Todos antecipavam, à partida da temporada, uma tarefa hercúlea depositada nos ombros de José Couceiro: substituir Marco Silva no cargo do Estoril. Porque, afinal de contas, todos sabiam também que tal substituição não seria, nunca, uma mera troca de nomes num clube actualmente habituado a conformar-se com um lugar médio-baixo na tabela classificativa - o cenário sempre esteve longe de ser esse, para azar de Couceiro.

Herança pesada deixada por Marco Silva

Na verdade, a expectativa era altíssima, devido à herança sumptuosa (e pesada) deixada pelo jovem treinador da moda, Marco Silva: o antigo jogador pegara de estaca no Estoril, subindo a pulso na carreira, e puxara consigo o Estoril até à Primeira Divisão do futebol lusitano, acostumando os sócios e simpatizantes a um futebol atrevido, desenvolto tecnicamente e tacticamente sólido.

Em duas épocas na liga portuguesa, o Estoril surpreendeu os demais competidores, deixando de boca aberta a comunidade futebolística, de profissionais do ramo a adeptos e jornalistas. Afastada do escalão máximo desde 2004/2005, a formação «canarinha» não só subiu como se colou ao topo da tabela, conquistando um 5º lugar em 2012/2013 e um 4º em 2013/2014, a melhor classificação de sempre na História do clube...quais as probabilidades de se igualar ou mesmo superar este feito num futuro próximo?

Marco Silva deixou o clube com o epiteto glorioso próprio de um líder que nunca deixou o seu clube se ir abaixo: liderou a ascensão à liga principal, lá assentou arraiais com os seus pupilos, arrancou vitórias ao favoritismo alheio, abriu caminho à saga europeia e arrebatou a melhor classificação de sempre na liga nacional. Tudo isto tirando o máximo dos seus jogadores. A saída para o Sporting, natural e previsível, fechou um ciclo de sonho que levará bastante tempo a poder ser recriado - com Couceiro ao leme, a realidade tem sido logicamente diferente.

Couceiro na apresentação, ao lado de Tiago Ribeiro, presidente (Foto: Estoril)

Couceiro: um fardo de expectativas como missão

O treinador chegou ao Estoril com a incumbência de manter o Estoril entre melhores, mas o técnico vindo do Vitória de Setúbal precisará, ainda, de tempo para consolidar as suas visões, estratégias e mecanismos tácticos, algo que o vicioso futebol português teima em não dar aos seus técnicos. De facto, os números não são nada risonhos mas são também inegáveis alguns raios de esperança por entre a escassez de vitórias (como o triunfo sobre o Panathinaikos, por 2-0, para a Liga Europa, primeira vitória do clube na competição).

O Estoril está na décima sexta posição, com apenas seis pontos em oito jornadas, uma única vitória celebrada até agora. Além do mais, é o segundo clube com mais golos sofridos na Liga, apenas atrás do lanterna vermelha Gil Vicente (que sofreu 18 tentos). Atrás de si na classificação, apenas Penafiel (com 4 pontos) e Gil Vicente (com 2), ambos clubes que já sofreram chicotadas psicológicas...

Mas, se o fardo da herança é pesado, glorioso também poderá ser o desafio de José Couceiro, que tem agora a imediata missão de resgatar o clube da má forma global que tem exibido. O primeiro passo da reabilitação é já na próxima semana, diante do Penafiel (uma das equipas mais débeis da Liga), clube que está abaixo de si na tabela classificativa - Couceiro jogará uma das suas primeiras finais: em caso de derrota, a sua situação ficará trémula e precária. 

 

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