O FC Porto entrava na Choupana ciente da derrota do Benfica em Vila do Conde - cenário ideal para entrar a matar e, custasse o que custasse, roubar três pontos na Madeira, voltando à cidade Invicta com a extrema motivação de ter reduzido a um mero mísero ponto a vantagem do líder encarnado, vantagem essa que um dia pôde cifrar-se, na Mata Real, nuns inalcançáveis nove pontos. Mas o destino - e o indómito Nacional - trocou as voltas ao Dragão.

Portos outros teriam, no passado, entrado com uma personalidade madura, consolidada e estável - mas este renovado FC Porto versão 2014/2015 está longe de poder equiparar-se aos antigos Portos de outros tempos, tempos em que a mística portista era leccionada, dentro do balneário, por figuras incontornáveis de um plantel que sabia quem mexia os cordéis dos toques a reunir. Perante a possibilidade de ficar a uma nesga pontual do Benfica, o Porto baqueou, e, conta quem se lembra, jogos como os da Choupana difcilmente seriam desperdiçados por um FC Porto à boa moda do hegemónico Dragão.

Em Vila do Conde, o Benfica perdeu graças à irreverência do Rio Ave e à passividade do campeão. Tremeu-se no reino da Luz, pesadelos de dramáticos passados recentes avizinhavam-se à medida que a noite caia. Mas o FC Porto, nervoso, amedrontado, por demais pressionado pela expectativa do sucesso, abateu-se na Choupana - arrancou com dúvidas sobre si mesmo e terminou a partida com a noção de que poderia até ter perdido o jogo (Lucas João falhou perante uma baliza deserta).

Nem mesmo o alívio proporcionado pelo belo remate certeiro de Tello, a escassos segundos do intervalo, foi panaceia suficiente para tranquilizar a turma do Dragão. O Nacional, sempre desconfiado do estofo do FC Porto, subiu no terreno e empatou a contenda, pouco impressionado que estava com a débil pujança portista. Meia-hora restava para o apito final, meia-hora para o Porto provar - à concorrência e a si mesmo - que estava à altura de decapitar a tranquilidade benfiquista.

Mas o tempo, impiedoso, passou sem grito portista de tumulto. Numa toada de natural domínio azul-e-branco, os minutos foram-se esgotando perante a mecânica passividade portista. Não estão em causa as ocasiões de golo (Danilo disparou ao poste e Aboubakar alvejou Gottardi) mas sim a trémula atitude do Porto. Passes falhados, incerteza nas investidas ofensivas, descoordenação táctica (lance de Lucas João é reflexo disso) e um latente medo de errar. Pressão, demasiada pressão sobre os ombros de um colectivo ainda imberbe.

Faltou voz de comando. Um líder que acalmasse as hostes e seguisse, abrindo caminho, para que outros o escudassem, rumo ao desbravamento que a ocasião, proporcionada pela derrota encarada, exigia. Uma vitória que colocasse o Porto às cavalitas do Benfica, um triunfo que abalasse a confiança das águias e fizesse despertar a tragicidade ainda fresca de épocas passadas. No fundo, um mergulho assertivo, de cabeça, na luta pelo título, que furasse a avassaladora «onda vermelha» que assola todos os estádios por onde o campeão passa.

O FC Porto acabou por ganhar um ponto ao Benfica mas a verdade é que nunca um ponto ganho soube tanto a um campeonato perdido. No ar, como uma dúvida que se adensou, ficou a frustração resultante da incapacidade de triunfar nos momentos cruciais desta Liga NOS. O Porto tinha pela frente 90 minutos impróprios para miúdos, mas, a equipa que levou à Madeira, esteve longe de se assemelhar a um colectivo de graúdos. A distância para o rival reduziu mas a auto-estima portista não aumentou - nem o Porto se galvanizou nem o Benfica viu despertarem os seus mais horrendos fantasmas.

Crónica VAVEL