Em 2014, a Fórmula 1 teve um ano totalmente diferente. Isso foi causado pelo excesso de mudanças que mexeram com a categoria. Os motores turbo voltaram depois de 22 de hiato, mas em vez dos V12 da época, eram V6, substituindo os V8 aspirados, usados até 2013. Além disso, o escapamento, que era duplo, virou único e centralizado; a altura do chassi e do ''nariz'' do carro foram diminuídas, mudando totalmente o aspecto estético dos carros. O peso mínimo do conjunto carro e piloto passou para 690 kg, houve a diminuição da asa traseira, asa dianteira estreita, limite de uso de combustível para 100kg/corrida, e câmbio de oito marchas, podendo ser trocada apenas uma vez. Tudo isso para impedir o domínio de Sebastian Vettel e da Red Bull, que entre 2010 e 2013 ganharam quatro campeonatos de pilotos e construtores, respectivamente.

Porém, a Mercedes se mostrou quem melhor se adaptou com as novas regras e fez um carro altamente dominante, que conseguiu dezoito pole-positions e dezesseis vitórias em dezenove corridas, e consagrou Lewis Hamilton, que se tornou bicampeão mundial, batendo seu companheiro de equipe e amigo de infância, o alemão Nico Rosberg - os dois correram juntos no kart.

Além disso, o ano foi marcado pelo renascimento da Williams, problemas para Ferrari, Red Bull, McLaren e Lotus, sem contrar com a grave crise financeira nas equipes menores. Confira abaixo, prova a prova, como foi a temporada de 2014 da Fórmula 1.

Rosberg vence abertura da temporada e Ricciardo perde pódio em casa

No dia 16 de março, a Fórmula 1 desembarcou em Albert Park, Melbourne, para o Grande Prêmio da Austrália, que abriu a temporada como de costume. Os fãs australianos estavam em extâse, pois, mesmo vendo seu piloto, Mark Webber, se aposentar e deixar a Red Bull, viram o substituto ser outro australiano: Daniel Ricciardo, piloto da Academia de Jovens Pilotos da equipe austríaca, vindo da Toro Rosso. E ele não fez feio: ficou em 2º lugar já no treino classificatório, perdendo a pole para Lewis Hamilton. Na corrida, com Hamilton e Sebastian Vettel, tendo problemas com seus carros e os abandonando logo no começo, Nico Rosberg, que largou em 3º, tomou a ponta logo na primeira curva para não largar mais, enquanto atrás Felipe Massa e Kamui Kobayashi se acidentavam. Ricciardo fez o público delirar nas dependências do circuito com o 2º colocação, mas, com um erro de cálculo da Red Bull, foi desclassificado horas depois por seu carro ter passado do limite de combustível de 100kg. Assim, Kevin Magnussen, novato da McLaren, ficou com a posição (se juntando a Hamilton e Jacques Villeneuve como novatos que foram ao pódio na primeira corrida), e Jenson Button, também da McLaren, que herdou uma vaga no pódio com o 3º lugar.

Hamilton mostra força e vence quatro provas seguidas

Foi a partir do GP da Malásia que Hamilton mostrou a que veio no mundial. Largando na pole depois de treino chuvoso, o inglês venceu com dezessete segundos de vantagem e ainda fez a volta mais rápida, onde Rosberg fechou a primeira dobradinha da Mercedes no ano. O Bahrein, em celebração aos dez anos de GP, realizou uma corrida noturna, que foi a melhor do ano, cheio de pegas, brigas e acidente, como a capotagem de Esteban Gutiérrez após toque de Pastor Maldonado. No fim, mesmo com os pneus mais duros, Hamilton segurou o ímpeto de Rosberg e seus pneus e venceu a prova em um grande exibição. Destaque também para a Force India, que voltou ao pódio depois de quase cinco anos, com Sergio Pérez na 3º posição.

Na China, Hamilton voou mais uma vez. Marcou a pole com quase 0s6 de frente e venceu a corrida com dezoito segundos de vantagem para Rosberg. Porém, mesmo com toda a sequência positiva, somente com a quarta vitória seguida, na Espanha, ele viria a assumir a liderança do campeonato. Porém, a partir dali, começaria a briga interna entre os pilotos.

Ricciardo deu show e foi 2º em casa, mas viria a ser desclassificado horas depois (Foto: Getty Images)

Polêmica em Mônaco esquenta clima na Mercedes

A forte amizade de infância entre Hamilton e Rosberg não superou a briga pelo campeonato. Na classificação de sábado em Mônaco, Rosberg, durante a parte final do treino, o Q3 liderava, quando eles saíram para suas últimas tentativas. Na descida da curva Mirabeau, porém, o alemão errou e saiu da pista, causando bandeiras amarelas. Hamilton, que vinha atrás, foi obrigado a tirar o pé do acelerador e não melhorou seu tempo, ficando em segundo lugar. O inglês, que tinha total certeza que Rosberg errou propositadamente para atrapalhá-lo, chergou a declarar que eles "não eram mais amigos, e sim companheiros de trabalho". Nico foi investigado, mas segundo os comissários, não haviam provas suficientes de que ele errou propositadamente. Na corrida, mesmo com o clima pesado, os dois conseguiram mais uma dobradinha, com Rosberg vencendo.

No Canadá, viria o primeiro revés da Mercedes no ano. Rosberg e Hamilton largaram na primeira fila, mas o inglês abandonou com problemas nos freios e o alemão teve problemas no ERS, que comprometeram a potência do seu carro. Assim, Daniel Ricciardo se consolidou como um dos destaques do ano, fazendo uma grande corrida, ultrapassando Rosberg faltando duas voltas do fim e vencendo a primeira corrida na carreira, que terminou sob safety-car, depois da forte batida de Felipe Massa e Sergio Pérez.

Na Áustria, mais surpresas, dessa vez no sábado: Felipe Massa foi o único piloto não-Mercedes a marcar uma pole-position no ano, sua primeira desde Brasil/2008, com os problemas de Rosberg, 3º lugar, e Hamilton, 9º. Porém, os pilotos da esquadra germânica voaram no domingo, com Rosberg em 1º e Hamilton logo atrás. Restou a Williams comemorar o primeiro pódio da carreira de outro destaque positivo do ano, o finlandês Valtteri Bottas, em 3º, com Massa em 4º. Na Inglaterra, Hamilton apostou na chuva pela classificação de sábado e se deu mal, largando em 6º e vendo Rosberg fazer a pole. A corrida foi atribulada já desde a largada, com a forte batida de Kimi Räikkönen, que envolveu o brasileiro, e a segunda largada foi atrasada em uma hora para reposição do muro. Mesmo com a pole, Rosberg teve seu primeiro grande revés, abandonando com problemas no câmbio e viu Hamilton fazer uma grande corrida e vencer, diminuindo a vantagem do alemão na liderança para quatro pontos. Naquela corrida também houve o grande 'pega' da temporada, entre Fernando Alonso e Sebastian Vettel, por várias voltas.

Na Alemanha, Rosberg, correndo em casa, se deu muito bem no sábado, quando marcou a pole e viu Hamilton bater após um problema de freio e largar apenas em 16º. Na corrida, que logo na largada teve a capotagem de Felipe Massa após um toque com Kevin Magnussen, outra polêmica. Após a Sauber de Adrian Sutil rodar e ficar parada na reta dos boxes, Hamilton foi para os pits para colocar pneus supermacios, o que o daria uma grande chance de vitória com a entrada do safety-car; o que não aconteceu, provocando reclamações de vários pilotos que prezavam pela segurança - muitos lembraram o incidente do GP da África do Sul de 1977, em que um fiscal, Fredrik Jansen van Vuuren, de 19 anos, atravessou a pista para apagar o princípio de incêndio do carro de Renzo Zorzi, e acabou sendo atropelado por Tom Pryce; o extintor que estava na mão do comissário decapitou Pryce, e o comissário teve seu corpo arrasado e dividido em partes, também morrendo na hora.

Rosberg venceu à frente do seu público, com Bottas em 2º e Hamilton em 3º. Na Hungria, que costuma realizar provas monótonas, uma grande corrida sob chuva, com Hamilton, que largou em último por um problema no carro no sábado - que gerou até incêndio - fazendo uma prova fantástica para chegar em 3º, e Rosberg, o pole, em 4º. Daniel Ricciardo venceu a segunda no ano, com Fernando Alonso levando sua caótica Ferrari a um milagroso segundo lugar.

Pilotos da Mercedes batem na Bélgica, acidente de Bianchi choca F1 e Hamilton encaminha conquista

No GP da Bélgica, em Spa-Francorchamps, o momento mais polêmico da temporada. Durante a 2ª volta, na curva Les Combes, Nico tocou na roda traseira esquerda de Lewis ao tentar uma ultrapassagem por fora. O pneu do inglês furou e voltas depois ele viria a abandonar. Rosberg, vaiado pela torcida, teve que trocar a asa dianteira e chegou em 2º, com Ricciardo vencendo a terceira no ano, segunda consecutiva - seria a última vitória de um piloto não-Mercedes no ano. Na Itália, mais polêmicas. Hamilton fez a pole, teve uma largada terrível, mas vinha se recuperando. Porém, nas voltas nove e 29, Rosberg, que liderava, saiu da pista na Variante del Rettifilo, dando a liderança e a vitória para o inglês. Na época se comentou que o incidente poderia ter sido proposital, para abaixar a poeira causada pelo acidente de Spa, mas a informação foi desmentida por toda a equipe Mercedes, incluindo os pilotos. Destaque também para Felipe Massa, que chegou em 3º, conseguindo seu primeiro pódio no ano.

Em Cingapura, começou a grande virada de Hamilton no campeonato. Após conseguir a pole por 0s007, o inglês viu Rosberg ter problemas já na largada e abandonar voltas depois, e assim, tirou um revés de 22 pontos para abrir dez de vantagem na liderança do campeonato. No Japão, belíssima vitória do inglês, sob chuva, ultrapassando Rosberg por fora, mas ela ficou em segundo plano. Isso porque, na 43ª volta do GP em Suzuka, o francês Jules Bianchi, da Marussia, rodou na curva 7 e acertou um guindaste, que retirava a Sauber do alemão Adrian Sutil, que rodou no mesmo ponto momentos antes. O piloto da Marussia foi levado ao Hospital Geral de Mie, no Japão, com lesões graves na cabeça, entre elas uma lesão axonal difusa (LAD) e recentemente foi transferido para o Hospital de Nice, na França, onde mora a família. O relatório da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) concluiu que os procedimentos de segurança foram corretos e a culpa maior do acidente foi do próprio Bianchi, que não reduziu o suficiente sob bandeiras amarelas, e do carro da Marussia, que apresentou falhas em sistemas de segurança. Ainda sob a sombra do grave acidente, na Rússia, corrida nova do calendário, em Sochi, Hamilton largou na pole, sofreu ataques de Rosberg na largada, mas resistiu, e em corrida sem grandes emoções, venceu. Nos Estados Unidos, Hamilton dominou os treinos livres, mas viu Rosberg fazer a pole. Mesmo assim, em uma manobra sensacional na corrida, ultrapassou Nico e venceu, abrindo 24 pontos de vantagem na ponta. Vantagem essa que diminuiu para dezessete pontos, com Rosberg vencendo no Brasil, penúltima corrida, com Hamilton em 2º e Massa em 3º, para delírio do público em Interlagos.

Rosberg tem problemas, Hamilton vence em Abu Dhabi e é bicampeão

A última corrida da temporada foi em Abu Dhabi, cercada de polêmica por conta da pontuação dobrada, instituída para a última corrida em 2014. Com ela, se Rosberg vencesse e Hamilton fosse 3º, Nico seria campeão (sem ela, Hamilton teria que ser 7º com Rosberg vencendo). Lewis precisava de um 2º lugar para garantir a taça sem depender de outros resultados. No treino classificatório, deu Rosberg, com Hamilton em 2º. Porém, na largada da corrida, o inglês decidiu acabar com a fama de "amarelão" nas decisões. Rosberg não saiu tão bem quanto gostaria, Hamilton partiu com tudo e abriu distância na ponta. Durante a prova, os dois mantiveram a vantagem pequena, sempre com eles alternando voltas mais rápidas. Porém, Rosberg começou a ter problemas de potência, que foram em parte corrigidos, mas o mandaram para a longínqua 14ª posição. Com isso, Lewis Hamilton teve caminho livre, e mesmo sofrendo pressão com a aproximação de Felipe Massa no fim, venceu e se tornou bicampeão mundial.

Pra completar a festa, ele fez o famoso gesto de seu grande ídolo, o tricampeão Ayrton Senna, e pegou a bandeira inglesa ainda voltando para os boxes. O campeão de 2008 e 2014 esteve com Massa e Valtteri Bottas no pódio, complementando o ótimo ano da Williams. Hamilton agora se junta a Alberto Ascari (1952 e 1953), Graham Hill (1962 e 1968), Jim Clark (1963 e 1965), Emerson Fittipaldi (1972 e 1974), Mika Häkkinen (1998 e 1999) e Fernando Alonso (2005 e 2006 - ainda no atual grid) na lista de bicampeões do mundo.

Lewis Hamilton comemora com a bandeira do Reino Unido o bicampeonato mundial em Abu Dhabi (Foto: Getty Images)
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Sobre o autor
Eduardo Costa
Fã de quase todos os esportes, e sofrendo com todos os seus times neles. Dissertando um pouco sobre Fórmula 1, futebol inglês e futebol alemão.