O que era para ser um dos melhores anos da história da Ponte Preta, se tornou um pesadelo em 90 minutos. Com uma péssima campanha no Campeonato Brasileiro, a Macaca acabou rebaixada para a Série B, mas poderia salvar a temporada com o primeiro título de expressão de seus 113 anos: a Copa Sul-Americana. A derrota na final para o Lanús, porém, sepultou a chance de levantar uma taça internacional, de disputar a Libertadores e, de quebra, fez o 2013 campineiro ser um desastre.

O ano de 2014, porém, pode significar o recomeço para a Ponte. A derrota para o Santos nas quartas de final do Paulistão provou que a equipe não teria condições de disputar a primeira divisão, mas o desempenho no resto do torneio rendeu boas expectativas para o torcedor pontepretano. Neste guia preparado pela VAVEL Brasil, você confere toda a preparação da Nega Véia para tentar a volta à primeira divisão.

Memória

Em 1981, a CBF dividiu o Campeonato Brasileiro em três divisões de acordo com o desempenho das equipes nos Estaduais. As Taças de Ouro, Prata e Bronze correspondiam à primeira, segunda e terceira divisões, com a possibilidade de acesso da segunda para a primeira durante o torneio. Por ter sido uma das seis melhores equipes do Campeonato Paulista (foi vice-campeã), a Ponte Preta conseguiu a vaga na Taça de Ouro.

Na primeira fase, 40 equipes eram divididas em quatro grupos de 10 clubes, que jogavam em turno único. A Ponte ficou no Grupo A, ao lado de Bangu, Colorado-PR (que hoje já não existe mais), Internacional-RS, Internacional-SP, Joinville, Londrina, Vasco, Vila Nova e Vitória. Com sete dos 10 clubes avançando para a segunda fase, a Macaca não teve grandes problemas e passou em segundo lugar, com 12 pontos – um a menos que o líder Vasco. O grande time ponte-pretano venceu cinco jogos, empatou dois e perdeu em outras duas oportunidades.

Na segunda fase, os 28 classificados se juntavam aos quatro melhores da Taça de Prata e se dividiam em oito grupos de quatro equipes cada, sendo os dois melhores qualificados para as oitavas de final. Desta vez, a Ponte Preta caiu no Grupo B junto com Bahia, Corinthians e Santa Cruz. A Macaca terminou a segunda fase invicta, com três vitórias e três empates. A Ponte de Dicá conseguiu avançar para o mata-mata com a primeira posição da chave.

O adversário da Ponte nas oitavas de final foi o Náutico. O jogo de ida, com o Arruda lotado, terminou 0 a 0. No Moisés Lucarelli, a Macaca saiu na frente, mas sofreu o empate no início do segundo tempo. Aos 38 minutos da etapa final, Lola marcou o gol que colocou a Ponte entre os oito melhores times do país. Nas quartas de final, a Macaca reencontrou o Vasco de Roberto Dinamite e agora com a vantagem dos resultados iguais por ter melhor campanha no decorrer do campeonato. Foram 180 minutos tensos, brigados, disputados e... sem gols. Com o duplo zero a zero, a Macaca conseguia uma inédita vaga na semifinal e começava a criar esperanças de igualar o feito do rival Guarani, campeão brasileiro três anos antes.

Conseguir uma vaga na final, porém, não seria nada fácil. O adversário seria o Grêmio, que tinha um dos melhores times do país e ainda por cima levaria a melhor em caso de empate na soma dos resultados. Emerson Leão, Hugo de León, Paulo Isidoro e um jovem Renato Gaúcho no banco de reservas. Foi com esse time que o Grêmio chegou ao Moisés Lucarelli para enfrentar a Ponte, que não se intimidou e abriu o placar aos três minutos, com gol de Lola. Paulo Isidoro, Vilson Tadei e Narciso, porém, trataram virar o jogo e ampliar a vantagem do Grêmio com um 3 a 1. O mesmo Lola diminuiu o prejuízo, mas, para chegar na final, a Macaca precisaria vencer o Imortal em um Olímpico lotado por dois gols de diferença.

Se o torcedor gremista esperava uma noite tranquila naquele 26 de abril de 1981, se enganou. O que era parra ser festa ganhou contornos dramáticos aos 20 minutos, quando Osvaldo abriu o placar para a equipe paulista. O Grêmio se viu sufocado pela Ponte Preta, que pressionou nos 70 minutos restantes em busca do gol da classificação, que acabou não saindo. Apesar da vitória histórica no Olímpico, a Macaca se despediu do Brasileirão com aquela que até hoje é sua melhor campanha na competição. Na final, o Grêmio bateria o São Paulo, carrasco da Ponte no Estadual do mesmo ano, e se sagraria Campeão Brasileiro.

Na última edição...

A Ponte Preta havia voltado à Série A do Brasileirão em 2012, seis anos depois de seu último rebaixamento. O 14º lugar foi considerado um bom resultado e a Macaca entrou no Brasileirão de 2013 tentando, ao menos, ganhar algumas posições em relação ao ano anterior. A campanha da Ponte começou no dia 26 de maio de 2013 com uma derrota por 2 a 0 para o São Paulo no Moisés Lucarelli.

A Ponte se recuperou ao vencer o Flamengo em Juiz de Fora, mas o treinador Guto Ferreira não resistiu às derrotas para Corinthians e Atlético-PR, essa em casa, e acabou demitido ainda na quarta rodada. Em seu lugar chegou Paulo César Carpeggiani. Em sua primeira partida à frente da Macaca, ele viu a equipe campineira perder outra vez em casa, dessa vez por 2 a 0 para o Botafogo, e chegar ao último lugar. A Ponte saiu da zona de rebaixamento na rodada seguinte, mas voltou para a mesma já na oitava rodada, devido a uma partida não disputada contra o Atlético-MG (que perderia por 4 a 0 meses depois), que estava se preparando para disputar a final da Libertadores.

A Ponte Preta se recuperou no jogo seguinte ao vencer o Santos por 1 a 0 e alcançou a 12ª colocação, dando início ao seu melhor momento no campeonato. A Macaca se manteve fora do Z-4 até a 15ª rodada, mas voltou para a zona da degola ao perder em casa para o Cruzeiro por 2 a 0, na 16ª rodada, jogo que culminou na demissão de Carpeggiani. Com três derrotas nos três jogos seguintes, os primeiros de Jorginho à frente da equipe, a Nega Véia encerrou o primeiro turno em 19º e penúltimo lugar.

Nos 11 primeiros jogos do segundo turno, a Ponte Preta se manteve na penúltima colocação. Com quatro vitórias, dois empates e quatro derrotas, a Macaca, já focada na Copa Sul-Americana, só voltou a ter esperanças de se salvar na 31ª rodada, quando venceu o Vasco por 2 a 1 em Campinas e chegou à 17ª colocação, a primeira dentre os rebaixados. Um empate em Santa Catarina contra o Criciúma e uma derrota por 3 a 0 para o Vitória no Moisés Lucarelli, entretanto, acabaram com as esperanças alvinegras.

A matemática definiu a queda da Ponte Preta na rodada seguinte, a 34ª, após uma derrota por 2 a 0 para o Goiás, no Serra Dourada. Com nove vitórias, 10 empates e 19 derrotas, a Ponte Preta, que perdeu metade dos jogos que fez, marcou 37 gols e sofreu 55, terminando o campeonato em décimo nono lugar, com 37 pontos, à frente apenas do Naútico, que somou 20.

O nome de 2013: Rildo

Das poucas coisas que se salvaram no Brasileirão de 2013 da Ponte Preta, está o desempenho do meio-campo Rildo, que foi um dos destaques do Campeonato Brasileiro. Então com 24 anos, ele começou a carreira pelo Fernandópolis, na quarta divisão do Paulistão, e passou por São Bento de Sorocaba e Ferroviária de Araraquara antes de chegar ao Vitória, onde começou a se destacar. Em 2012, chegou em Campinas e agradou a torcida campineira. Foi em 2013, porém, que chamou a atenção de todos.

Inteligente, ele se sobressaiu por sua habilidade, velocidade e precisão nos passes. Marcou apenas dois gols no campeonato, mas foi fundamental na maioria dos 37 tentos pontepretanos no torneio. Brilhando também na Sul-Americana, ele ganhou a atenção de grandes times do Brasil e foi contratado pelo Santos, onde tem jogado muito bem. Vindo da reserva, ele ajudou o Peixe em várias partidas, sendo fundamental na virada santista para cima do Penapolense, na semifinal do Paulistão.

O início da temporada

O sorteio das chaves do Campeonato Paulista não foi muito amigo da Ponte Preta, que teve que disputar uma das duas vagas no Grupo C contra o Santos, a Portuguesa e o excelente time do São Bernardo, além do Paulista de Jundiaí. Como seu estádio não foi liberado para a estreia contra o Ituano (jogo que perderia algum tempo depois), a Macaca só estreou no Estadual na segunda rodada, com uma derrota por 1 a 0 para o Botafogo em Ribeirão Preto.

A Ponte Preta concluiu o primeiro terço do campeonato com apenas seis pontos – duas vitórias e três derrotas – em cinco jogos. Na sequência, a Macaca engrenou e venceu quatro de seus cinco jogos (perdeu para o Atlético em Sorocaba por 1 a 0), chegando aos 18 pontos e entrando na zona de classificação. A disputa com o São Bernardo pela segunda vaga nas quartas de final se arrastou até a penúltima rodada, mas com duas vitórias e duas derrotas, a Macaca garantiu a classificação. No último jogo, foi goleada em casa pelo Mogi Mirim (4 a 0) e fechou a primeira fase com 24 pontos.

O adversário nas quartas de final foi o Santos, líder de sua chave. Em jogo único, as duas equipes disputaram uma vaga na semifinal na Vila Belmiro. A Macaca havia vencido Corinthians e São Paulo em crise em seus domínios, mas havia perdido para o Palmeiras no Pacaembu. O torcedor da Ponte pôde perceber que não tinha um time para jogar a Série A ao perder de 4 a 0 para o Peixe e ser eliminado do Estadual.

Jogando com o time reserva, pensando justamente no duelo contra o Santos, a Macaca estreou na Copa do Brasil vencendo o Náutico de Roraima por 4 a 1, eliminando, assim, o jogo de volta e se garantindo na segunda fase, onde enfrentará o Paraná Clube nos meses de maio e junho. Se for eliminada até a terceira fase, a Ponte pode voltar a disputar a Copa Sul-Americana.

Quem comanda: Dado Cavalcanti

Depois da excelente campanha na Sul-Americana e do rebaixamento no Brasileiro, Jorginho, craque da Copa de 1994, optou por não seguir no comando da Ponte Preta para a temporada de 2014. A Macaca então foi buscar Sidney Moraes, que permaneceu no comando da equipe até a goleada por 4 a 1 sofrida para o XV de Piracicaba na quarta rodada do Paulistão. Em seu lugar foi contratado Vadão, que não resistiu à eliminação para o Santos no Estadual.

Até o fechamento deste Guia, a Ponte Preta não havia definido seu novo comandante, mas as negociações com Dado Cavalcanti, que estava no Coritiba, estão bem avançadadas.

Dado Cavalcanti deve ser o novo técnico da Ponte (Foto: Divulgação/Coritiba)

Quem decide: Edno

Uma das principais contratações da Ponte Preta para a Série B de 2014, Edno iniciou sua carreira em 2002, pelo Avaí, e logo foi jogar no tradicional PSV, da Holanda. Depois de passar por República Tcheca e Polônia, ele voltou ao Brasil para atuar pelo Cruzeiro em 2005. Sem sequer jogar pela Raposa, foi para o Figueirense e passeou por Novo Hamburgo, Noroeste e Atlético Paranaense, antes de chegar à Portuguesa, onde jogou muito bem e chamou a atenção do Corinthians.

Sem brilhar pelo alvinegro do Parque São Jorge, Edno passou por Portuguesa e Botafogo até ser vendido para o Tigres do México. Em 2013, jogou no Cerezo Osaka do Japão e foi contratado pela Ponte para jogar a Série B. Se reviver os bons momentos que teve na Portuguesa, ele deve ser fundamental para a Macaca fazer um bom campeonato. Habilidoso e preciso nos passes, ele pode contribuir com muitos passes para o jovem ataque campineiro.

Quem promete: Léo Cittadini

Neto do dirigente Antônio Roque Cittadini, ex vice-presidente do Corinthians, Léo Cittadini foi uma das maiores revelações do futebol brasileiro no ano de 2013, quando surgiu pelo time do Santos que foi campeão da Copa São Paulo. Ele chegou a fazer algumas partidas pelo time profissional e voltou a brilhar na Copinha em 2014, quando o Peixe levou o bicampeonato.

Artilheiro, o atacante é rápido, oportunista e tem boa presença de área, mas não foi aproveitado pelo técnico Oswaldo de Oliveira e acabou emprestado para a Ponte Preta. O atacante deve ser a Revelação da Série B e é promessa de muitos gols para a Macaca no certame.

O desafio

O desafio da Ponte Preta é superar o ano decepcionante de 2013. A Macaca campineira tem tudo para fazer uma boa Série B, mas pode sofrer pela inexperiência de seu elenco, que é muito jovem.

Se avançar na Copa do Brasil ou na Sul-Americana, a Ponte terá que conciliar os jogos na Série B com os de outra competição e pode haver um desagaste físico de seu elenco. De todo modo, a Macaca é uma equipe melhor estruturada que seus principais concorrentes na Segundona e só precisa fazer valer essa superioridade no gramado.

Outro problema a ser superado pela Ponte Preta é na mudança de seu elenco, que perdeu algumas peças importantes como o atacante Alemão e o lateral Ferrugem. Outros nomes foram contratados, mas o entrosamento ainda não é o ideal. Peças de reposição também não são o forte da Ponte. Quando usou o time reserva no Paulistão, foi goleada pelo Mogi Mirim em pleno Moisés Lucarelli.

Avaliação VAVEL

Superior tecnicamente, com boa estrutura e acostumada a disputar a Série A, a Ponte Preta briga pelo acesso para a primeira divisão. O fato do Vasco estar na Série B reduz praticamente a zero as chances de título da Macaca e dos outros 18 clubes do campeonato. Entretanto, a alvinegra de Campinas segue sendo uma das maiores candidatas a uma das três vagas restantes na elite do futebol brasileiro em 2015.