É inegável a carreira brilhante, como jogador, que teve Jorginho. Titular da seleção brasileira durante alguns anos, com diversos títulos na bagagem, foi campeão por onde passou. Porém, a carreira de treinador é um desafio diferente para o atual comandante do Vasco. Depois de passagens instáveis por algumas equipes, o treinador carioca tenta se firmar no clube onde conquistou alguns de seus principais títulos em território nacional. 

Tudo começou quando Jorginho aceitou o convite para ser treinador do clube que o revelou, o América (RJ), em 2005. Depois de boa temporada no clube carioca, o técnico foi chamado por Dunga para fazer parte da comissão técnica da seleção brasileira, função qual se manteve até 2010. Após isso, o ex-jogador passou por diversos clubes, incluindo Flamengo, Figueirense, Goiás e Ponte Preta, além do Kashima Antlers (Japão).

Em 2015, Jorginho chegou ao Vasco com a missão de livrar a equipe de seu terceiro rebaixamento para a segunda divisão. A missão era extremamente difícil, pois o elenco estava sem moral e os treinadores anteriores não haviam deixado um bom legado para a equipe. Com a saída de Gilberto, principal arma ofensiva da equipe no início da temporada, o time sofria tanto ofensivamente quanto defensivamente, chegando a sofrer diversas derrotas pesadas durante o campeonato. 

Indo contra a maré, Jorginho conseguiu arrumar o time após algum tempo no comando. Contou com a ajuda de alguns reforços, entre eles Nenê, principal estrela da equipe, e principalmente, da recuperação da auto estima de seus jogadores, fato qual se deve ao ótimo relacionamento do treinador e de sua comissão com os mesmos. 

Infelizmente, mesmo com todo trabalho árduo e entrega excessiva, a equipe vascaína não conseguiu se livrar do rebaixamento. Porém, algo raro no futebol brasileiro aconteceu: o presidente Eurico Miranda deu um voto de confiança a Jorginho, sua comissão, e a todos jogadores que fizeram parte da arrancada final da equipe vascaína, e não dispensou nenhum deles, com excessão do volante Serginho, titular da equipe, que saiu por fim de contrato. 

Já em 2016, com bastante moral, e pela primeira vez pela segunda temporada seguida em uma grande equipe brasileira , Jorginho tem inovado o ambiente de São Januário. A filosofia do técnico se difere às dos antigos treinadores, que pareciam não se apegar muito à questão táctica, e tentavam apenas entrar em campo usufruindo do peso da camisa vascaína.

A consistência tática da equipe impressiona. Além do eficiente sistema defensivo, Jorginho implantou a ideia de que ter a posse de bola é importante, e que se lançar ao ataque sem pensar nas consequências é uma estratégia ultrapassada, quase suicida. O meio campo é formado por jogadores com ótimo passe, chegando até a não ter um volante apenas de marcação, fazendo com que todos jogadores do setor trabalhem a bola ofensivamente, e cumpram suas funções defensivas com precisão. O sistema ofensivo não tem um grande jogador de velocidade, com bom drible, mas tem um exímio camisa dez e atacantes esforçados, que ajudam tanto na defesa quanto no ataque.

Jorginho, no papel, põe os jogadores de meio campo em formato de losango, estratégia qual parecia estar ultrapassada após ser impregnada a necessidade de um jogador em cada ponta do ataque, e um centroavante isolado dentro da área, ou um falso 9. A equipe, aliás, joga sem um centroavante de origem. Riascos, que vem sendo titular, é um jogador de velocidade, e junto a Jorge Henrique, ajudam a defesa de maneira essencial, deixando Nenê com mais liberdade em campo, organizando as ações ofensivas. Também não se pode esquecer da insistência do técnico para com os detalhes. Bola aérea, contra ataque, sempre tocar a bola evitando chutões, entre outros artíficios tais quais o técnico utiliza.

Ainda não se sabe se a fórmula de Jorginho surtirá efeito durante toda temporada. No final do último Campeonato Brasileiro, a equipe se mostrou igual, e até superior, à outras grandes equipes. Sabe-se que o futebol brasileiro é extremamente variável, e que na primeira grande sequência de resultados ruins, o culpado sempre é o técnico, mas parece que Jorginho trilha outro caminho nesse sentido. Tem a confiança da diretoria, dos jogadores, e da torcida, fazendo com que não se imagine a sua saída em algum momento da temporada.

Os testes começaram. O Campeonato Carioca começou com goleada e superioridade, mas ainda há muito por vir. Basta esperar e torcer para que essa seja mais uma fórmula de sucesso. Pelo bem do Vasco, e também do futebol brasileiro, que necessita de inovação e bons novos técnicos, que nos levem novamente ao topo do mundo.