Crónica VAVEL

Julen Lopetegui parece ainda não ter assimilado todo o edifício semântico da rivalidade Benfica/FC Porto - a escassas jornadas do fim da temporada desportiva, o técnico basco dá ainda mostras de não estar identificado com a fasquia competitiva entre as duas equipas no contexto do despique que arquitecta e sustenta a rivalidade entre águias e dragões.

Se durante a temporada tinhamos já ficado com a impressão de que o técnico portista estava longe de compreender a crucial importância deste campeonato no presente do clube nortenho, o jogo do clássico, na Luz, expôs, para lá de qualquer reticência, essa mesma incompressão - o Porto, apático e cauteloso, passou ao lado da aventura.

Da aventura do risco, da aventura raçuda de invadir a Luz com intuito de vergar o líder Benfica, confortável na primeira posição durante a vasta maioria das jornadas que compuseram o campeoanto. O Porto, preocupado em anular o rival, deixou os minutos passarem sem arriscar para ser feliz. O Benfica, metódico e calculista, agradeceu o inanimismo e embolsou um útil empate.

Se dissermos que o Porto busca ainda uma nova identidade (dada a revolução cultural anunciada pelo seu presidente), não mentiremos também que esta equipa é o reflexo da postura do seu treinador - competente na montra da Liga dos Campeões, asténica e passiva nas competições internas. A exibição portista na Luz espelhou a mentalidade de Lopetegui, e, as suas palavras, à posteriori, mataram quaisquer dúvidas:

«Fomos à luz com a intenção de conquistar os três pontos, tivemos oportunidades para marcar e minimizámos uma equipa que tinha preparado uma grande festa», afirmou o técnico basco na passada Sexta-feira, analisando ainda os escombros do clássico de dia 26 de Abril. Convicto de que foi à Luz «minimizar» uma equipa que agradeceu a falta de incómodo, é, de facto, estar descontextualizado, desfasado da realidade contemporânea de um Porto habituado a suar e sangrar para vencer.