Se Eusébio da Silva Ferreira fosse vivo hoje faria 73 anos. Nasceu em Moçambique e jogou pela selecção nacional 64 vezes, marcando 41 golos e foi internacional por Portugal pois na altura o país africano era uma colónia portuguesa. No Mundial de 1966 foi o melhor marcador com nove golos e levou Portugal ao terceiro lugar, tendo sido a melhor participação da equipa das quinas.

Palmarés inolvidável no Benfica

Em 1965, ao serviço do Benfica, recebeu a Bola de Ouro tendo sido campeão europeu na época de 1961/62 e foi à final outras três vezes, (1962/63, 1964/65 e 1967/68). Pelos encarnados foi 11 vezes campeão nacional, venceu 5 Taças de Portugal e 1 Taça dos Clubes Campeões Europeus. 50 dos golos que marcou pelas águias foram conseguidos frente aos grandes rivais, Sporting (26) e FC Porto (24).

É, ainda hoje, o recordista de golos na Taça de Portugal com 97 tentos. E tem uma sequência que muito dificilmente será igualada em Portugal, 32 golos em 17 jogos consecutivos entre maio e agosto de 1962. O ponto mais alto do trajecto europeu de Eusébio aconteceu com apenas vinte anos, a vitória por 5-3, em Amesterdão, sobre o Real Madrid, do ídolo Di Stéfano.

Marcou dois golos, os dois últimos dessa final de 1962. O joelho esquerdo não lhe dava descanso. As cirurgias sucediam-se. Mas nem assim os adversários conseguiam pará-lo. «Mesmo com as operações a que foi submetido, continuava a ser muito difícil de travar. Lembro-me que apesar das dificuldades em fletir o joelho continuou a fazer muitos golos. Era um fenómeno», lembra Jaime Graça, antiga glória do Benfica.

Eis o registo de golos de Eusébio pelo Benfica, na I divisão:

1960/61: 1 jogo/1 golo
1961/62: 17/12
1962/63: 24/23
1963/64: 19/28
1964/65: 20/28
1965/66: 23/25
1966/67: 26/31
1967/68: 24/42
1968/69: 21/10
1969/70: 22/21
1970/71: 22/19
1971/72: 24/19
1972/73: 28/40
1973/74: 21/16
1974/75: 9/2

Homenagem perfeita com vitória para recordar

A cinco de janeiro de 2014 morre vitima de uma paragem respiratória, no fim de semana seguinte, a 12 de janeiro de 2014 pelas 16 horas, o Benfica recebia o F.C. Porto numa jornada decisiva para o campeonato nacional que levou 62 508 espectadores ao Estádio da Luz. Os jogadores encarnados, com o nome de Eusébio nas camisolas, venceram por 2-0 com golos de Rodrigo e Garay. Uma homenagem perfeita.

Dotado de uma perfeição técnica e física sem par na história do futebol português, Eusébio acumulou êxitos espectaculares ao longo da sua brilhante carreira. Implacável no assalto à baliza adversária e possuindo um prodigioso índice de finalização, o Pantera Negra, como ficou conhecido graças à sua actuação felina dentro de campo, impunha de forma soberana o seu futebol veloz e elegante, concebendo com espantosa facilidade jogadas de génio, de uma beleza plástica absolutamente invulgar, própria apenas dos predestinados.

A Avenida Eusébio da Silva Ferreira, troço da Segunda Circular que passa em frente ao Estádio da Luz, em Lisboa, foi inaugurada em memória do antigo futebolista. Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, frisou que a vida de Eusébio «foi inspiradora para milhões de pessoas» e que a inauguração da nova avenida «é uma justa homenagem da cidade de Lisboa a Eusébio, porque foi a sua cidade, a cidade que abraçou e na qual viveu com alegria e ajudou a projectar no mundo».

«A escolha deste local tem enorme simbolismo, pois está junto ao sítio onde tantas alegrias viveu e proporcionou, quer com a camisola do seu clube de sempre, quer com as quinas ao peito. A Avenida Eusébio da Silva Ferreira passa a ser a morada do Estádio da Luz e a morada da sede do Sport Lisboa e Benfica», referiu António Costa presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

A 10 de janeiro o clube lembrou o antigo jogador com uma homenagem durante o jogo com o Vitória de Guimarães que venceu por 3-0. António Simões, antiga glória dos encarnados e colega de Eusébio recordou, «vais ver, amanhã vou marcar três golos», disse o Pantera Negra na noite antes dum Benfica-Sporting. No dia seguinte o Benfica venceu por 4-0 e Eusébio marcou quatro golos, levando Simões a dizer no fim «tu não voltas a enganar-me, ouviste?». Esta história arrancou muitas palmas aos adeptos que foram ver o jogo, assim como os dois filmes do antigo jogador que foram projectados, no primeiro Eusébio diz, «amar o Benfica é suar a camisola até ao fim».

Até hoje, pelo mundo fora, é muito restrito o grupo dos que se lhe podem comparar. Quem não o viu em acção terá sempre a possibilidade de consultar os números, para o confirmar. Mas as homenagens de que foi alvo e os aplausos que recolhia em qualquer país que visitasse são a melhor demonstração de que a eternidade não se mede em estatísticas. E vale mais que todos os recordes do Rei. Luís Filipe Vieira, numa mensagem publicada no site do clube, lembra, contudo, que «na verdade só morrem aqueles que não deixam marca e Eusébio não foi desses. Eusébio marcou várias gerações, por isso nunca morrerá». Há pessoas que deviam ser imortais e Eusébio era uma delas!