Depois da decepcionante campanha em 2013/14, que culminou com o 9.º lugar na Liga Portuguesa - pior prestação dos últimos 12 anos-, o Sporting de Braga parte para a nova época com ambições redobradas e determinado a recuperar o estatuto de "quarto grande" do futebol português. Com novo treinador, novos jogadores, e até ver muito dinheiro "disponível" para atacar o mercado. Sem recursos financeiros para reforçar o plantel, até pela ausência nas competições europeias na próxima época, os minhotos contam com a preciosa "ajuda" de Jorge Mendes para voltar a ocupar um dos quatro primeiros lugares da tabela em 2014/15.

Mendes reforça influência no Axa...

Um pouco por todo o Mundo, o "Super-Agente" Jorge Mendes vai exercendo a sua influência e multiplicando negócios e transferências de milhões. Através da sua empresa, a Gestifute, o empresário português tem encetado parcerias com clubes e fundos de investimento de todos os cantos do globo. O Sporting de Braga é apenas mais um desses exemplos. 

Mendes tem sido aliás encarado por diversos clubes como uma espécie de "pronto-socorro" nas alturas de maior sufoco financeiro ou caos estrutural, como acontece agora com os minhotos. Numa época de grande contenção financeira, tem sido o mais reputado representante de jogadores do futebol internacional a "ajudar" no reforço do plantel. Uma ajuda, ainda assim, com contrapartidas óbvias para o empresário português, para quem uma eventual valorização dos jogadores colocados na pedreira significará um alto retorno financeiro.

...a pensar nos milhões que ainda pode ganhar

Surpreenderam até agora as quantias envolvidas nas transferências de algumas das maiores promessas do futebol mundial que têm chegado a Braga. O fracasso das negociações por Jonnathan Rodríguez acabaram por reduzir este valor, mas ainda assim o dinheiro até agora despendido impressiona: 14 milhões de euros gastos em sete reforços. Uma verba superior, por exemplo, à até agora gasta por Bruno de Carvalho no Sporting.

À perplexidade dos milhões investidos junta-se a surpresa pelos nomes dos reforços dos arsenalistas. Apontados como revelações e estrelas emergentes do futebol internacional, acabam por ser colocados pela Gestifute na capital do Minho, que servirá de porta de entrada no futebol europeu para estes jogadores cujos direitos económicos serão na totalidade da propriedade de Jorge Mendes e seus parceiros.

São os casos de Wallace, jovem central de 19 anos do Cruzeiro, internacional sub-20 pelo Brasil, e Danilo, jovem trinco (18 anos) ex-Vasco da Gama, também internacional pela canarinha e considerado uma das maiores promessas do futebol brasileiro. O primeiro chega por 6,4 milhões de euros e o segundo por 4,5 milhões, ambos adquiridos por fundos de investimento liderados por Jorge Mendes, sem que o Sporting de Braga tenha gasto um cêntimento sequer nestas milionárias aquisições

Também o jovem guarda-redes Matheus, de 22 anos, chega ao Minho com o rótulo de craque e por uma verba importante, 1 milhão de euros. Também aqui os arsenalistas contaram com a ajuda de um fundo de investimento, por um guardião que terá a missão de substituir Eduardo e que rubricou um contrato de cinco épocas com o Sporting de Braga, ficando com uma cláusula de 20 milhões de euros.

Pedro Tiba (500 mil euros) e Franco Acosta (valor não divulgado) são as outras duas grandes apostas de António Salvador para voltar a trilhar o caminho do sucesso. O médio português de 25 anos, um dos destaques do Campeonato passado ao serviço do Vitória de Setúbal, e o avançado de 18 anos, internacional sub-20 pelo Uruguai, são mais dois nomes de um total de 10 jogadores contratados até ao momento. Uma lista de contratações que tenderá a aumentar com as iminentes chegadas de Djavan (Benfica), Ghilas e Sami (FC Porto), um trio que tornará os minhotos ainda mais fortes no plano desportivo, ainda que na prática sejam mais três casos a acentuar a fragilidade do clube minhoto no plano financeiro, sem qualquer retorno num futuro negócio.

A juntar a todos estes reforços, os adeptos sonham com a permanência das duas «jóias da coroa», Rafa e Éder, dois jogadores que, a manterem-se no Minho, podem afirmar-se de vez na equipa arsenalista e catapultá-la de novo para os níveis máximos do futebol português. 

Sérgio Conceição, o rosto da ambição

A tumultuosa temporada do Sporting de Braga no ano desportivo transacto foi também o resultado de uma instabilidade no comando técnico da equipa que começou com Jesualdo Ferreira. O ansiado regresso do Professor à Pedreira, promovido por Salvador, não correu como o esperado e os fracos resultados, aliados à contestação dos adeptos, levou à substituição de treinador e à entrada de Jorge Paixão, vindo do Farense. Também o «novo Jorge Jesus» do futebol português não conseguiu fazer melhor figura e acabou por deixar a equipa no 9.º lugar do campeonato e fracassar no acesso às finais das Taças de Portugal e da Liga.

«Não posso ter um discurso diferente daquele que foi o discurso do Braga num passado recente: lutar sempre pelos quatro primeiros lugares»

Depois de vários nomes terem sido ventilados ao banco do AXA, com Nuno Espírito Santo a ser inclusivamente dado como certo nos arsenalistas, a escolha de António Salvador acabou por recair em Sérgio Conceição, o treinador que conseguiu colocar a Académica num tranquilo 8.º lugar (à frente do Sporting de Braga), uma das melhores classificações dos estudantes nos últimos anos.

Daí que a decisão em trazer o antigo internacional português para o Minho não tenha sido propriamente uma surpresa. A carreira de Sérgio Conceição tem conhecido uma relevante ascensão nos últimos anos, com passos consolidados em projectos de extrema dificuldade. No Olhanense a permanência assegurada em dois anos (saída a meio da segunda temporada), na Académica também a manutenção conquistada quase de forma miraculosa, com a equipa à beira da descida quando substituiu Pedro Emanuel. Em Olhão teve de lidar com graves problemas financeiros e um leque de jogadores bastante fraco, e em Coimbra soube esgotar ao máximo as capacidades de jogadores de potencial altamente duvidoso. Para esta segunda temporada moldou um plantel às suas preferências, de acordo com as limitações, e conseguiu uma classificação absolutamente extraordinária.

Os jogadores por si treinados falam num treinador incrivelmente exigente, e destacam a frontalidade como característica principal de uma personalidade forte e de liderança. Aos 39 anos, Sérgio Conceição diz-se preparado para o maior desafio da sua carreira e promete empenho máximo na aventura arsenalista.

O objectivo passa então por centrar atenções no campeonato e quem sabe voltar a morder os calcanhares dos três grandes na luta pelo título. O plantel construído por Salvador parece oferecer condições nesse sentido e no de tentar chegar a mais uma final depois da conquista da Taça da Liga de há dois anos.