Após mais de um mês de ampla ansiedade, a espera do torcedor são-paulino está finalmente em reta final. Nesta quarta-feira (6) o São Paulo entra em campo para a partida mais importante dos últimos anos, quando recebe no o Atlético Nacional-COL, em confronto válido pelas semifinais da Copa Libertadores da América.

Devido a disputa da Copa América Centenário, a competição mais importante do continente obteve uma pausa de quase dois meses. Por coincidência, a última vez que o Tricolor esteve nesta fase do torneio foi há exatos seis anos atrás. Na ocasião, a competição foi paralisada por conta da disputa da Copa do Mundo da África do Sul. E da mesma maneira que havia ocorrido em 2006, a pausa durante a Libertadores acabou prejudicando o desempenho da equipe no restante da temporada. 

Na primeira oportunidade, o então campeão Tricolor caiu de produção após o torneio entre seleções na Alemanha, e, mesmo com um inspirado Ricardo Oliveira, não conseguiu superar o Internacional na decisão. O adversário foi o mesmo em 2010, mas na fase semifinal.

Em 2006, Rafael Sóbis impediu título são-paulino

Atual campeão e líder na fase de grupos. Este era o cenário do São Paulo no início do mata a mata da Libertadores da América há dez anos atrás. A base da equipe campeã mundial no ano anterior estava mantida, e o bicampeonato, repetindo a história da década anterior estava cada vez mais próximo.

Nas oitavas de finais, o adversário era um velho conhecido. O rival Palmeiras havia entrado no caminho do São Paulo no ano anterior, onde o Tricolor despachou o Verdão com duas vitórias, tanto no Palestra Itália quanto no Morumbi. Na fase seguinte o rival seria o Estudiantes da Argentina. Porém, um fato curioso e determinante acabou acontecendo naquele momento. A disputa da primeira partida seria realizada no dia 9 de maio, e o duelo de volta no Brasil aconteceria somente no dia 20 de julho. O motivo? A competição seria interrompida para a disputa da Copa do Mundo da Alemanha.

Atuando em Quilmes, o duelo foi tenso e com vitória argentina pelo placar mínimo, com direito a expulsão do zagueiro Fabão. Na partida de volta com um Morumbi completamente tomado e com Ricardo Oliveira entre os titulares, novamente uma partida pegada, onde claramente foi visto uma queda gritante de rendimento dos comandados de Muricy Ramalho. Mesmo assim, a camisa pesou e Edcarlos marcou o tento da vitória naquela noite, levando a decisão para as penalidades. Após as primeiras cobranças serem convertidas, Danilo, hoje no rival Corinthians, bateu mal e Herrera defendeu. Foi neste instante que brilhou Rogério Ceni, ao defender a cobrança de Alayes. Por fim, Carrusca bateu para fora a última penalidade dos argentinos e garantiu o São Paulo nas semifinais.

Na fase seguinte a classificação acabou sendo mais tranquila. Diante do forte Chivas Guadalajara, um jogador que se tornaria pouco tempo depois em "M1TO" acabou atraindo os holofotes. No México, Rogério marco o tento da vitória em cobrança de pênalti. No Morumbi, os mexicanos tiveram a oportunidade de sair na frente quando Fabão se apoiou em Bautista e o juiz assinalou a penalidade, mas Ceni voou para defender a cobrança de Morales. Após o lance, Leandro, Mineiro e Ricardo Oliveira garantiram a festa da sexta final de Libertadores da história do São Paulo.

Na grande final, mais uma vez um adversário brasileiro, desta vez o Internacional, até então sem títulos da Copa Libertadores da América. Por ter melhor campanha, o Colorado decidiria em Porto Alegre, diante de seu torcedores no Beira-Rio. Para piorar a situação são-paulina, o empréstimo de Ricardo Oliveira junto ao Bétis acabaria antes da disputa do jogo de volta no Rio Grande do Sul, e o Tricolor não conseguiu prolongar o vínculo por um motivo curioso: o adversário gaúcho estava negociando Rafael Sóbis com o time espanhol. Na despedida do atacante em São Paulo, Josué foi expulso ainda no primeiro tempo e os mais de 70 mil torcedores viram o próprio Rafael Sóbis brilhar ao marcar dois gols no segundo tempo. Edcarlos no fim até manteve as esperanças para o jogo de volta. Mas o placar de 2 a 2 garantiu o título inédito ao Inter, e impediu o segundo bicampeonato da Libertadores ao Tricolor.

Rafael Sóbis foi o grande carrasco são-paulino em 2006 (Foto: Getty Images)
Rafael Sóbis foi o grande carrasco são-paulino em 2006 (Foto: Getty Images)

Novamente, o Inter: queda nas semis em 2010

Quatro anos haviam passado e mais uma vez uma Copa do Mundo atrapalhou o São Paulo. O Tricolor estava na sua sétima participação consecutiva na Libertadores, mas vivia uma série de eliminações para equipes brasileiras, que se tornou ainda maior nos anos seguintes.

Na primeira fase, liderança absoluta do Grupo 2 enfrentando Once Caldas, Monterrey e Nacional-PAR. Boa parte do elenco, principalmente a defesa era a mesma que havia conquistado anos antes três Campeonatos Brasileiros consecutivos. Miranda e Alex Silva formavam a defesa, Hernanes comandava o meio de campo e, é claro, Rogério Ceni permanecia operando milagres. Um deles ocorreu nas oitavas de finais. Diante do fraco Universitario do Peru dois empates sem gols, o último deles no Morumbi. Minutos antes das penalidades a torcida são-paulina deixou as vaias de lado e apoiou a equipe, porém, Ceni acabou desperdiçando sua cobrança, a primeira do lado tricolor. Mas em seguida, o arqueiro defendeu duas penalidades, colocou o São Paulo na frente e viu Dagoberto no fim marcar o tento da classificação às quartas de finais.

Os "Deuses do Futebol" colocaram o Cruzeiro no caminho do Tricolor. Os mineiros haviam eliminado o São Paulo pela Libertadores no ano interior, e viviam um momento melhor na temporada. Para as partidas diante da Raposa, o Tricolor acertou a contratação de Fernandão, campeão mundial pelo Internacional e um dos principais jogadores do título colorado de 2006, justamente contra os são-paulinos. Sua estreia foi justamente na partida de ida em Belo Horizonte e o São Paulo supreendeu, e venceu por 2 a 0. O placar foi inaugurado por Dagoberto, e complementado por Hernanes, após passe magistral de calcanhar de Fernandão. No Morumbi, Kléber Gladiador foi expulso logo no início, e acabou assitindo do vestiário a apresentação praticamente perfeita do Tricolor em um novo 2 a 0. Hernanes marcou novamente, e viu mais uma vez Fernandão participar diretamente do segundo gol ao desviar de cabeça para também Dagoberto encobrir o goleiro Fábio.

O momento havia mudado completamente. O São Paulo naquele momento vivia um enorme crescimento, a sintonia da torcida com o clube estava de volta, para muitos, o Tricolor era imbatível. Porém, o destino mais uma vez colocou o Inter no caminho, e o pior, a pausa para a Copa do Mundo novamente quebraria o ritmo dos comandados de Ricardo Gomes. O período na época foi ainda maior: dois meses e oito dias separaram as quartas das semi-finais.

Após longos dias de espera, no dia 28 de julho Internacional e São Paulo se enfrentaram: desta vez o primeiro jogo seria em Porto Alegre, e o São Paulo decidiria no Morumbi. Além das coincidência, outro fator também ligou o duelo de 2006 com o de 2010: a presença de Ricardo Oliveira com a camisa tricolor. Desta vez o atacante teve a oportunidade de participar das duas partidas. Porém, em Porto Alegre o camisa 99 nada pode fazer para evitar a derrota por 1 a 0, gol marcado por Giuliano, hoje no Grêmio. No Morumbi, Alex Silva deixou o São Paulo na frente após falha de Renan, resultado que levava a partida para as penalidades. Mas no início da segunda etapa, D'Alessandro cobrou falta, Alecsandro desviou e matou Rogério Ceni na jogada, igualando o placar. Na saída de bola Ricardo Oliveira ainda deixou o São Paulo novamente à frente, incendiando o Cícero Pompeu de Toledo, mas nem mesmo uma intensa pressão são-paulina desde o lance foi capaz de garantir a sétima final de Libertadores para o São Paulo. 

Após a pausa para a Copa do Mundo de 2010, o Inter eliminou o Tricolor nas semifinais (Foto: Getty Images)
Após a pausa para a Copa do Mundo de 2010, o Inter eliminou o Tricolor nas semifinais (Foto: Getty Images)

Em nova semifinal, hora de matar o fantasma da pausa

Desta vez, o São Paulo teve dois grandes problemas na pausa de 45 dias. Primeiro, perdeu o ritmo de embalo na competição. O time de Edgardo Bauza começou mal o torneio, mas, desde a quarta rodada da fase de grupos, ressurgiu: goleou o Trujillanos, bateu o atual campeão River Plate, garantiu a impensável classificação na altitude contra o Strongest e passou por Toluca e Atlético Mineiro com vitórias no Morumbi. Os dias sem Libertadores, no entanto, deram uma queda de produção ao Tricolor, que se viu instável na disputa do Campeonato Brasileiro. No período, foram quatro vitórias (Palmeiras, Cruzeiro, Vitória e Fluminense), três empates (Coritiba, Flamengo e Sport) e cinco derrotas (Internacional, Figueirense, Atlético-PR, Santos e Ponte Preta).

O Tricolor também teve problemas com lesões, e, para o primeiro jogo diante do Atlético Nacional, não contará com o grande craque da equipe: Paulo Henrique Ganso, que contraiu uma lesão no penúltimo jogo da equipe antes do retorno ao torneio continental. Além do camisa 10, Bauza não terá o atacante Kelvin, peça fundamental no esquema são-paulino. O lateral-esquerdo Mena e o volante Hudson, titulares, também se lesionaram no período, e retornarão justamente para o jogo das semis. Além disso, o time teve que desembolsar seis milhões de euros para assegurar a permanência do zagueiro Maicon, então emprestado pelo Porto, e renovou o contrato do atacante Calleri por mais um mês. 

Resta ao São Paulo, dessa vez, mostrar que os 45 dias sem sua competição favorita não abalaram o elenco.

São Paulo não terá o craque Paulo Henrique Ganso no primeiro duelo (Foto: Getty Images)
São Paulo não terá o craque Paulo Henrique Ganso no primeiro duelo (Foto: Getty Images)