"Sentada na fria arquibancada do Gillette Stadium, notei que apenas eu permaneci em uma espécie de luto particular. Os outros caminhavam para suas casas como se nada tivesse acontecido. Foi então que percebi que muitos não ligam mais." O trecho é do texto de Mariana Sá, enviada pela VAVEL à Copa América Centenário, escrito logo após a derrota por 1 a 0 diante do Peru que selou nossa eliminação. Os relatos resumem o sentimento de muitos sobre a seleção brasileira nos dias atuais. Não encanta, não comove e não importa.

O que era amor, virou desconfiança. A goleada por 7 a 1 sofrida contra Alemanha quebrou o sentimento da torcida. Os escândalos envolvendo as prisões dos últimos presidentes da CBF e a escolha do velho conhecido Dunga como novo técnico contribuiram para isso. No fim, o novo vexame na não causou o natural sentimento de revolta. Todos já sabiam que seria assim, cedo ou tarde.

Então Dunga, com sua filosofia de jogo e conceitos ultrapassados para o futebol atual, é demitido. Precisando responder para limpar sua barra, a CBF anuncia - com dois anos de atraso - o óbvio sucessor: Tite. Disparadamente o melhor técnico do Brasil, a entidade tira as atenções de sua alta cúpula e volta para o treinador. Aguardei sua coletiva de apresentação para saber o que o mesmo falaria e não me arrependo. Suas colocações e argumentações definem bem o homem que está à frente da seleção. Destaco os seguintes trechos:

"Adjetivos como transparência, democratização, excelência e modernidade são a forma como penso"

"Sou um técnico em formação. Aprendemos com nossos erros, não tenho problema em reconhecer e melhorar"

"Tenho de me reinventar, não sei qual adjetivo usar, me modelar, é um ambiente diferente de clube, uma forma diferente"

"Era fácil aceitar a seleção olímpica. Se ganha, muitos louros, senão já tem a desculpa pronta de assumir em cima da hora. Não faço isso."

São quatro de muitas colocações de Adenor Leonardo Bacchi, orgulhosamente oficializado como novo técnico da seleção brasileira. Mais que um líder, um homem de caráter. Cabe lembrar que Dunga só estava como técnico porque alguém o colocou lá. Tite chega como solução paleativa para estancar o sangramento e fazer a seleção almejar algo mais. O maior problema segue na alta cúpula da CBF.

Tite, o homem que conquistou o Mundial Interclubes em 2012 e, logo depois, pediu um ano sabático para aprender mais. Tite, o atual campeão brasileiro, que demonstra humildade para aprender com os erros e se aperfeiçoar. Aquele que sabe que o futebol respira tática, que a bola não entra mais por acaso, e que conceitos ultrapassados dos anos 90 e 2000 não funcionam mais. Tite é avançado demais para o retrógrado futebol brasileiro. 

Tite não tem a cara da CBF. Tite tem a cara do Brasil.

(Foto: Rafael Ribeiro/CBF)
(Foto: Rafael Ribeiro/CBF)

E Tite, mesmo sem ter feito jogos oficiais, já conta com apoio de muitos. Serão palmeirenses, são-paulinos e santistas unidos, torcendo pelo ex-técnico do Corinthians. Os corintianos, também. Claro, com a garganta seca pela entidade que retirou seu monumento de casa, mas desejando sorte ao Sr. Adenor. E por quê? Porque o povo ama a seleção brasileira. Mas, assim como um namorado que assiste sua companheira cometendo vacilos e vacilos, estava desencantado.

Tite não chega à seleção brasileira por trabalhos feitos em épocas distantes, por ser amigo de dirigente ou ter acordo com cartola, mas sim por seus resultados conquistados dentro de campo. Homem íntegro, inicia seu trabalho colecionando bolas dentro. Antes de aceitar o cargo, só aceitou negociar após o mesmo estar vago. Também não se agarrou à seleção olímpica, deixando-a para Rogério Micale, que claramente está melhor capacitado para tal.

Torcemos para que siga assim, chamando seus jogadores e não convocando para empresários. Tendo sua própria autonomia e não sendo uma marionete de superiores. Seja o Tite que conhecemos. Sabemos que não aceitou a proposta por patrocinadores ou dinheiro, mas sim para realizar o sonho genuíno de dirigir a seleção brasileira.

Tite fará o torcedor voltar a acompanhar a seleção brasileira. Conta com o apoio nacional, a fé do povo que confia no seu trabalho. Como todos os sucessores, carrega a esperança por mudanças, mas seu diferencial é aquilo que resume toda a expectativa: tem índone e potencial suficientes para transformar sonhos em realidade.

Estamos com você, Sr. Adenor. Boa sorte.

(Foto: Lucas Figueiredo / MoWA Press)
(Foto: Lucas Figueiredo / MoWA Press)