Alvalade acreditou e Benfica não engrenou

Estádio Alvalade XXI ao rubro, 46 mil adeptos nas bancadas, muita crença, confiança e emoção antes do apito inicial: o eterno «derby» lisboeta começou com uma euforia verde nas bancadas que contagiou o relvado – foram os da casa a mandar, desde cedo, no encontro, pautando o ritmo de jogo, tecendo uma teia de passes que culminou com o golo leonino, nascido do pé de André Martins e concluído com a cabeça do avançado colombiano Montero, solto de marcação. Foram precisos somente dez minutos para que o Sporting se adiantasse no marcador.

Com uma pressão forte, sufocando a saída de bola do Benfica logo na fase de construção mais recuada, os leões conseguiram cortar linhas de passe e foram exímios no controlo do meio-campo, onde Adrien foi, a espaços, o cérebro da equipa, escudado pelo esforçado William Carvalho. Desta forma, Salvio e Gaitán ficaram isolados do jogo, perdidos no colete-de-forças sportinguista e desligados de Matic e Enzo Pérez, os construtores de jogo encarnados que, a bem da verdade, pouco criaram. Jesus guardou as surpresas para mais tarde, deixando Markovic e Cardozo fora do onze titular, mas a força do azar obrigou o técnico a mexer mais cedo que o previsto: Enzo e Salvio saíram lesionados ainda no decorrer da primeira parte. Para os seus lugares entraram Rúben Amorim e Markovic, respectivamente. E foi pelos pés do jovem sérvio que o coelho saiu da cartola – jogada individual do avançado, que, imparável, furou pela defesa leonina e rematou rasteiro, entre as pernas de Rui Patrício. Não foi à primeira tentativa, foi à segunda. Empate em Alvalade aos 65 minutos.

Já com Cardozo em campo, (primeira vez em campo depois do incidente com Jorge Jesus, em Maio) que rendera, logo no reatar da partida, o lesionado Gaitán, o Benfica superiorizou-se ao rival, mas a desorganização táctica impediu que tal domínio fosse constante. Por seu turno, o Sporting, que tremeu com as diabruras de Markovic, estabeleceu de novo o controlo do centro do terreno e voltou a ter o pássaro na mão, mas deixou fugir a possibilidade de marcar o segundo e decidir o «derby» a seu favor. No final, o empate penaliza a equipa da casa, que foi tacticamente superior, assim como penaliza um Benfica instável e desinspirado, que pode ver, amanhã, o FC Porto se isolar e ficar a 5 pontos de distância.

As surpresas do «derby»

Muito se especulou sobre o onze titular do Benfica – Jesus preferiu lançar Salvio na direita e manter Rodrigo perto de Lima, deixando Markovic no banco, assim como Cardozo e Djuricic. Com um meio despovoado, o Benfica ficou em desvantagem numérica perante o triângulo do Sporting, com William, Adrien e André Martins em controlo das operações. Foi a entrada fulgurosa de Markovic que abanou o equilíbrio posicional dos leões, em contraste com a prestação sofrida de Salvio, em visíveis dificuldades físicas. Cardozo entrou na segunda parte e o técnico Leonardo Jardim respondeu com o reforço defensivo Dier e, mais tarde, com a aposta na velocidade do espanhol Capel, em detrimento de um Carrilo totalmente apagado – provavelmente o pior em campo.

Alvalade acreditou na surpresa até ao fim mas a equipa da casa não foi capaz de materializar a sua superioridade em golos, já o Benfica, exaltou-se com o empate e ergueu-se com a vontade de marcar o segundo, mas a magia de Markovic caminhou sozinha, não tendo correspondência na desinspiração de Rodrigo, Lima e de um Cardozo lento e deslocado da partida, presa fácil para as marcações de Maurício e de Dier. Para a história ficou, na verdade irónica, um «derby» sem surpresas: Montero voltou a marcar (leva já cinco golos no campeonato), Markovic confirmou ser uma revelação, ambos os treinadores mantiveram os seus planos tácticos iniciais intactos (Jesus voltou a apostar em Rodrigo ao lado de Lima, relegando quaisquer alterações rumo a um 4-2-3-1 inequívoco) e Jardim foi fiel ao seu onze base. Até na exibição e no resultado final a surpresa esteve ausente – um Sporting organizado, motivado, contra um Benfica com qualidade técnica mas pouca estrutura colectiva. Jogou mais o Sporting e sofreu mais o Benfica. Nem a entrada de Cardozo foi surpreendente, num jogo onde ninguém soube ganhar. O Benfica de Jesus fica, assim, numa posição desconfortável, longe do seu rival portista, que pode isolar-se definitivamente na tabela classificativa. Já o Sporting soma 7 pontos e está, provisoriamente, no comando.