Portaluppi para a temporada 2014, Fábio Koff foi atrás de um treinador barato e com potencial. No Goiás, encontrou a resposta: Enderson Moreira seria o novo técnico do Grêmio. Em sua coletiva, o treinador confessou que não esperava a proposta do clube.

Apesar de alguns tropeções em jogos para times do interior, o novo comandante gremista montou um sistema tático sólido e de bom funcionamento. O 4-3-1-2-1 de Enderson funciona de excelente forma para seus comandados. Além disto, o treinador estava mostrando ter potencial para saber mexer na equipe e no sistema ofensivo e defensivo durante a partida, e ainda possui o mérito de dar oportunidade para os jovens da base.

No entanto, o Gre-Nal decisivo do Gauchão rendeu suas primeiras críticas, principalmente no segundo tempo da segunda partida, onde o Grêmio praticamente apenas assistiu o Internacional jogar. Mas não devem abalar o trabalho de Enderson, que segue forte no comando do clube e apoiado por diretoria.

Enderson Moreira soube aplicar seu método de jogo no Grêmio (Foto: Lucas Uebel / Grêmio)

Quem promete: Luan

Há muito tempo Luan é uma das promessas gremista, mas o craque não fazia parte dos planos de Enderson para a temporada e chegou a disputar a Copa São Paulo de Futebol Júnior. Após a lesão de Kleber Gladiador, o treinador do Grêmio precisou recorrer às categorias de base para achar alguma peça de reposição, e então encontrou Luan.

Em pouco tempo, o jovem atacante mostrou ser capaz de ser titular - e assim cumpriu as expectativas da torcida -. Com jogadas rápiadas e habilidosas por ambos os flancos, Luan é a principal promessa gremista para 2014. O jogador também pode atuar como meia-atacante, mais centralizado, apesar de que Enderson o prefere pelas pontas, variando entre direita e esquerda e chamando a marcação para que Barcos consiga mais tempo desmarcado.

No entanto, com uma fratura em dois ossos da mão, Luan perderá as primeiras partidas do Campeonato Brasileiro.

Luan assumiu rapidamente o posto de titular no lugar de Kleber (Foto: Rodrigo Fatturi / Grêmio)

Quem decide: Hernán Barcos

Barcos chegou ao Grêmio no início de 2013. Após boa temporada com o Palmeiras, o argentino foi envolvido em um negócio polêmico, que levava cinco jogadores do Grêmio para o Palmeiras, em troca do centroavante. Após conturbada negociação para que os escolhidos gremistam fossem para o clube paulista, Barcos estreou no Gauchão e Libertadores.

O primeiro ano de Barcos foi decepcionante. Nos primeiros meses, ainda com Luxemburgo, o atacante não conseguia marcar muitos gols, mesmo cumprindo sua função de origem. A bola simplesmente não chegava ao jogador. Após o fracasso no Estadual e na Libertadores, Renato chegou e a fase de Barcos piorou. O novo comandante fazia com que Hernán saísse da grande área para buscar jogo, o que tornava sua missão de marcar gols ainda mais difícil.

No entanto, em 2014, com Enderson Moreira, Barcos finalmente encontrou a boa fase no Grêmio. Artilheiro do Gauchão com 13 gols, Barcos também soma dois tentos na Libertadores e já tem 15 gols marcados, o que já torna os primeiros meses deste ano melhor que todo o 2013 do atleta. Em boa fase, o centroavante argentino é a grande esperança de gols para o Grêmio no campeonato.

O desafio

O grande desafio do Grêmio na temporada é manter o desempenho da Libertadores. O Gauchão não serviu como parâmetro, devido ao fraco nível técnico, apesar de três clássicos contra o Inter, onde o Grêmio não saiu vencedor em nenhum confronto. Enderson Moreira também precisará encaixar o fraco sistema defensivo da equipe, que conta com zagueiros inexperientes e que costumam falhar - exceto Rhodolfo, destauqe da equipe -. A lateral-direita também pode ser um problema, visto que Pará falha quando a bola vai à suas costas. Mais além, em desaio individual, Enderson precisa provar que está habilitado para conduzir um clube grande às glórias em cenário nacional.

Avaliação VAVEL

Assim como na última temporada, o Grêmio tem elenco para brigar por título. No entanto, sem peças de reposição para algumas posições, como ambas as laterais, e com a falta de um companheiro de segurança para Rhodolfo, Enderson Moreira terá enores dificuldades para isto. No mais, também conciliar a disputa da Libertadores com o início do Brasileirão pode ser difícil, no que pode resultar em provavelmente apenas em busca de uma vaga no G4.