Alegria aliada à desigualdade: só a Taça de Portugal consegue colar os gritos de euforia com o espectáculo de uma partida de futebol iminentemente desequilibrada: na plateia, em Cinfães, os sorrisos e a emoção pintaram as bancadas do Estádio Municipal Professor Cerveira Pinto, sentimento que, no campo, apenas teve extensão na abnegação solidária do Cinfães e no espírito irrequieto do estreante Ivan Cavaleiro, homem da partida e dinamizador único do futebol encarnado desta tarde. Enleado, travando-se a si mesmo em soluços de incerteza e descoordenação, o Benfica fez o suficiente para vencer mas deixou em campo um certo vazio que, pensarão os adeptos, poderia ter sido preenchido, entre linhas, com maior impetuosidade e fulgor ofensivo. Do outro lado da barricada, João Manuel Pinto apresentou um Cinfães esforçado, preparado tacticamente para cercar o meio-campo encarnado e tapar os atalhos laterais dos tecnicistas Ola John e Ivan Cavaleiro. A missão teve sucesso até os homens da casa terem pernas - depois disso, o Cinfães bem quis mas pouco conseguiu. Já o Benfica, a mais era obrigado mas pouco mais logrou obter.

Cavaleiro com armadura à prova de marasmo

Jesus apostou numa revolução do onze encarnado, começando logo pela baliza: Oblak firmou a sua estreia, finalmente. Na defesa, Cortez teria oportunidade de afirmar potencial e Sílvio voltava de lesão, procurando resgatar a forma física. No centro, Jardel fez parelha com Steven Vitória, outro estreante. A outra grande novidade foi a colocação de Lindelof na rectaguarda do meio-campo, perto de Amorim. Nas alas, o promissor Cavaleiro colocava-se na direita e Ola John na canhota, municiando o mais um debutante, Funes Mori. Djuricic secundou o argentino, formando um (teórico) 4-2-3-1 frente a um 4-3-3 duriense.

A primeira parte foi disputada a bom ritmo. Cavaleiro, isolado, permitiu, logo aos 2 minutos, a defesa crucial ao guardião Pedro Miguel. A superioridade aérea do Benfica sobre o adversário fazia antever um golo nas alturas, tal era a facilidade com que, tanto Jardel, Steven Vitória e até Funes Mori (falhou, desmarcado, um cabeceamento aos 15 minutos) conseguiam espaço para alvejar Pedro Miguel. Ainda assim, a réplica possível da quipa da casa chegou para colocar os encarnados em sentido: aos 22 minutos, passe a rasgar a defesa, descobrindo Gomes que, por milímetros, não conseguiu dominar frente a Oblak. Aos 38 minutos, o central luso-canadiano Steven Vitória subiu ao segundo andar para marcar um golo, prontamente invalidado pela equipa de arbitragem, golo que surgiu aos 52: cruzamento na direita de Cavaleiro, Funes permite o ressalto e Ola John bateu o «keeper» duriense. 

Depois do golo benfiquista, a cadência da reacção do Cinfães foi sofrendo sucessivos abatimentos, consequência natural do cansaço e da diferença de ritmos entre ambas as equipas. O Benfica ficou, progressivamente, a debater-se - por vezes sozinho - contra uma desorganização estrutural da equipa, incapaz de dilatar o resultado perante um oponente que se dissipava com o passar do tempo. Cavaleiro, sempre ele, ainda teve (aos 74 minutos) nos pés a ocasião de aumentar a vantagem, depois de fintar um adversário, mas o chapéu a Pedro Miguel saiu alto demais.  

Reacções dos treinadores

No fim da partida, Jorge Jesus ressalvou a exibição de Ivan Cavaleiro: «O Ivan mostrou que tem grande futuro. (...) Fizemos um jogo competitivo e estou muito feliz com esta jornada da juventude do Benfica. (...) Eu acredito na qualidade destes jovens do Benfica, que vão ser o futuro. É este o caminho», indicou o técnico, assumindo simultaneamente que correu alguns riscos com as escolhas desta tarde. O treinador do Cinfães, João Manuel Pinto, congratulou a sua formação: «Quero dar os parabéns aos meus jogadores, que lutaram e acreditaram. (...) Foi um jogo aberto e sem autocarros, onde o resultado não interessa, mas sim o espectáculo». 

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