À terceira jornada da temporada 2016/2017, o primeiro clássico ganha vida: em Alvalade, o Sporting recebe hoje o FC Porto, a partir das 18 horas, na abertura de hostilidades entre candidatos ao título. Na luta contra a hegemonia benfiquista, os dois rivais encontram-se, nesta época, numa encruzilhada derradeira para impedir o tetracampeonato das Águias, mas, apenas uma delas poderá singrar, triunfando no campeonato nacional - tanto Leões como Dragões estão obrigados a proporcionar esse gáudio aos seus adeptos, sob pena de transformações profundas se alinharem no horizonte de ambos os clubes.

No caso do FC Porto, tal obrigação é incontornável: se os portistas falharem a conquista do campeonato, o jejum aumentará para quatro anos, facto que não se materializa desde a década de 80 (quando o Porto esteve durante cinco anos afastado do título, entre 1979/1980 e 1984/1985). Mas, para além do peso histórico de novo falhanço no assalto ao título, é necessário ter em conta a importância da hipotética extensão do jejum no contexto de uma direcção fragilizada. As escolhas de Paulo Fonseca e Julen Lopetegui revelaram-se um fiasco e a gestão directiva dos timings negociais apenas acentuou a ideia de que a actual administração de Pinto da Costa parece definhar, longe da dinâmica vitoriosa do passado inolvidável.

No Sporting, a situação não adquire uma configuração tão extremada, mas a insaciada sede de vitórias no campeonato já não se trata de um desejo intermitente, mas sim de uma necessidade premente no contexto actual. Se antes o Sporting ambicionava o título em sonhos que terminavam cedo demais, agora luta até final, munindo-se de maiores investimentos, jogadores internacionais e um treinador reputadíssimo (dos mais bem pagos da Europa) que chegou a Alvalade para marcar uma era de sucesso: o segundo ano de jejum de Jorge Jesus (o quarto do presidente Bruno de Carvalho) deixarão severas marcas num clube que anseia por tempos vitoriosos e que mobilizou os adeptos em torno desse pré-aclamado evento.

Assim sendo, quer Sporting quer Porto precisam, como pão para a boca, de um triunfo nacional que justifique os investimentos feitos no plantel e nas equipas técnicas (o Porto vai no quarto treinador contratado em 3 anos, ao passo que o Sporting já contratou um triunvirato de técnicos na era de Bruno de Carvalho, com Jesus a rebentar a escala do investimento financeiro pelas bandas de Alvalade). Será, pois, intrincado aos dois clubes passarem outro ano de jejum: o Porto sente urgência em demonstrar que está vivo, e que não abriu totalmente mão da hegemonia que um dia deteve, enquanto o Sporting não quer perder o timing da galvanização trazida pelo discurso (que perde gás à medida que o título foge) de Bruno de Carvalho.