Na primeira viagem de Peseiro à Luz, enquanto treinador do Futebol Clube do Porto, cabe uma necessidade galopante de vitória, própria de quem segura o 3º lugar com um plantel superior à posição, mas que sofreu da gestão e motivação incertas até esta etapa do campeonato. Por isso, serve ao novo treinador um dos papéis prováveis: o de carrasco, se não conseguir angariar nesta vitória o impulso da sua equipa para a restante época, na teimosia de continuar numa luta cada vez mais distante; ou do salvador, no caso de fazer da Luz a confirmação de que o seu nome é ajuste de contas a Norte e a subida na tabela, embora suada, é ainda uma possibilidade. E se, numa primeira análise, Rui Vitória veste um fato mais confortável, ajustado à medida pelo tropeçar dos rivais directos na anterior jornada, também é verdade que esta partida será a confirmação de um Benfica que se quer consolidar da renovação do título. Para tal, a tarefa de fazer cumprir a vitória em cada partida é normativa, perante a expectativa do espectador Sporting, que regozijará com uma eventual perda de pontos de quem divide consigo o 1º lugar.

Raízes ribatejanas separadas por uma década

É inevitável o escrutínio da figura dos treinadores em contexto de Clássico, com a consequente análise comparativa dos mesmos, arriscando o desajuste pelo pouco critério comparável de carreiras que caminham em velocidades diferentes. Peseiro e Vitória têm 10 anos de diferença e carreiras com o mesmo número de separação. E embora tenham começado da mesma forma tímida, no seio de clubes locais ribatejanos [Peseiro iniciou-se no União de Santarém e Vitória no Vilafranquense], os seus percursos são acentuadamente distintos, sendo um facto claro disso mesmo a experiência do treinador do Porto em Ligas estrangeiras e a contrária actuação em linha recta de Rui Vitória em clubes nacionais. E se as raízes são as mesmas, também se cruzam pela semelhança de cargos, novamente, depois de terem treinado em simultâneo os igualmente rivais emblemas a norte, Vitória de Guimarães e Sporting de Braga, de onde se extraem as contas do confronto entre ambos.

José Peseiro aponta nas suas contas pessoais um par de vitórias sobre Rui Vitória e um empate, sendo que o segundo apenas conseguiu sair vitorioso num jogo, a Janeiro de 2013. Jogavam-se os quartos-de-final da Taça de Portugal, entre o Vitória de Guimarães e Sporting de Braga, troféu que Vitória acabou por arrecadar, na final com o seu actual clube. Este e um título na II Divisão pelo Fátima, em 2008/2009, encerram o palmarés do técnico. De forma similar, e apesar de uma carreira mais experiente, José Peseiro ostenta troféus equivalentes: Ganhou a Taça da Liga no mesmo ano em que Vitória venceu a Taça de Portugal e também conseguiu uma subida na II Divisão, a do Nacional da Madeira em 1999/2000.

 

Peseiro encontra Benfica pela 10ª vez

Na sexta o que se discute é a possibilidade de um destes técnicos conseguir o primeiro grande título das suas carreiras, o Campeonato Nacional, no qual Rui Vitória apresenta uma vantagem moral, aliada à pontual a 6. Peseiro ainda testa a equipa que recentemente começou a treinar, de legado ingrato mas com o plantel provavelmente mais rico na exploração de um bom futebol. Contrariamente, Vitória acompanha a equipa que conhece desde o início da época, mas com a qual viveu um início de relação conturbado, para só recentemente começar a apresentar prestações sólidas e convicentes. Janeiro foi o mês da afirmação na vontade de um Benfica campeão, espelhada num ataque esmagador: em 8 partidas vitoriosas foram marcados 27 golos. Porém, numa temporada atípica, que se começou a construir na base de um Porto à procura do título e de um Benfica arredado da luta, pede-se prudência na casa encarnada, até porque Peseiro já mostrou que o seu Porto é capaz de reviravoltas no marcador e é conhecido no Benfica um recuo sempre que marca um golo num jogo desta importância. Individualmente, Peseiro enfrentou o Benfica por 9 vezes na carreira e apresenta um empate de resultados: 3 vitórias, 3 empates e 3 derrotas.

O que será interessante de ver é como as equipas encaixarão na reacção ao modelo de jogo distinto que as separa, resultado de uma visão também ela diferente dos seus treinadores. Num Benfica que continua a construir ataques pelas alas, perante o Porto com uma dinâmica que se constrói por dentro da formação. Este será certamente um Benfica x Porto distinto dos assistidos nos últimos anos. E será também uma partida de sangue jovem, pela ousadia da aposta de Vitória e Peseiro em jogadores mais novos. Esta é, a propósito, uma característica transversal nas suas carreiras. Se numa época, o treinador encarnado conseguiu diminuir acentuadamente a média de idades do seu conjunto, satisfatória na confirmação de valores como Renato Sanchez ou Nélson Semedo, também é verdade que este é um cenário também corrente na ficha técnica de Peseiro. Recorde-se que Moutinho ou Varela foram lançados por ele mesmo, enquanto treinador do Sporting.