Notícias VAVEL

Portugal Sub-21: Geração de enorme talento, zero derrotas e zero títulos

Para lá de William Carvalho e Bernardo Silva vários foram os pontos positivos a assinalar na participação de Portugal no Europeu de sub-21.

Portugal Sub-21: Geração de enorme talento, zero derrotas e zero títulos
Foto: Matej Divizna
rafaelreis
Por Rafael Reis

Apesar dos lamentos por uma excelente oportunidade perdida para consagrar Portugal com um título inédito, não devem existir hipocrisias - os objectivos delineados antes do Campeonato Europeu sub-21 foram amplamente cumpridos, passando pelo apuramento para os Jogos Olímpicos, mas face à qualidade demonstrada e o ‘massacre’ à Alemanha passaram a ser totalmente redefinidos.

Como tal, a derrota frente à Suécia no desempate por grandes penalidades não retira o mínimo mérito ao trabalho de Rui Jorge, que merece a continuidade no seu posto (que tal a FPF oferecer-lhe um ano de trabalho exclusivamente virado para a composição da equipa olímpica/sub-23, com os sub-21 a serem orientados por um técnico da sua confiança, como o seu adjunto Romeu?) e de um conjunto de enorme potencial.

Portugal caiu frente à Suécia (Foto: AFP/Getty Images)

Não deve esquecer-se que a geração anterior não foi sequer capaz de conseguir a qualificação para o anterior Europeu, o que demonstra a incomparável progressão deste leque de atletas e foram vários os jogadores valorizados num percurso que se iniciou nos primeiros momentos da qualificação e que se terá solidificado… na única derrota sofrida, mais concretamente num particular ante Inglaterra no qual Rui Jorge observou diversas alternativas. Nessa altura percebeu que os recursos e possibilidades desta geração se encontram próximas do ilimitado, como se percebeu no decorrer deste Europeu; considero a participação de alguns elementos de especial realce.

Muito embora a UEFA tenha atribuído o prémio de melhor jogador da competição a William Carvalho e o médio do Sporting tenha realizado um excelente Europeu, não penso que William tenha sido a figura maior desta equipa mas sim parte integrante de um colectivo que pelo que produziu merecia de facto o título. Desta forma, outros também se valorizaram ainda que com menores atenções sobre si.

Reconheço uma satisfação especial ao perceber que a impressão que tive sobre Iuri Medeiros quando pela primeira vez o vi jogar continua a cumprir-se. Era Iuri então sub-16 e eu, tal como ele, apenas ‘um puto sonhador’ também, e o que para mim lhe faltava na altura era mentalidade e maturidade. No entanto, em termos de técnica e conhecimento do jogo era superior a Bruma, a 'next big thing' do seu escalão etário, o resto estava tudo lá. Responderam-me 'és maluco, miúdo' na altura. Agora, caso o Sporting lhe dê mais um ano de empréstimo para crescer (até pode ser novamente em Arouca, que já solicitou novo empréstimo), logo conversamos…

Destaque para João Mário, um dínamo e surpreendente recuperador de bolas

Considero, pela criatividade e imprevisibilidade, que durante a época poderá até merecer uma primeira chamada à selecção principal. Assim continue a evoluir como de resto demonstrou com momentos de génio como vários remates perigosos nos encontros em que jogou, no movimento que resultou no golo de Gonçalo Paciência no ‘primeiro round‘ ante a Suécia e pelo que acrescentou à equipa.

Iuri deixou mesmo a dúvida sobre se não teria sido melhor opção para a equipa titular do que, por exemplo, Ivan Cavaleiro, que foi claramente o atacante de menor rendimento entre os habituais titulares nacionais, ao contrário do que aponta a escolha dos observadores técnicos da UEFA para os Onze Mais Valiosos da competição.

Embora seja um confesso apreciador do estilo de jogo e qualidades de Bernardo Silva, em sentido contrário não partilho da opinião de que tenha sido, a exemplo do que foi dito de William Carvalho, o melhor jogador nacional. Foi o destaque em genialidade, toque curto e discernimento ofensivo. No entanto, para os sucessos nacionais existiram tarefas tão ou mais importantes.

Bernardo espalhou magia nos relvados (Foto: EPA)

Em meu entender, esse título poderia ser atribuído a um de dois jogadores: a João Mário, que ‘jogou muito‘, funcionando como motor de transição na equipa, trabalhando imenso em prol do colectivo inclusivamente como primeiro recuperador de bolas, aspecto no qual vinha sendo fortemente criticado nas últimas épocas devido a uma pretensa (hoje falaciosa) falta de intensidade no jogo e que desta feita o tornou um elemento mais colectivo mas não o impediu de apontar golos decisivos.

Como justificar que Ivan Cavaleiro, uns furos abaixo em relação ao compatriota, Nathan Redmond, eliminado na fase de grupos com a Inglaterra, ou Kevin Volland, parte do ’naufrágio alemão’ frente a Portugal, ‘roubem’ o lugar a João Mário nos onze melhores da prova? A escolha poderia ainda residir em José Sá, eleito o melhor guarda-redes do Europeu por várias exibições de gala que resultaram em dois nulos perante Itália e Suécia, este último na final, e nos restantes encontros nem uma derrota ‘para amostra‘.

Como ponto alto desta caminhada, um triunfo de indiscutível justiça sobre uma Alemanha que nas suas fileiras conta com o guarda-redes titular do Barcelona na Champions, Marc-André Ter Stegen, e um campeão mundial, Matthias Ginter, e que por si só faria esperar mais luta a um conjunto português que nessa tarde esteve simplesmente perfeito. Será mesmo que Hrubesch é mesmo ‘rubbish‘?

Caso não tivesse abandonado o encontro, Sérgio Oliveira teria sido muito importante na ‘lotaria dos penalties’

Como aspecto negativo ficará a final ante a Suécia e o seu resultado que evitou que o melhor ataque, melhor defesa e única equipa sem derrotas na competição não tenha erguido o troféu, fruto de alguma ineficácia, é certo, mas acima de tudo de uma evidente falta de frescura física que se denotou na parte final do período regulamentar e durante todo o prolongamento, e mais ainda no aspecto mental.

Mais grave do que ser afastado nas grandes penalidades - é futebol e é talvez por isso que esse desempate seja denominado como ’lotaria’- é mesmo o facto de a equipa nacional não ter parecido mentalizada para a possibilidade de disputar um prolongamento, parecendo abatida em todos os sentidos pouco antes e durante esse período, ao contrário dos suecos que se até ao minuto 90 pareciam mais passivos a partir desse momento pareceram ter outra ’fome’.

Portugal tremeu nas penalidades (Foto: AP)

Ora, em futebol normalmente é quem tem mais fome quem ganha, e isso viu-se no espírito dos nórdicos e dos seus numerosos apoiantes até mesmo no decurso das grandes penalidades, bem estudadas e convertidas pela Suécia, por sinal.

Por seu turno, Portugal, depois de como ’mandam as regras’ ter iniciado o desempate com os seus especialistas nessa área, Gonçalo Paciência, Tozé, e Ricardo Esgaio (que ainda assim desperdiçou a sua oportunidade, sendo que também Sérgio Oliveira também estaria entre os escolhidos não fosse o facto de ter sido obrigado a abandonar precocemente a partida, se saiu bem com João Mário e depois deitou tudo a perder no penalty de William.

Sendo certo que ninguém remontaria a este assunto caso o médio defensivo tivesse marcado, certo é que desde os sub-17 até este momento, período no qual venho acompanhando o percurso do futebolista, não me recordo de o ver converter uma grande penalidade.

Esse facto pode dizer alguma coisa ainda mais quando entre os jogadores que não tiveram a possibilidade de rematar se encontravam boas possibilidades como Tiago Ilori, Paulo Oliveira, Raphael Guerreiro, Iuri Medeiros e acima de tudo Bernardo. Em conclusão: faltou frescura física, concentração, mentalidade, eficácia e discernimento para que a Selecção Nacional tivesse sido feliz em Praga. No entanto, talento nunca faltou a esta equipa, e esse é o ponto que importa realçar para o futuro.