Nos I Jogos Europeus de Baku 2015, Portugal realizou uma prestação inolvidável, resgatando uma dezena de medalhas e provando ao velho continente que a virtude lusa está muito longe de se cingir apenas ao futebol. Vinte e três atletas portugueses saíram do Azerbaijão com a glória do reconhecimento ao pescoço - «Honrámos Portugal. Honramos a nossa bandeira, não só pelos resultados, mas também pelo comportamento e só posso estar é grato pelo facto de ter estado a liderar esta equipa», afirmou José Garcia, chefe da Missão de Portugal aos I Jogos Europeus.

O desempenho global dos atletas portugueses deixou o país orgulhoso e, mais importante que o sentimento de auto-estima, foi o acto de reforçar, provando com medalhas, que a competitividade lusa pode subir a patamares elevados, estando os nossos atletas aptos para digladiarem-se frente aos melhores. A «nação valente» mostrou o seu talento em desportos como o judo, o taekwondo, o ténis de mesa, o triatlo, o tiro, a canoagem, o trampolim e o futebol de praia - dez medalhas provam que a aposta consistente no ecletismo nacional dá resultados.

O mérito de todos os atletas presentes em Baku (e não só me refiro aos medalhados, mas a todos os que tentaram) não se resume ao pragmatismo dos bons resultados, mas também ao triunfo do argumento que tende a rejeitar a supremacia desertificadora do futebol, desporto-rei que não raras vezes se mediatiza até secar toda a paisagem desportiva à sua volta; Portugal tem uma miscelânia de talentos espalhados por várias modalidades e deve apostar no seu desenvolvimento, e isso também implica dar espaço mediático aos seus feitos, ao seu esforço, à sua glória e até às suas derrotas.

Num espaço público desportivo em que o mediatismo exacerbado do futebol ganha terreno quase irrecuperável para os demais desportos, tidos como circundantes, é importante relevar os feitos dos atletas lusos, que, com suor, sangue e medalhas, lutam, não só pelos triunfos para que treinam tão arduamente, mas também pela atenção do povo português, usualmente hipnotizado pela telenovela futebolística, que por vezes tão levianamente trata do desporto em si. A prestação dos portugueses em Baku é um passo em frente nessa batalha pela atenção dos amantes do desporto.

No topo do reconhecimento estiveram Telma Monteiro (expoente máximo da capacidade desportiva lusa, vencedora habitual das grandes provas internacionais), Rui Bragança (brilhou ao arrebatar o primeiro lugar no Taekwondo) e a tripla Marcos Freitas, Tiago Apolónia e João Geraldo (novamente o ténis de mesa a ser espectacularmente representado pelos valores lusos); mas a excelência não se resumiu ao ouro. No triatlo, João Silva conquistou a prata, e, no tiro, foi o reputado atirador João Costa a mostrar créditos de prata. O famigerado Fernando Pimenta também brilhou, voltando às vitórias em K1 1.000 e 5.000 metros.

O bronze foi arrebatado por Júlio Ferreira, no Taekwondo (modalidade onde os talentos emergem cada vez com maior frequência), pela dupla Beatriz Martins e Ana Rente, nos tranpolins sincronizados, e pela selecção nacional de futebol de praia, treinada pelo seleccionador José Miguel, antigo guarda-redes da formação das Quinas. Uma dezena de medalhas para contar a História de uma «nação valente» que se debate contra a competição natural mas também contra o domínio do obscurantismo reinante em grande parte das modalidades.