Parecia irreal ver na tela da minha TV o Santos acuado dentro da Vila Belmiro. Estádio que é sua maior força, território que abala rivais gigantes, mas não o Audax. Disputando sua primeira final de estadual e sem integrar nenhuma divisão do futebol nacional, a equipe ousada e de futebol bonito de Osasco colocou o peixe contra a parede, sem se intimidar com a torcida, o peso da decisão ou da camisa rival.

Aos dez minutos de jogo o narrador anunciava a surpreendente estatística: O time de Fernando Diniz tinha 82% de posse de bola. Algo comparável ao que o Barcelona faz contra o Levante no Camp No. O Santos assistia à partida, com dez atrás da linha de meio-campo e apenas Ricardo Oliveira, solitário entre os "zagueiros" lá na frente. Já o Audax massacrava. Girava a bola com eficiência de um lado para outro, até encontrar um jogador apito para finalizar ao gol de Vanderlei.

Perder Lucas Lima logo aos 20 minutos do primeiro tempo preocupou os santistas ainda mais. O alvinegro praiano parecia um boxeador que após sofrer inúmeros golpes, finalmente iria receber o upper direto no queixo e ir a nocaute. Parecia realmente, que o surpreendente desafiante iria tomar o centurão do campeão hegemônico. Mas não ocorreu, era tudo estratégia.

Abrir mão de jogar foi uma opção de Dorival Junior. O treinador, que gosta de jogar com a posse de bola, sabia que seu adversário também tem essa característica e a executa de forma tática e tecnicamente melhor. Colocou então seu time atrás, chamou o Audax e muniu sua intermediária com vários jogadores. Com a saída de seu 20, colocou Paulinho, que o proporcionaria velocidade no contra-ataque, o ponto chave do jogo santista na partida.

Depois ver algumas bolas passarem com perigo por cima do gol de Vanderlei e até um bola de Tchê Tchê bater caprichosamente na trave e voltar para o campo, a armadilha santista finalmente foi acionada. Aos 44, quando o jogo parecia se encaminhar para um tenso 0 a 0, Vitor Bueno rompeu a troca de passes do Audax, roubou a bola de Camacho e saiu em velocidade para o ataque. O meia acionou Ricardo Oliveira na frente, que saiu mano a mano com o zagueiro Bruno Silva. O nove santista deu uma caneta no beque e de bico venceu Sidão, gol e título para o peixe.

Dorival foi inteligente e armou seu time para apenas um lance. Sabia que poderia vencer, mesmo sem ter total domínio do jogo. A armadilha poderia ter dado errado, já que com a bola, o Audax teve inúmeras chances de ampliar. Mas a aposta de jogo foi cirúrgica e eficaz. Foi mais uma prova cruel do futebol, de que nem sempre jogar bonito e melhor é garantia de vitória, o importante é saber ser eficaz em colocar a bola no barbante.