Round um: triunfo cerebral

Dia 9 de Agosto de 2015, depois de um defeso profundamente abalado pela ida de Jorge Jesus para o Sporting, eis que o técnico encontra a sua antiga equipa no jogo da Supertaça Cândido de Oliveira. A chegada de Jesus a Alvalade provocara um autêntico sismo no futebol português, cujas réplicas ainda se sentem meses depois.

À data do desafio, Jorge Jesus contava com cinco semanas de trabalho em Alvalade, contrastando com os seis anos passados no rival Benfica. Nas vésperas da partida, e perante esta situação, Jesus foi peremptório ao afirmar que os encarnados não tinham alterado a sua maneira de jogar e que o modelo adoptado era exactamente o mesmo, nada tinha mudado.

«As ideias que estão lá são todas minhas. O Benfica não mudou nada, zero. Vou jogar contra uma equipa com ideias minhas. Eu cheguei ao Sporting e mudei tudo. O cérebro já não está lá, o treino não vai ser o mesmo, mas tudo aquilo continua.». As afirmações de Jesus não tiveram resposta por parte de Rui Vitória, nem da famigerada "estrutura" encarnada, provavelmente na esperança que as declarações pudessem ser um factor extra de motivação para os jogadores encarnados.

A verdade é que seis anos é muito tempo e o agora treinador do Sporting tinha deixado uma marca muito profunda no modelo de jogo, tendo assim toda a informação necessária para contrariá-lo. Assim, e no encontro entre criador e criação, foi Jesus a sair por cima, levando o Sporting a uma vitória por 1-0, e consequente conquista da Supertaça; estava dado o primeiro golpe.

Round dois: voltar a onde se foi feliz

O segundo assalto estava reservado para finais de Outubro. Com o Sporting na liderança do campeonato, Jorge Jesus regressava a uma casa que conhece como poucos, e onde alcançou toda a sua fama e grande parte do seu palmarés enquanto treinador. Adoptando um comportamento diferente, Rui Vitória optou por entrar no jogo de palavras com Jorge Jesus, sendo mesmo o primeiro a desferir o primeiro golpe.


«Amanhã vai jogar uma equipa que somos nós, contra 11 jogadores, não sei se será uma equipa ou não, mas serão 11 jogadores do Sporting.». Habituado aos chamados "jogos psicológicos", Jorge Jesus não deixou de responder ao técnico encarnado, relembrando a marca que o mesmo deixou na equipa da Luz.

«Estou de acordo. O Benfica é uma equipa, não tenho dúvidas nenhumas, tem seis anos de trabalho meu. O Sporting é outra equipa, com três meses de trabalho. Estamos à procura de estar cada vez mais em sintonia, que a nossa aprendizagem seja um fator de crescimento. É isso que tentamos fazer todos os dias. Não tenho dúvidas nenhumas em relação a isso.».

Rui Vitória mudou de postura, mas a verdade é que o tiro acabou por sair pela culatra. Com efeito, e num Estádio da Luz completamente cheio, o Sporting venceu de forma categórica por 3-0, resultado construído ainda no primeiro tempo. O impacto deste resultado acabou por ser maior, não só pelos números e pelo palco, mas também devido ao domínio claro dos leões, uma prova prática das afirmações do seu treinador no lançamento da partida.

Quase um mês depois, as equipas voltam a medir forças, desta vez para a Taça de Portugal e em Alvalade. Assim, e para além de todas as dificuldades inerentes, as águias têm de lutar contra a história, já que o Benfica perdeu doze das catorze visitas a casa do leão para a Taça. Assim, e sabendo de antemão da ausência de favoritos aquando de um derby, a verdade é que maior dose de pressão parece carregar Rui Vitória e a sua equipa. Veremos para ver se a águia consegue responder, ou cair mais uma vez aos pés do leão.

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