Os tempos ainda eram difíceis. Após anos de uma guerra que devastou a grande maioria dos países europeus, e que trouxe consequências sóciopolíticas que perduram até os dias atuais, os Jogos Olímpicos de Helsinque prometiam ser um dos mais complicados da história. E, para o Brasil, que havia conquistado apenas um ouro olímpico até então, mais ainda.

O país também vinha fragilizado pela guerra, e sua conjuntura política também não era boa. O presidente Getúlio Vargas enfrentava grande resistência em seu governo, pressão esta que, dois anos mais tarde, seria uma das causas de seu suicídio.

Voltando a questão do esporte, Adhemar Ferreira da Silva vinha para a competição como uma das principais esperanças do país. Não a toa. O atleta do salto triplo havia disputado seus primeiros Jogos Olímpicos quatro anos antes, em Londres, terminando numa modesta 14ª colocação. Entretanto, tal resultado era apenas o começo de uma carreira gloriosa.

Um ano antes dos Jogos Olímpicos de Helsinque, em 1952, Adhemar disputou os Jogos Pan-Americanos de Buenos Aires, e sagrou-se campeão na prova de Salto Triplo. Quando chegaram os Jogos, não tinha para ninguém. Adhemar entrou na competição como favorito, e confirmou seu favoritismo.

Nas qualificatórias para a prova final, o brasileiro havia conseguido a marca de 15,32 m, o suficiente para ser o primeiro entre todos os atletas que iriam disputar a finalíssima, ficando à frente justamente dos outros dois atletas que iriam completar o pódio com ele mais tarde, Arnoldo Devonish (VEN) e Leonid Shcherbakov (URSS).

Assim que o atleta entrou na pista, o recorde mundial era de 16 metros, estabelecido por Naoto Tajima, em 1936, nos Jogos Olímpicos de Berlim. Era. Na mesma tarde, Adhemar quebrou o recorde incríveis quatro vezes, com índices de 16,05 m, 16,09 m, 16,12 m e, por último, 16,22 m, resultado que o consagrou campeão em Helsinque e recordista mundial, marcando para sempre não apenas a história do Brasil nos Jogos Olímpicos, mas como o da própria prova do salto triplo. Ao final da gloriosa tarde, Adhemar marcou história ao ser o primeiro atleta a dar volta olímpica na pista, sendo ovacionado pelo público.

Para marcar ainda mais sua história nos Jogos Olímpicos de 1952, Adhemar não poderia deixar o local sem outra boa história. Antes da realização da prova, o atleta havia pedido para uma cozinheira finlandesa que conhecera nos jogos, que preparasse para sua volta um prato bem “brasileiro”: bife com salada. Ao voltar, para sua surpresa, além do prato, havia também um bolo com as inscrições “16,22”, o recorde mundial que Adhemar havia conquistado naquela tarde em Helsinque, e que lhe trouxe o Ouro Olímpico. A partir daquele dia, Helsinque nunca mais foi a mesma. E muito menos Adhemar Ferreira da Silva, o segundo medalhista de ouro olímpico do Brasil.

Ficha técnica – Salto Triplo, disputado no Estádio Olímpico de Helsinque, em 23 de julho de 1952:

Ouro: Adhemar Ferreira da Silva – 16,22 m (Brasil)

Prata: Leonid Shcherbakov - 15,98 m (União Soviética)

Bronze: Arnoldo Devonish – 15,52 m (Venezuela)

4° lugar: Walt Ashbaugh – 15,39 m (Estados Unidos)

5° lugar: Rune Nilsen – 15,13 m (Noruega)

6° lugar: Yoshio Imuro – 14,99 m (Japão)

7° lugar: Geraldo de Oliveira – 14,95 m (Brasil)

8° lugar: Roger Norman – 14,89 m (Suécia)

9° lugar: Reino Hiltunen – 14,85 m (Finlândia)

10° lugar: Zygfryd Weinberg – 14,76 m (Polônia)

11° lugar: Jim Gerhardt – 14,69 m (Estados Unidos)

12° lugar: Rui Ramos – 14,69 m (Portugal)

13° lugar: Preben Larsen – 14,62 m (Dinamarca)

14° lugar: Tadashi Yamamoto – 14,57 m (Japão)

15° lugar: Arne Âhman – 14,05 m (Suécia)