Nunca as esperanças foram tão altas e nunca tais esperanças foram tão credíveis: o FC Porto, David desta luta europeia, estaria longe de imaginar, à partida para a eliminatória, que iria visitar a Allianz Arena, em Munique, com uma vantagem de dois golos após um histórico resultado de 3-1 no Dragão. Hoje, quando entrarem no reduto bávaro do Bayern, os portistas terão em mente que a passagem às meias-finais não se resume a um sonho - a capacidade dos dragões, na primeira mão, mostrou que tal poderá mesmo ser uma realidade.

Se o FC Porto, antes do jogo do Dragão, era tido como um longínquo e irrisório «outsider», hoje, as probabilidades estão já divididas - três socos no estômago do colosso bávaro achincalharam as «odds», e, quando pisar o relvado da Arena, o Porto gozará de um estatuto que nunca teve nesta edição da Liga dos Campeões. As épicas vitórias trazem mais responsabilidades e o Dragão ganhou esperança, notoriedade, mas, também, maior exigência - a exigência de dar um bom fim ao esforço estóico feito na primeira mão.

Na Arena, a mesma receita do Dragão..?

Ao FC Porto só a derrota não interessa, ao passo que o Bayern, líder isolado da calmíssima Bundesliga, precisará de marcar, pelo menos, dois golos, ao mesmo tempo que é exigível que mantenha inviolada a baliza de Manuel Neuer. Caso sofra um golo, a formação bávara terá de marcar três tentos para empatar a contenda, tarefa que, apesar da grandiosidade do Bayern, não se adivinhará fácil. Entrará o Dragão com a mesma atitude agressiva e activa? Deixar-se-á intimidar pelo dantesco ambiente da Allianz Arena?

O plano de Julen Lopetegui poderá, de facto, recair novamente na mesma abordagem do Dragão: jogo-relâmpago apoiado numa forte pressão à saída de bola do Bayern, incidindo principalmente na zona mais recuada, onde Jackson Martínez, Quaresma e Brahimi esperarão tremuras e hesitações por parte de Boateng, Dante e até do pivot playmaker, Xabi Alonso. O desafio táctico de Lopetegui será coordenar essa útil pressão com uma solidez defensiva pautada pela densidade e pela cautela, já que se espera uma entrada de Golias por parte da equipa treinada por Pep Guardiola.

Dois golos de vantagem permitem explorar o contra-ataque

Mas outros focos, positivos, poderão iluminar o planeamento do técnico basco: dada a necessidade de marcar (cedo, se possível), o Bayern terá, obrigatoriamente, de ceder alguns metros mortos ao FC Porto, que assim poderá canalizar os seus velozes contra-ataques pelos flancos (através de Brahimi e Quaresma) ou mediante diagonais (também executadas pelos extremos). A favor dos portistas está também a versatilidade ofensiva de Jackson - o colombiano é veloz, driblador e dono de um controlo de bola elevado, o que poderá perturbar o miolo defensivo do Bayern - repare-se no terceiro golo do FC Porto e na opção viável do jogo directo.

Pela frente, o Porto terá um gigante ferido e irado após a derrota no Dragão. O Bayern entrou a dormir na partida e a sagacidade portista penalizou a formação bávara com dois golos em apenas dez minutos de jogo. Esvaziada a pressão alemã da primeira parte (que durou 25 minutos), a equipa de Guardiola desiludiu ao não ser capaz de acelerar a fundo na segunda parte, perante um Porto atrevido que nunca baixou os braços e acabou premiado com o terceiro golo.

Laterais do Porto sem intérpretes de luxo, Bayern recupera Schweinsteiger e Ribéry

O FC Porto estará amputado dos seus dois laterais, duas peças cruciais para a dinâmica fluída da equipa. Alex Sandro e Danilo, ambos castigados, darão lugar a Martins Indi (na esquerda) e Ricardo Pereira (na direita). O Bayern, mergulhado numa crise de lesões que desembucou na demissão da equipa médica, poderá contar com os recuperados Bastian Schweinsteiger e Frank Ribéry; Arjen Robben, Benatia, Javi Martínez, Bernat (ainda em dúvida) e David Alaba permanecerão fora das escolhas de Guardiola, todos eles lesionados.

Espírito europeu bate no coração portista

O Porto sabe que terá pela frente uma das equipas mais potentes e temíveis do mundo, e, mesmo com os dois golos da vantagem adquirida no Dragão, o favoritismo ainda favorece a colossal potência do líder germânico, que nos últimos cinco anos marcou por três vezes presença na final da Liga dos Campeões (vencendo uma vez, diante do rival Borussia Dortmund). Ainda assim, o espírito europeu do FC Porto será a grande arma do Dragão, a única equipa ainda invicta na «Champions» após 11 partidas.

A única equipa lusa que tem dado provas de ser capaz de impôr a sua raça entre a elite dos Campeões, nos últimos 20 anos, terá que voltar a agigantar-se para concretizar uma realidade que, há poucos dias, não passava de um simples sonho sem causa sólida. Poderá o tão criticado Lopetegui estar a encaminhar a armada portista rumo a uma nova glória europeia? Um triunfo poderá levar aos píncaros o reino portista e motivar, sem precedentes, a equipa para o embate da Luz. Uma queda europeia, ainda que natural, baixará os níveis anímico e poderá fragilizar a forma do Porto na corrida interna.

Onzes prováveis do Bayern x FC Porto

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