Final de época, Benfica campeão e Porto – crónico vencedor – muito longe sequer da disputa pelo título e afastado precocemente da entrada directa na Liga dos Campeões. Para os críticos, esta foi uma época muito infeliz no percurso dourado que os portistas vinham trilhando. Na minha óptica, o desastre portista e os sucessivos soluços fraquejantes da famosa estrutura já vêm sendo dados com alguma frequência.

Lucros inconsequentes?

Nas últimas épocas temos assistido a um Porto demasiado preso a negociatas com fundos e empresários. As vendas continuam a ser gigantescas mas os valores que entram noutros bolsos são muitos maiores que aqueles que vão para o Dragão. Casos como os de Álvaro Pereira ou Rolando – poderiam ter sido vendidos por quantias milionárias, o clube segurou-os contra a sua vontade para mais tarde os libertar por valores irrisórios – têm-se sucedido nas últimas épocas. Por norma, o Porto segurava os principais jogadores por 2/3 temporadas antes de os vender, estes ainda que insatisfeitos acatavam as decisões da direcção e tinham publicamente um discurso prudente e de respeito para com o clube. Nos últimos anos é híper comum jogadores portistas, inclusive alguns com apenas um ano de casa, virem publicamente expressar o seu desejo de dar o salto, desrespeitando quem ao fim do mês lhes paga o vencimento.

Estrutura em causa

A falta de liderança no balneário azul, ainda recentemente levou o FCP a resgatar o veterano Lucho Gonzalez, numa aposta completamente fora dos habituais padrões de mercado azul e branco. O Porto que montava correctamente os seus plantéis e raramente ia ao mercado de inverno, nos últimos anos tem somado contratações em Dezembro. Na sua maioria de jogadores veteranos (Liedson e Lucho) ou problemáticos (Izmailov e Quaresma) que chegam a custo zero porque o clube não apresenta recursos para outras opções e se apresentam no Dragão como verdadeiras incógnitas.

Nas últimas duas temporadas as fraquezas da estrutura portista foram sendo colocados a nu com os desequilíbrios constantes na construção dos plantéis; as eliminações precoces na Europa; com a ausência clara de substitutos para craques como Hulk ou James; através da falta de espaço para os talentosos Iturbe e Kelvin em detrimento de limitados como Licá ou Ricardo; ou ainda na gestão das saídas de Will Coort e André Villas-Boas (foto: ASF) – apanharam a direcção de surpresa – e da contratação de Paulo Fonseca que estava longe de ser uma das primeiras escolhas de Pinto da Costa.

O pragmatismo e solidez defensiva do mal-amado Vítor Pereira aliado aos deslizes surpreendentes do Benfica valeram aos dragões dois títulos tão saborosos quanto enganadores. Ao longo da época os encarnados foram mais fortes e apenas na recta final de forma completamente inesperada perderam as boas vantagens de que dispunham deixando os títulos à mercê dos azuis e brancos. A felicidade portista pelas vitórias quase milagrosas branqueou, de certa forma, o que de errado a direcção do FC Porto já vinha fazendo e que com a saída de Vítor Pereira culminou na desastrosa temporada actual.

Até a sagacidade habitual e o timing comunicacional de Pinto da Costa têm desiludido. Este ano exagerou na excessiva protecção ao fracassado Paulo Fonseca – todos os portistas já tinham percebido a incapacidade do treinador em dar a volta ao texto -; veio a público defender que a aposta em Luís Castro não é a prazo quando é cada vez mais evidente que os azuis estão no mercado à procura de treinador; precipitou-se ao atacar os rivais quando os acusou de fazer épocas fantásticas sem vencer títulos, lembrando que o FC Porto depois de vencer a Supertaça ainda podia triunfar na Taça da Liga e na Taça de Portugal – onde foi logo em seguida eliminado.

Prenúncio de fim de ciclo?

A falta de pulso na gestão do futebol portista coloca cada vez mais a ideia de que o domínio azul se está a desmoronar e que Pinto da Costa já não controla na totalidade o universo portista. As alterações na SAD com o reforço de poderes de Antero Henrique – cada vez mais a figura de proa do futebol – e a saída do histórico Angelino Ferreira (foto: www.dn.pt) – administrador financeiro – poderão ditar uma mudança significativa na política de contratações e gestão económica do FC Porto. Há quem fale até de uma aproximação ao poder de Alexandre Pinto da Costa – filho do presidente portista – há anos afastado do convívio com o pai e com o universo azul e branco.

Debilitados financeiramente e sem a certeza da presença na Champions, os azuis não podem voltar a contratar a rodos apenas para afastar jogadores dos rivais e muito menos correr riscos na escolha do novo treinador. Se a vitória no campeonato do ano passado afastou o experiente Mano Menezes do banco do Dragão, esta época não seria de espantar que Pinto da Costa fosse ao estrangeiro recrutar alguém de créditos firmados.

Se a direcção portista e o histórico líder azul vão dar a volta ao texto, é difícil de saber, até porque o plantel, a capacidade de compra/venda do campeão Benfica e a sua crescente força de bastidores vão permitir alguma estabilidade aos encarnados para tentar criar um período de hegemonia. Será curioso perceber se Pinto da Costa ainda tem forças para dar a volta à situação ou se efectivamente já manda pouco no universo portista. Veremos se histórico líder mais uma vez se reinventa – os portistas têm motivos de sobra para acreditar que sim – ou se o velho domínio azul está perto do fim. Tem a palavra, a próxima época.

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