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Benfica campeão: o Porto de Lopetegui também fez de «manto protector»

No final das contas do campeonato, o Benfica campeão muito tem a agradecer à permissividade e passividade de um FC Porto que também lhe serviu de «manto protector»...

Benfica campeão: o Porto de Lopetegui também fez de «manto protector»
Foto: FC Porto
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Por VAVEL

Crónica VAVEL

Muito se falou do aclamado «manto protector» que permitiu ao Benfica sagrar-se campeão; a expressão (e acusação) foi feita por Julen Lopetegui, referindo-se ao suposto e pretenso apoio que os encarnados terão recebido das erróneas arbitragens. Azedo e acusatório, o treinador do FC Porto apontou o dedo às arbitragens e nomeações do Conselho de Arbitragem, esquecendo-se que o próprio Porto contribuiu, em muito, para o sucesso benfiquista.

Se podemos, facilmente, apontar o dedo à fraca chama portista e à falta de competitividade em grande parte dos clássicos (apenas um triunfo em quatro partidas contra Sporting e Benfica, para a Liga), um olhar analítico pelos resultados de jornadas cruciais também nos permite entender a fragilidade do FC Porto nas horas da decisão afirmativa. Sempre que os Dragões vislumbraram uma oportunidade para marcar pontos vitais na corrida pelo título, falharam rotundamente.

Recapitulemos: no arranque do campeonato, o Porto começou logo por desperdiçar a benefício pontual que um clássico Benfica x Sporting à terceira jornada poderia dar - os portistas perderam 4 pontos em duas jornadas (quarta e quinta jornadas, empates diante de Vitória SC e Boavista) e colocaram-se na complicada situação ao voltar a empatar (na sexta, com o Sporting). Entrada em falso: seis jornadas, seis pontos perdidos.

O Benfica escorregaria em Braga, na jornada 8, perdendo por 2-1 - o FC Porto recuperou três pontos mas logo duas jornadas depois desbaratou dois, empatando no reduto do Estoril por 2-2. Se estava atrás do rival, mais atrás ficou após a derrota no clássico FC Porto x Benfica: um bis de Lima expôs as fragilidades portistas, apesar das três bolas à trave enviadas pelos Dragões. Na jornada 18, uma derrota na Madeira , frente ao Marítimo, ofereceu, com toda a cortesia, o campeonato ao Benfica.

O Benfica, perdulário, rejeitou a oferenda e perdeu contra o Paços de Ferreira, falhando a hipótese de deixar o rival nortenho a 9 pontos de distância. O mal menor do empate benfiquista em Alvalade (1-1) permitiu às águias continuar a liderar a Liga com 4 pontos de avanço mas a jornada 26, apesar de contar com uma derrota encarnada, deixou antever a falta de cabedal do Dragão - o Porto, perante a possibilidade de ficar a um ponto das águias...baqueou e, depois de estar a vencer, viu o Nacional empatar a contenda.

Muitos anteviram a queda do FC Porto, apesar de ter sido, nessa jornada, subtraído um ponto à vantagem do Benfica; de facto, a inoperância portista em campo e as dúbias decisões do treinador reflectiram uma equipa impreparada para levar a cabo uma luta intensa com o rival vermelho. A derrota do Benfica em Vila do Conde parece ter afectado os portistas, que, na Choupana, tremeram perante a hipótese de morder, seriamente, os calcanhares dos rivais.

A visita à Luz, na jornada 30, apenas provou os prenúncios da tal falta de cabedal: um FC Porto apático, algo medroso e nada aventureiro, actuou perante um Benfica matreiro rodeado dos seus confiantes adeptos. O zero a zero, útil ao Benfica, em nada serviu a um Porto elogiado por Julen Lopetegui, com frases desenquadradas de quem pareceu ter falhado o objectivo de, sequer, compreender o que estava em jogo no grandioso clássico de dia 26 de Abril.

O empate frente ao Belenenses, na jornada passada, foi a gota-de-água, o culminar de um campeonato rendilhado por actuações fracassadas em jornadas cruciais da corrida. Eis a situação: o Benfica, empatado a zeros em Guimarães, poderia ver adiada a sua festa do título e, além disso, sentir o bafo do Dragão devido ao encurtamento da distância, de três para um ponto apenas. As chances de sucesso final seriam reduzidas mas, ainda assim, reais.

Mas que fez o Porto? Novamente em vantagem (como na Choupana), os portistas foram brandos, permissivos e relaxados, assistindo, impávidos, à jogada de golo do Belenenses, aos 85 minutos. Um golo justo que travou definitivamente o Porto de Lopetegui e serviu como a súmula simbólica do FC Porto 2015/2016 na Liga: perdulário nas horas cruciais, imberbe nos minutos de alta pressão. Seja pela rotatividade exacerbada no arranque, pela incompreensão dos momentos de ruptura ou pela falta de identidade nas batalhas próprias de homens de barba rija, o Porto de Lopetegui soube sempre ser uma das grandes muletas do Benfica. Um manto azul, «protector», que ajudou o Benfica a ser campeão.