Afinal, que tem Hugo Almeida que não tem Orlando Sá? A pergunta ecoa no espírito deste mero analista: porquê chamar para o confronto com a Sérvia um jogador que tem apenas um mísero golo marcado em toda a temporada 2014/2015, quando, por oposição a esse escasso e magro registo, temos outro activo, também ele avançado possante, que leva 11 tentos marcados na presente temporada?

Confiará mais Fernando Santos num Hugo Almeida parco em golos (e irregular em termos de minutos de jogo) e em dúbias condições físicas, do que num avançado de 26 anos que atravessa um dos períodos mais profícuos da sua carreira, com 11 golos registados em 2014/2015 e 14 golos apontados na temporada transacta? Afinal, que tem um Hugo Almeida em baixíssimo rendimento que não tem um Orlando Sá em topo de forma e com a motivação em alta?

Hugo Almeida esteve incógnito durante toda esta temporada: viajou para o Calcio, para representar o Cesena, mas a ida para Itália falhou. Hugo Almeida apenas disputou 681 minutos pelo Cesena, ficando num confrangedor nulo de golos durante todo o tempo em que vestiu a camisola do clube. Lançada para trás das costas a aventura italiana, Almeida assinou pelos russos do Kuban Krasnodar em 2015 - realizou 181 minutos e marcou, até agora, um golo.

A pergunta só poderá ter resposta rocambulesca: afinal, porquê escolher Hugo Almeida e obnubilar o bom momento de forma de Orlando Sá? Não se regerá Fernando Santos pelo critério exibicional, pela consistência e regularidade das actuações dos activos seleccionáveis e pela capacidade física e mental dos jogadores portugueses aptos a representar a selecção das Quinas? Se sim, em que «criteria» Hugo bate Orlando?

Nos golos? Nem por sombras, e, até um cego pressentiria o desactivado faro de golo de Hugo Almeida; Na regularidade e consistência exibicionais? Novamente, nem por sombras - Almeida conta apenas com 862 minutos em 2014/2015 e Orlando Sá tem nada mais nada menos 1487 minutos nas pernas, sendo, no Legia Warszawa, um dos elementos mais preponderantes. Almeida, ainda em adaptação no Kuban, é ainda um gigante ponto de interrogação em termos físicos.

Hugo Almeida, que sabe-se hoje, ingressou no Mundial 2014 com claras debilidades físicas (não foi o único), atravessa um longo período de inexistente fulgor físico, acompanhado, naturalmente, por uma escassez de golos que dificilmente o tornaria apto e elegível para uma convocatória da selecção portuguesa - no entanto, Fernando Santos preferiu confiar no avançado de 30 anos em vez de congratular Sá com a chamada que o avançado de 26 anos tanto ambiciona.

«Fui pré-convocado três vezes, isto que dizer que o selecionador está atento ao meu trabalho e que o facto de ter marcado 25 golos no último ano e meio pode fazer a diferença, mais tarde ou mais cedo», declarou Orlando Sá após conhecer os convocados para os jogos contra Sérvia (Qualificação para o Euro 2016) e Cabo Verde (partida de cariz amigável). «Não quero parecer presunçoso, mas depois do Ronaldo, devo ter sido o avançado português a marcar mais golos durante esse período», atirou, confiante, o jogador, que apenas tem 1 internacionalização A.

O seleccionador, quando confrontado com a ausência de Sá, limitou-se a desviar-se de qualquer justificação: «Não analiso declarações, analiso jogadores e fomos três vezes ver o Orlando Sá», afirmou ontem em conferência de imprensa. Resta então fazer a pergunta: quantas deslocações para ver Hugo Almeida fez Santos e, nesse «scouting», quantos pormenores o impressionaram na dúbia forma do avançado do Kuban, que, no processo de selecção, não foram apresentados por Sá e seus 11 golos?

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