Brasil e Argentina escreverão mais um capítulo de uma das rivalidades mais ferrenhas do futebol. O palco do duelo será o Mineirão, em Belo Horizonte.O pontapé inicial será dado às 22h, horário de Brasília. Para os amantes do esporte mais popular do planeta, a rixa Canarinho x Albiceleste não é nenhuma novidade. Mas as divergências entre brasileiros e argentinos surgiram muito antes da criação do futebol e já transcenderam os gramados.

O início de tudo foi o Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494. O acordo dividia o "Novo Mundo" da América do Sul entre Portugal e Espanha. O extenso território brasileiro ficou sob posse dos portugueses, enquanto coube à Espanha subjugar as outras futuras nações da região, incluindo a própria Argentina.

No século XVII, os portugueses tentaram expandir suas fronteiras coloniais ao sul do Brasil. Mais precisamente, na Colônia de Sacramento, próxima ao Rio da Prata. A disputa durou até o início do século XIX, quando o Uruguai se tornou independente e ficou com o território.

Também no século XIX, o Brasil Imperial e as Províncias Unidas do Rio da Prata brigaram pela posse da Província Cisplatina. O Brasil perdeu o controle da região que hoje é o Uruguai, e o prestígio do reinado de Dom Pedro I sucumbiu. Um panorama de disputa pela hegemonia do continente e de muita desconfiança entre as partes.

O último conflito diplomático se deu na década de 1970, nas negociações para a construção da usina hidrelétrica de Itaipu. Os argentinos temiam que sua capital acabasse inundada caso todas as comportas de Itaipu fossem abertas. O governo brasileiro teve de provar o contrário para concretizar o acordo. No final das contas, a usina saiu do papel após Brasil, Argentina e Paraguai assinarem o Acordo Tripartite.

Posteriormente, ainda no âmbito político, os países perceberam que suas economias se complementavam e passaram a juntar forças. Hoje, são grandes parceiros comerciais.

Dentro das quatro linhas, o primeiro encontro aconteceu no dia 20 de setembro de 1914, em amistoso disputado em Buenos Aires. A seleção azul e branca venceu por 3 a 0. Uma semana depois, o escrete verde e amarelo triunfou por 1 a 0 e conquistou a primeira edição da Copa Roca. Entretanto, os argentinos consideram o torneio apenas a partir de 1939. Nesse ano, no Rio de Janeiro, o Brasil também saiu vitorioso: 3 a 2.

A maior vitória da Argentina sobre o Brasil ocorreu em 1940, também pela Copa Roca: 6 a 1 em Buenos Aires. Cinco anos depois, pelo mesmo torneio, veio o maior triunfo tupiniquim: 6 a 2 no Rio de Janeiro.

As respectivas idolatrias dos torcedores brasileiros e argentinos por Pelé e Maradona são consideradas o maior símbolo da rivalidade entre a Canarinho e a Albiceleste. O Rei do Futebol conquistou três das quatro Copas do Mundo que disputou: foi campeão em 1958, com apenas 17 anos de idade, 1962 e 1970; também participou em 1966. Segundo suas contas, marcou mais de mil gols. Além disso, Edson Arantes do Nascimento foi eleito o maior jogador de futebol do século XX pela IFFHS e pela Fifa.

El Pibe de Oro também participou de quatro Mundiais, tendo conquistado a edição de 1986 - também jogou em 1982, 1990 e 1994. Diego Armando Maradona protagonizou dois dos mais famosos lances do futebol: o gol de mão contra a Inglaterra nas quartas de final da Copa de 1986, lance conhecido mais tarde como "La Mano de Dios".

No mesmo jogo, marcou um gol de placa ao driblar seis marcadores ingleses e tirar do goleiro. Os dois tentos deram uma emblemática vitória à Argentina (2 a 1), que caminhou rumo ao título. O duelo também tinha motivação política, tendo em vista que as duas nações lutavam pela posse das Ilhas Malvinas. Tamanha rivalidade guarda resquícios até os dias de hoje.

Em Copas do Mundo, Brasil e Argentina se encontraram nas edições de 1974, 1978, 1982 e 1990. As estatísticas apontam duas vitórias para a Canarinho (2 a 1 em 1974 e 3 a 1 em 1982), uma para a Albiceleste (1 a 0 em 1990, jogo da famosa "água batizada" fornecida por jogadores argentinos aos rivais brasileiros) e um empate (0 a 0 em 1978). Nas últimas decisões, o Brasil levou a melhor: 4 a 1 na final da Copa das Confederações de 2005 e 3 a 0 na final da Copa América de 2007.

Historicamente, o embate reúne muita emoção, gols e, como todo clássico que se preze, muita confusão em campo. O duelo de hoje será "apenas um jogo"? Não mesmo. É considerado pelos envolvidos como o compromisso mais importante do ano.

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