Há algumas décadas já se vêm discutindo sobre qual é o clássico mais importante do estado de São Paulo. Na maioria das vezes, se houve que não se pode negar que Corinthians e Palmeiras formam o dérbi mais atrativo, devido ao enorme histórico de polêmicas e confrontos marcantes entre as duas equipes.

Nos últimos 20 anos, o "Majestoso", como é chamado o clássico entre Corinthians e São Paulo ganhou seus cápitulos mais decisivos em toda a história. Marcado principalmente por provocações e duelos emocionantes, o Tricolor dominou os dérbis na última década, porém, há um bom tempo é o alvinegro que traz grandes pesadelos aos são-paulinos.

Mesmo assim, provocações e confrontos marcantes vêm sendo os principais adjetivos de um outro clássico que há algum tempo não ganhava os merecidos holofotes. No próximo domingo (24), Palmeiras e Santos se enfrentam mais uma vez este ano, após um duelo sem gols pela fase de grupo. Desta vez, em um confronto de mata a mata, em partida válida pelas semi-finais do Campeonato Paulista. O famoso "Clássico da Saudade", ganhou cápitulos dignos de sua enorme história nos últimos dois anos, e acirrou uma grande rivalidade, até então, adormecida.

Semi-rebaixamento de 2014

O cenário estava perfeitamente pronto para mais uma tragédia alviverde. O Palmeiras havia acabado de retornar à elite do futebol brasileiro, após passar por seu segundo rebaixamento em 10 anos. Já haviam se passado 37 rodadas, e o Verdão somava um retrospecto certamente catastrófico: com 11 vitórias, seis empates e 20 derrotas.

Além do retrospecto, a equipe passava pelo ano de seu centenário, e decidiria sua vida na competição na aquela que foi somente sua segunda partida na nova casa, no Allianz Parque. Dentre as 20 derrotas sofridas, certamente uma das mais dolorosas foi para o Sport, na inauguração de sua nova arena completamente lotada. Entretanto, voltemos para a última e decisiva rodada.

O nervosismo dos palmeirenses em campo era mais do que visível. Tamanha falta de confiança se tornou ainda pior, quando aos nove minutos Ricardo Silva abriu o placar para o Atlético-PR. Naquele instante, o adversário deixou de ser a equipe paranaense, e passou a ser o Vitória, que naquele instante se salvava do rebaixamento, pois empatava sem gols com o Santos em Salvador, e o Coritiba, que vencia o Bahia no Couto Pereira.

Para a sorte do Verdão, a equipe ficou atrás no placar por apenas oito minutos, quando Henrique Dourado deixou tudo igual em cobrança de pênalti. Porém, nem mesmo a bela arena palmeirense em festa foi capaz de "ressucitar" o Palmeiras, que seguiu apresentando um péssimo futebol dentro de campo. No fim da segunda etapa, Valdívia, Wesley e Mazinho entraram na equipe, que melhorou, mas não conseguiu virar o placar.

À partir daquele instante, as atenções dos torcedores se voltaram para os colegas que estavam com um fone de ouvido, focados na partida que ocorria no Barradão. Já nos acréscimos, coube ao atacante Thiago Ribeiro marcar o tento salvador do Santos, que rebaixava o Vitória e salvava o Palmeiras de sua terceira queda a segunda divisão. E por alguns bons minutos, se viu toda a Allianz Parque em uma mistura de delírio e protestos, por um gol anotado pela equipe do Peixe.

Por mais que pareça loucura nos dias de hoje, o Santos salvou o Palmeiras de um terceiro descenso (Foto: Divulgação/ Marcos Ribolli)

Finais do Paulistão em 2015

Quatro meses já haviam se passado, e quis o destino que Palmeiras e Santos decidissem o Campeonato Paulista do ano seguinte. As equipes já tinham se enfrentado pela fase de grupos, onde o Peixe acabou saindo vencedor por 2 a 1 em duelo realizado na Vila Belmiro.

Na final, a primeira partida foi realizada na nova casa palmeirense, após menos de um ano de inauguração a Allianz Parque já recebia sua primeira decisão de campeonato. E foi a torcida da casa quem saiu comemorando naquela tarde de sol em São Paulo.

Leandro Pereira, em lance duvidoso, abriu o placar ainda na primeira etapa. No início do segundo tempo, Paulo Ricardo fez pênalti no autor do tento palmeirense, também contestado pela equipe da baixada. Coube ao garoto Dudu a tarefa de cobrar a penalidade, recém chegado após uma verdadeira novela envolvendo os rivais Corinthians e São Paulo, e com a responsabilidade de ser um dos principais atletas daquele elenco. O camisa 7 foi para a cobrança e acabou mandando por cima da meta de Vanderlei, antes de um leve desvio no travessão. Lance que praticamente se tornou símbolo do desfecho daquele ano e de meses mais tarde.

A equipe do Santos chegou a "comemorar" a derrota em solo inimigo, até porquê, a confiança do time atuando na Vila Belmiro era gigante. Após uma semana, as equipes voltaram a se enfrentar no litoral. Assim como ocorreu na primeira partida, o placar foi aberto ainda no primeiro tempo. Desta vez, pelo zagueiro David Braz. Porém, já nos minutos finais da primeira etapa, Ricardo Oliveira saiu frente a frente com seu futuro algoz Fernando Prass, e finalizou por baixo do arqueiro palmeirense para ampliar a vantagem que garantia o título para o Peixe naquele instante. Pouco tempo depois, ainda nos quarenta e cinco minutos finais, o atacante Dudu voltou a ser o centro das atenções, e mais uma vez de uma maneira negativa. O atacante se envolveu em uma confusão com Geuvânio na área, o árbitro Guilherme Ceretta expulsou os dois atletas. O santista, saiu tranquilo pela linha de fundo, já o palmeirense, se revoltou e chegou a agredir Ceretta.

Após os ânimos se acalmarem, as equipes retornaram do intervalo. O Palmeiras, visivelmente abatido, encontrou em seu velho e bom Valdívia as esperanças naquela final. O chileno fez boa jogada, que terminou no gol anotado pelo lateral Lucas, naquele instante, a quinta final entre as duas equipes seria decidida nas penalidades. Aos 30', o zagueiro Victor Ramos deixou o time alviverde em desvantagem, porém, os santistas não aproveitaram e a vaga foi decidida nos penais.

Jackson e Rafael Marques desperdiçaram suas cobranças, e Lucas Lima, outro grande personagem futuro entre provocações entre as equipes, marcou a penalidade decisiva, que semanas depois se tornaria "eterna", em uma tatuagem feita na perna pelo camisa 10. Era a primeira vez que o Santos vencia o Palmeiras em uma final de Paulistão.

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Foi o título de número 21 na história do Santos, se igualando ao outro rival São Paulo (Foto: Divulgação/ Santos FC)

Segundo semestre de provocações...

A disputa repleta de polêmicas e lances duvidosos foi somente um pequeno aperitivo do que estaria por vir no ano passado. Após a final, as duas equipes se enfrentaram mais quatro vezes.

No Campeonato Brasileiro, a partida do primeiro turno foi realizada na Allianz Parque. O placar foi o mesmo do jogo de ida da final do Paulistão meses antes, porém, foi nesta partida que a rivalidade entre Ricardo Oliveira e Fernando Prass começou a ganhar notoriedade.

Leandro Pereira, o mesmo autor do jogo de ida do Paulistão, também marcou o único tento da vitória alviverde. No interevalo do jogo, Ricardo Oliveira conversava com a imprensa ainda no gramado, se referindo a uma leve desavença com o goleiro palmeirense. No meio da entrevista, Prass passou atrás do atacante santista, que olhou para trás e reclamou de um pisão.

"Se eu visse que era ele ali, eu não teria esbarrado, teria feito coisa pior. Graças a Deus, não vi que era ele", retrucou o arqueiro.

Na partida do segundo turno, o sorteio da Copa do Brasil já havia sido definido. A partida seria como uma prévia do que viria mais tarde. Assim como no jogo do Allianz Parque, as provocações entre Prass e Ricardo Oliveira roubaram os holofotes do jogo. 

Thiago Maia abriu o placar ainda no primeiro tempo. Logo no terceiro minuto da volta do intervalo, Gabriel cruza na medida para Oliveira cabecear pra baixo, como manda o figurino, e ampliar a vantagem santista. Na comemoração, o atacante aponta para Prass e sai dando gargalhadas em direção à sua torcida. Novamente um fato que não havia terminado ali, mas sim, nos jogos seguinte da Copa do Brasil. Ainda deu tempo de Dudu diminuir, mas sem muita utilidade.

Em entrevistas após o episódio, Ricardo Oliveira afirmou que o gesto não foi direcionado à Prass (Foto: Divulgação/ Marcos Ribolli)
Em entrevistas após o episódio, Ricardo Oliveira afirmou que o gesto não foi direcionado à Prass (Foto: Divulgação/ Marcos Ribolli)

... e finalmente a decisão pela Copa do Brasil 

Os episódios do ano só aumentaram as expectativas para o clímax desta rivalidade, que foi a final da Copa do Brasil. O Palmeiras vinha de classificações complicadas diante do Internacional nas quartas de finais, e nas penalidades diante do Fluminense. Já o Santos, apresentava o melhor futebol do país no segundo semestre. Havia passado tranquilamente sobre o Figueirense e pelo rival São Paulo, com duas vitórias por 3 a 1.

De maneira distinta como havia ocorrido no Paulistão, desta vez era o Palmeiras quem decidiria o título em casa, porém, a decisão teria ainda mais semelhanças com a de oito meses atrás. 

No jogo de ida na Vila Belmiro lotada, Arouca foi derrubado dentro da área logo nos primeiros lances da partida, e o árbitro assinalou o pênalti. Gabriel foi para a cobrança e acertou a trave esquerda de Prass, desperdiçando a chance de inaugurar o placar. Após o ocorrido, o Santos seguiu pressionando, porém, o placar só foi inaugurado nos minutos finais da partida. "Gabigol" fez linda tabela e invadiu a área palmeirense, tocando na saída de Fernando Prass para deixar o Peixe em vantagem. Com uma Vila Belmiro em festa, coube ao desconhecido Nilson, no último lance do jogo, perder o segundo tento do Santos, embaixo da trave adversária sem Prass, que havia se chocado no lance com Ricardo Oliveira.

O período que antecedeu o confronto decisivo foi repleto de rumores e provocações. Um suposto pôster de "Campeão da Copa do Brasil" do Santos teria sido divulgado na internet. Segundo algumas pessoas ligadas ao Palmeiras, o fato teria sido utilizado para motivar os atletas alviverdes.

Enfim, chegou o dia 02 de dezembro de 2015. A Allianz Parque pela primeira vez veria uma equipe levantando uma taça de campeão, porém, poderia ser seu dono ou seu rival. Em um jogo repleto de emoções, os tentos só saíram na segunda etapa. Dudu, o "vilão" do vice-campeonato do Paulistão, anotou os dois gols da equipe alviverde, fazendo estremecer a arena palmeirense. O Santos, tecnicamente superior, não criou absolutamente nada no duelo de volta. Entretanto, Ricardo Oliveira após cobrança de escanteio, utilizou de seu oportunismo para dar um gás a equipe do Santos, levando o duelo mais uma vez para as cobranças de pênalti.

Marquinhos Gabriel, hoje no Corinthians, mandou pra longe a primeira cobrança santista. Zé Roberto, com categoria, deixou o Palmeiras em vantagem. Na segunda cobrança, o jovem zagueiro Gustavo Henrique parou em quem mais tarde viraria "santo". Nas penalidades seguintes, Rafael Marques perdeu e Geuvânio, Jackson, Lucas Lima e Cristaldo marcaram.

E mais uma vez o destino aprontou nesse tal de futebol. Quem foram os cobradores das últimas cobranças?. Exatamente, Ricardo Oliveira e Fernando Prass. Primeiro o atacante quase teve sua penalidade defendida pelo goleiro, porém, anotou seu gol. Na última cobrança, Prass, ou "São Prass", se você preferir, encheu o pé no centro da meta de Vanderlei, para dar o primeiro título palmeirense conquistado na Allianz Parque. Nas comemorações, aquela mesma "careta" de Ricardo Oliveira se tornou máscara e tema das festa palmeirense.

As provocações entre Palmeiras e Santos indicam que sim, o futebol ainda respira (Foto: Divulgação/ Palmeiras)
As provocações entre Palmeiras e Santos indicam que sim, o futebol ainda respira (Foto: Divulgação/ Palmeiras)