Com os recentes rebaixamentos e acessos, o Sport parece ter se tornado um típico "time ioiô", daqueles que caem e sobem de divisões constantemente. De 2001 a 2013, por exemplo, o Leão da Ilha do Retiro sofreu três rebaixamentos à Série B (2001, 2009 e 2012) e foi agraciado com três acessos à Série A (2006, 2011 e 2013). Antes desse período, os rubro-negros só tinham passado pelas experiências do descenso e da promoção uma única vez cada - em 1989, caiu no mesmo ano em que foi derrotado pelo Grêmio na final da primeira edição da Copa do Brasil; subiu da Série B para a Série A no ano seguinte, como campeão da Segundona.

De volta à primeira divisão do Campeonato Brasileiro em 2014 - foram promovidos após terminarem a Série B de 2013 na terceira colocação com 63 pontos, campanha quase idêntica à do acesso de dois anos antes -, os leoninos querem afastar essa má fama adquirida nas últimas décadas.

O título da Copa do Nordeste de 2014 e a presença na final do Estadual estão enchendo a Ilha do Retiro de otimismo para o restante da temporada. Neste guia, a VAVEL Brasil comenta em detalhes sobre o que se espera do Sport Club do Recife para a elite do futebol brasileiro deste ano. Esta será a 36ª participação do rubro-negro pernambucano na história da competição.

Memória

Nenhuma competição do futebol brasileiro foi - e até hoje é - tão polêmica quanto a Copa União de 1987. A elite do futebol brasileiro daquele ano era dividida em dois grupos: o Módulo Verde e o Módulo Amarelo. O primeiro teve como campeão e vice o Flamengo e o Internacional, respectivamente. No segundo, Sport e Guarani dividiram o título após uma vitória para cada lado nos dois jogos das finais e um longo desempate de pênaltis, que chegou à extensa contagem de 11 a 11 e obrigou os times a entrarem num consenso e determinarem o fim da disputa.

Naquela época, o regulamento previa um cruzamento entre os campeões e vices de cada módulo. Contudo, Fla e Inter se recusaram a enfrentar Sport e Guarani e foram eliminados por W.O. Sendo assim, Leão e Bugre jogaram em partidas de ida e volta a decisão do campeonato nacional. No Brinco de Ouro, empate em 1 a 1; na Ilha do Retiro, vitória dos nordestinos por 1 a 0. O zagueiro Marco Antônio entrou para a história do Leão da Praça da Bandeira ao marcar de cabeça o gol que selou o Sport Recife, àquela altura comandado por Jair Picerni, como dono da taça.

Apesar de os pernambucanos e os paulistas terem representado o Brasil na Copa Libertadores da América de 1988, o Flamengo, campeão do Módulo Verde, pede para que também seja reconhecido como campeão brasileiro daquele ano e questiona a legitimidade do título dos recifenses, além do fato de que o Sport não enfrentou os principais clubes do futebol brasileiro para poder ficar com a taça, fazendo com que o campeonato seja alvo de ações judiciais constantemente - recentemente, o caso foi parar no STJ e o SCR, como de costume, ganhou a causa - e divida opiniões até hoje.

Mesmo com todo o imbróglio que toma conta do caso, a torcida do Sport afirma sem medo que esse é o maior título da história do clube. Afinal, é o único time pernambucano detentor de um título de primeira divisão do Campeonato Brasileiro.

Na última edição...

Na Série B de 2013, os leões entraram "mordidos" após terem sido rebaixados pelo rival Náutico na Série A de 2012 e o final foi feliz. Com a segunda maior cota do campeonato, garantiu o acesso à elite juntamente com um gigante do futebol nacional, um plantel surpreendente e um time reanimado: Palmeiras, Chapecoense e Figueirense, respectivamente. Curiosamente, três das quatro equipes promovidas - Palmeiras, Sport e Figueirense - eram recém-rebaixadas da Primeirona.

Após o Estadual, o Leão da Praça da Bandeira sacou Sérgio Guedes do cargo de técnico e contratou Marcelo Martelotte, técnico que havia conquistado o mesmo Campeonato Pernambucano com o rival Santa Cruz, em cima do próprio Sport. Saiu do Arruda com o slogan de traidor e chegou à Ilha do Retiro com a missão de reanimar um plantel desmotivado com a perda do título estadual.

Quando chegou, Martelotte recolocou a equipe nos trilhos e a pôs no G-4, grupo dos quatro times que ascendem à primeira divisão. Entretanto, atuações irregulares e jogos vexatórios como a goleada de 5 a 0 sofrida frente ao América Mineiro fizeram o treinador "balançar" no cargo. A classificação obtida diante de outro rival, o Náutico, na fase nacional da Copa Sul-Americana - os rubro-negros garantiram a vaga nos pênaltis - aliviou um pouco sua situação no comando, mas o técnico amargou a demissão após o revés de 2 a 0 diante do Icasa em plena Ilha do Retiro. Saiu com a equipe na quinta colocação.

Quem veio com a missão de recolocar o Sport Recife na faixa de acesso e, consequentemente, ajudar o time a voltar à Série A foi Geninho, velho conhecido da nação rubro-negra - treinou a equipe em 2007. Altamente dependente do atacante Marcos Aurélio e do meia-atacante Lucas Lima, o Leão teve de abrir mão do time titular na Sul-Americana - enfrentou o Libertad, do Paraguai, com time misto na fase das oitavas-de-final e foi eliminado com a derrota de 4 a 1 no placar agregado - e focar totalmente na luta pelo acesso.

De volta ao G-4, onde esteve consolidado nas rodadas posteriores, o lado vermelho e preto do Recife pôde fazer a festa na penúltima rodada, quando teve sua promoção confirmada devido à vitória por 3 a 2 sobre o Boa Esporte em Varginha. Se teve uma coisa da qual os jogadores não puderam reclamar, essa foi a falta de apoio. A campanha "AeroSport", promovida pela torcida, foi um sucesso e contribuiu para a grande festa que se sucedeu depois de a equipe conquistar o acesso de forma matemática.

O nome de 2013: Marcos Aurélio

Mesmo não tendo conquistado títulos na Ilha do Retiro, Marcos Aurélio teve seu nome constantemente gritado pelos torcedores rubro-negros, os quais lhe serão muito gratos. Foi a principal peça dos pernambucanos na Série B de 2013. O Sport deve sua volta à Série A ao atacante, que veio do Internacional por empréstimo e foi um dos destaques da Segundona. Marcou 22 gols e ficou com a vice-artilharia. Somente Bruno Rangel (31), da Chapecoense, balançou as redes mais vezes.

O avançado, além de ter o status de "matador", também é um exímio cobrador de faltas. Suas grandes atuações no rubro-negro recifense geraram uma consequência nada agradável para a torcida: o Inter solicitou a devolução do jogador e o negociou com outro clube, o Jeonbuk Motors, da Coreia do Sul.

O Jeonbuk é o segundo time estrangeiro da carreira do atacante. Em 2008, o atleta vestiu a camisa do Shimizu S-Pulse, do Japão. Marcos Aurélio tem 30 anos e foi revelado pelo União Barbarense, clube no qual conquistou o primeiro título de sua carreira: a Série C de 2004. Também se destacou em outras equipes tradicionais, como Vila Nova, no qual foi campeão goiano em 2005, e Coritiba, sendo bicampeão paranaense em 2010 e 2011 e campeão da Série B de 2010 com este.

O início da temporada

O ano de 2014 começou da forma que os rubro-negros mais otimistas imaginavam: o Sport Recife conquistou a Copa do Nordeste pela terceira vez em sua história e está na decisão do Campeonato Pernambucano.

Na competição regional, o Leão caiu no grupo D juntamente com o rival Náutico, o Guarany-CE e o Botafogo-PB. A pífia campanha no "primeiro turno" da fase de grupos fez o time comandado por Geninho estar virtualmente eliminado e custou o cargo do treinador. Quem assumiu a difícil responsabilidade de assumir o comando técnico do Sport foi o preparador físico Eduardo Baptista, à época como interino.

Os bons resultados reapareceram e Eduardo foi efetivado como técnico da equipe, fato que dividiu opiniões entre a torcida. Alguns afirmavam que sua inexperiência como treinador acabaria pesando nos jogos seguintes e o clube perderia um renomado profissional, tendo em vista seu renomado trabalho na comissão técnica. Outros lhe deram um voto de confiança e confiavam na "mística" de ser filho de Nelsinho Baptista, técnico campeão da Copa do Brasil de 2008 com o próprio Sport.

A improvável classificação ao mata-mata do Nordestão veio. O SCR ficou na segunda colocação da chave com oito pontos, um atrás do líder Guarany de Sobral. Náutico (6) e Botafogo de João Pessoa (4) estavam eliminados. Importante ressaltar que os paraibanos foram punidos com a perda de quatro pontos por ter escalado os jogadores Pio e Thiaguinho de maneira irregular justamente na partida contra o rubro-negro pernambucano no Almeidão, jogo que também ficou marcado por uma confusão entre as torcidas organizadas do Bota e do SCR.

Nas quartas-de-final, o adversário foi o CSA, líder do grupo B. O jogo de ida na Ilha do Retiro foi com portões fechados, uma punição pela briga entre torcedores de Botafogo-PB e Sport na primeira rodada. A vitória por 2 a 0 deixou os leões com ótima vantagem para o jogo da volta, o qual terminou com o placar de 1 a 0 para os alagoanos, que amargaram a eliminação e lamentaram um pênalti não marcado a seu favor no primeiro encontro.

A fase semifinal reservava dois novos capítulos do Clássico das Multidões. Prometia ser as maiores edições do clássico com maior apelo em Pernambuco, como o nome sugere. O Sport saiu vitorioso em ambas as partidas: 2 a 0 na ida e 2 a 1 na volta. Mais uma vez, os adversários ficaram na bronca com a arbitragem. Agora, o nome na berlinda era o de Sandro Meira Ricci, que será o árbitro brasileiro da Copa do Mundo de 2014.

Na grande decisão, os rubro-negros tinham pela frente o Ceará, dono do melhor atataque do certame (20 gols). Mesmo assim, não se intimidaram e construíram ótima vantagem nos primeiros 90 minutos: 2 a 0 na Ilha do Retiro. No Castelão, saiu atrás, mas arrancou um empate e levantou a taça em pleno território inimigo. O gol do título foi de Neto Baiano, cobrando pênalti. De virtual eliminado a campeão do Nordestão de 2014, o Sport conquistava seu terceiro título na competição e consagrava Eduardo Baptista como treinador.

Já no Estadual, o Rubro-negro da Ilha do Retiro terminou o Hexagonal do Título na segunda colocação, com 17 pontos, três atrás do líder Náutico. Reencontrou-se com o Santa Cruz nas semifinais e fez os tricolores amargarem uma nova eliminação em pleno ano do centenário. Mesmo com o revés por 3 a 0 na ida, no Arruda, venceu pelo placar mínimo na volta, na Ilha do Retiro, e saiu vitorioso nos pênaltis: 5 a 3. Isso aconteceu porque o regulamento do Campeonato Pernambucano prevê disputa de pênaltis em caso de igualdade de pontos nos jogos do mata-mata.

Agora, na decisão, o Sport enfrenta o Náutico e promete se vingar das três derrotas sofridas frente aos alvirrubros nesta temporada (2 a 1 na Arena Pernambuco e dois placares de 1 a 0 na Ilha do Retiro). Enquanto o Leão não conquista o PE desde 2010 e busca seu 40º título na competição, o Timbu quer dar fim a um tabu de 10 anos sem "copar" o torneio e chegar ao seu 22º título.

Na primeira fase da Copa do Brasil, o confronto com o Brasília foi adiado em decorrência da final da Copa do Nordeste. A partida de ida será disputada no próximo dia 30, uma quarta-feira, no Estádio Mané Garrincha. Caso não venca o duelo por dois ou mais gols de diferença, o Sport receberá os candangos na Ilha do Retiro na quarta-feira seguinte, dia 7 de maio.

A equipe se vê na obrigação de ser eliminada antes das oitavas-de-final da competição nacional para carimbar sua vaga na Copa Sul-Americana, privilégio concedido com o título do Nordestão. Coisas do bizarro regulamento da CBF.

Quem comanda: Eduardo Baptista

Filho de Nelsinho Baptista, campeão da Copa do Brasil de 2008 com o Sport, Eduardo Baptista está seguindo os passos do pai e, por enquanto, vem obtendo sucesso. Logo no seu primeiro ano como técnico de futebol, conquistou a Copa do Nordeste de 2014 com a equipe rubro-negra e conseguiu eternizar a Família Baptista na história do Sport Club do Recife.

Eduardo trabalha no clube recifense desde 2011, quando veio como preparador físico, função que exercia até ser efetivado como treinador no início deste ano. Assumiu o time num momento muito difícil. A equipe vivia situação delicada no Nordestão - Geninho, técnico que havia sido demitido, afirmou que "o Sport já estava eliminado da competição", tendo em vista que o time somava apenas um ponto nas três primeiras rodadas - e era tratada como carta fora do baralho.

Mesmo deixando a torcida receosa devido à sua eventual inexperiência de iniciante, Eduardo Baptista soube pôr seu conhecimento do elenco em prática e, com seu espírito motivador, superou todos os prognósticos, levando o Leão da Ilha à improvável classificação ao mata-mata - o SCR foi o segundo colocado do grupo D, ficando atrás do surpreendente Guarany de Sobral - e, posteriormente, ao seu terceiro título da competição regional. As vítimas no mata-mata foram o motivado CSA, o rival Santa Cruz e, por fim, o temeroso Ceará. Na fase de grupos, os leões despacharam outro rival, o Náutico, e o Botafogo-PB.

No Campeonato Pernambucano, o SCR terá o Náutico pela frente na grande decisão e pode dar ao estreante técnico o seu segundo título na temporada. 

Com Eduardo Baptista no comando, o Sport se destaca por ser um time forte na marcação e tem o polêmico atacante Neto Baiano como sua esperança de gols. Baptista impôs um padrão de jogo que há muito tempo não era visto na Ilha do Retiro, vem sendo uma grata surpresa no futebol pernambucano e promete manter sua filosofia na disputa do Brasileirão.

Quem decide: Neto Baiano

No Sport desde a Série B de 2013, Neto Baiano foi peça importante na conquista do acesso à Série A. Antes pertencente ao Goiás, Neto teve seu vínculo com o clube rubro-negro prolongado e sua importância no plantel aumentou consideravelmente após as saídas de Marcos Aurélio - para o futebol sul-coreano - e Lucas Lima - para o Santos.

Contabilizando com a temporada passada, as estatísticas apontam que o atacante marcou 20 gols em 35 jogos com a camisa do Leão e tem bom aproveitamento. Marcou gol nos dois jogos da final contra o Ceará e foi vice-artilheiro da Copa do Nordeste com seis gols, dois atrás do artilheiro Magno Alves, do Ceará. Com um espírito "raçudo", o avançado já mostrou que quer adquirir o status de ídolo na Ilha do Retiro.

Além dos decisivos gols, Neto Baiano também chama a atenção pelas suas provocações aos rivais do Sport, Náutico e Santa Cruz. Sobre isso, ele afirma que faz parte da rivalidade entre o Trio de Ferro da capital e o futebol precisa de tamanha irreverência para não se tornar um esporte chato.

Foi criado um clima de tensão entre ele e o técnico Lisca, do Náutico. Após o primeiro Clássico dos Clássicos do Estadual, cujo resultado final foi a vitória do Timbu por 2 a 1, o atacante rubro-negro não se conformou ao ver o treinador alvirrubro comemorando o triunfo e partiu para cima de Lisca. O reencontro dos dois se dará na decisão do próprio Campeonato Pernambucano.

Com ou sem provocações e com ou sem ira pelos adversários, Neto Baiano é a principal arma do Sport para a reta final do Estadual e para a Série A do Brasileirão. Ambas as competições podem consolidar o jogador como mais novo ídolo do Leão da Praça da Bandeira.

Quem promete: Renê

Piauiense de 21 anos, Renê foi formado nas categorias de base do Sport e atua no time principal desde 2011.

Sua importância para o plantel aumentou desde que Eduardo Baptista assumiu o comando técnico do Leão. O time ficou mais consistente na defesa e na marcação, passando a sofrer menos gols. Volta e meia, o jovem participa de alguns lances que originam gols à equipe rubro-negra.

Indubitavelmente, Renê Rodrigues Martins vive sua melhor fase em sua curta carreira profissional e está se sobressaindo num elenco no qual a concorrência pela lateral, posição na qual atua, é forte: além do próprio Renê, o grupo também conta com Marcelo Cordeiro, Igor e Danilo.

A Série A de 2014 surge como uma grande oportunidade para o garoto amadurecer na carreira.

O desafio

Mais do que fazer uma boa campanha na Série A, o Sport Club do Recife necessita recuperar seu prestígio entre os grandes do futebol brasileiro neste ano. A história do clube, que já chegou até a conquistar uma edição do campeonato mais importante do Brasil - embora haja controvérsias -, ficou bastante manchada com as recentes campanhas na elite.

Nas duas últimas vezes (2009 e 2012), foi rebaixado para a Série B - na primeira, como lanterna da competição e tornando-se o primeiro time da história dos pontos corridos a não vencer uma partida sequer fora de casa; na segunda, como 17º colocado, rebaixado pelo rival Náutico na última rodada.

O título do Nordestão e uma hipotética taça do Campeonato Pernambucano - o Leão venceu o Náutico por 2 a 0 no jogo de ida e apenas um empate o separa do 40º título estadual - podem servir como motivação para o time dar um basta na fatídica fama de "time ioiô".

Avaliação VAVEL

Recém-promovido à Série A e com um elenco bastante motivado após a efetivação de Eduardo Baptista, o Sport deve utilizar a união de seu elenco e o fator mando de campo como armas para fazer uma campanha digna na primeira divisão. Todavia, a concorrência não será fácil. O Brasileirão é um campeonato que não exige apenas raça, mas também técnica. Com muitas equipes fortes na disputa, o clube da Ilha do Retiro é candidato à permanência, embora ainda prometa ser um time "chato" de se enfrentar.