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Golo de Gotze decide: Alemanha é a campeã do Mundo

Um golo tardio de Gotze, já na segunda parte do prolongamento, desatou um jogo equilibrado que se encaminhava para as grandes penalidades. A sólida Alemanha bateu a Argentina e sagrou-se campeão mundial pela quarta vez na História.

Golo de Gotze decide: Alemanha é a campeã do Mundo
Troféu nas mãos da Mannschaft (Foto em: tvzn.co.nz)
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Por VAVEL

O golo de Mario Gotze terminou com o sonho alviceleste e representou o apogeu germânico de uma caminhada triunfal até à final do Mundial 2014. Quando o equilíbrio entre Alemanha e Argentina parecia indiciar uma decisão através das fatídicas grandes penalidades, o jogador do Bayern surgiu para marcar a diferença, ao minuto 113.

A festa alemã explodiu e o Maracaná pintou-se de fogo-de-artifício para celebrar a vitória da Mannschaft, naquela que foi a quarta consagração mundial da selecção germânica. Com Joachim Low ao leme, a Alemanha marcou 18 golos neste Mundial e sofreu apenas 4, tendo protagonizado um dos jogos mais memoráveis da História do Futebol, ao golear estonteantemente o anfitrião Brasil por incríveis 7-1.

Por entre gritos de júbilo e clamores triunfais, o capitão Lahm ergueu o troféu, corolário de um investimento sustentado e progressivo no futebol germânico, que agora dá os seus frutos em forma de conquista histórica. A vitória alemã materializa o desenvolvimento global do seu futebol: competitivo internamente, pleno de aposta na formação e financeiramente estável.

Genéticas semelhantes, filosofias distantes

Nesta final defrontaram-se as duas defesas mais sólidas da competição, o que revela a importância estrutural de uma zona recuada competente, concentrada e dominadora do seu espaço. Ambas as selecções foram demonstrando controlo total na retaguarda à medida que avançavam na prova - um trunfo defensivo que propelou a veia atacante das duas congéneres.

Embora bem diferentes da sua filosofia de jogo, Alemanha e Argentina possuem componentes genéticos com algumas semelhanças: ambas são resolutas na defesa e ambas têm nos seus filões armas ofensivas de perigosidade máxima: Gotze, Ozil, Muller e Klose pela Alemanha, Messi, Di Maria, Aguero, Higuaín e Lavezzi pela Argentina. A grande diferença reside no âmago - o meio-campo e a forma como as duas o preenchem.

Se ambas possuem linhas defensivas fortes (mesmo que sujeitas a algumas flutuações na escolha dos seus titulares), a solidez e preserverança táctica no miolo só assiste aos germânicos. Enquanto que na Argentina o transporte de bola é feito com base no rasgo individual (Di Maria, Enzo ou Messi) e na tentativa do desequilíbrio posicional do oponente, na Alemanha dá-se privilégio à posse, controlo e ocupação manipuladora dos espaços, rumo à construção apoiada - o objectivo é o mesmo mas o modo de actuação totalmente oposto.

Enquanto que na Alemanha, Low trazia de casa um planeamento táctico assente na segurança da posse de bola com vista à dominação do ritmo de jogo, Sabella ainda se debatia, no arranque do Mundial, com dúvidas, rasuras e alterações estruturais que adivinhavam uma certa confusão na escolha do modelo de jogo ideal - no meio-campo residia o ponto de interrogação. Muito por culpa da matéria-prima à disposição, Sabella tentou (talvez precipitadamente) implementar uma organização de jogo apoiada nas transições velozes; Low preferiu sedimentar o meio-campo alimentando um polvo à frente da área.

Khedira, Lahm, Schweinsteiger, Kroos, todos eles participaram da manobra alemã no centro do terreno, quer no bloqueio de espaços quer na movimentação pressionante e nas saídas apoiadas para o ataque. Isso concorreu para fortificar o estilo de jogo de Low, quase impenetrável, e também para dar um empurrão à consistência criativa e ofensiva da Alemanha (4-0 contra Portugal e 7-1 ao Brasil). Já na Argentina, a construção das jogadas engasgava-se, órfã de maestros ou de complementos organizacionais que engrenassem o motor alviceleste - Enzo e Biglia ajudaram a disfarçar essa dificuldade.

Com ou sem avançados fixos?

Aqui se descobre outra diferença entre as duas finalistas. A Alemanha bebeu da filosofia catalã do Barcelona e da metodologia de Guardiola, jogando sem avançado fixo e dando primazia às derivações, diagonais e movimentos expansivos do seu «falso 9», Thomas Muller. A Argentina preferiu manter a aposta num avançado clássico (Higuaín), posicionando Messi nas faixas. Porventura, até seria a selecção sul-americana a dispôr de mais opções para seguir o modelo adoptado por Low (Aguero e Messi).

Também aí o modelo germânico se mostrou mais eficaz: Muller marcou 5 golos e foi sempre um jogador perigoso devido aos seus movimentos irrepetíveis, a toda a largura do terreno e com uma profundidade difícil de acompanhar, aumentando assim o seu raio de acção, o que influenciou o desenrolar das jogadas, beneficiando os colegas que as construíam. Higuaín, mais preso, contagiou todos à sua volta, por culpa do sistema táctico: até Messi pareceu restringido nos seus movimentos.

Na final tudo poderia acontecer mas ganhou a Alemanha...

Não que estejamos a dar razão ao velho ditado, mas a verdade é que o grande favorito acabou por sair vitorioso. A Alemanha, cabeça-de-cartaz desta prova depois de ter goleado copiosamente Portugal e o Brasil, acabou por levar de vencida a Argentina, resolvendo a contenda num passe picado de Schurrle e num remate certeiro de Gotze. Apesar do tremendo equilíbrio, foram os alemães a corresponder afirmativamente à pressão do favoritismo, o que demonstrou assertividade emocional e robustez global de uma equipa que pareceu sempre em controlo das suas emoções (algo que não se viu na selecção brasileira).

4-4-2 logango ainda baralhou alemães

A passagem para o 4-4-2 losango baralhou as coordenadas germânicas, adaptadas ao 4-4-2 inicial dos argentinos. Com a entrada de Aguero ao intervalo a manobra de Sabella resultou, dando à Argentina maior poder de construção. Com o excelente trabalho de Mascherano na zona recuada, o que faltava mesmo aos argentinos era o golo: Higuaín esteve perdulário e a pontaria dos companheiros não foi melhor. Antes, pelo lado germânico, Howedes falhara um ocasião de ouro: a bola embateu no poste depois da cabeçada do alemão.

Mais tarde, foi a entrada de Gotze que estragou os planos de Sabella. O jovem entrou para ser elemento de ruptura junto de uma defesa logicamente cansada: aposta ganha, trunfo jogado e jogo decidido - entrada pela área adentro, falha de marcação no coração da área e golo de Gotze a passe de Schurrle, que até aí pouco tinha feito para ser lembrado neste jogo. Fisicamente mais capaz, a Alemanha resistiu ao efeito do cansaço e acabou por desfeitear Romero, rumo à quarta Copa do Mundo - merecida, diga-se.