No momento do sorteio do agrupamento de Portugal para a qualificação para o Campeonato da Europa em Futebol Feminino, os especialistas desta variante vaticinavam um 'grupo feito', liderado pelas duas equipas de maior historial presentes entre as competidoras, Espanha e Finlândia. No entanto, num processo de evolução que já leva anos de trabalho, a Selecção Nacional demonstrou que não seria bem assim…

Com o favoritismo entregue às espanholas, que cedo comprovaram possuir uma qualidade extra neste grupo, poucos apostariam que Portugal conseguiria rivalizar com as nórdicas, habituadas a competir na sua região composta por poderosas selecções como a Suécia e a Dinamarca. O momento da viragem acaba mesmo por dar-se quando, já na fase final deste agrupamento, a equipa portuguesa visitava o território finlandês para a disputa do 2º lugar, não se atemorizando com o muito público presente e as condições que praticamente só conheciam no futebol masculino.

Apuramento ‘ao sprint’ no grupo deixava boas indicações para o play-off

Nesse encontro, a exibição acabou por ser bem melhor do que o resultado, um nulo, e deixava Portugal encostado 'entre a espada e a parede'. As batalhadoras lusas estavam cientes de que seriam obrigadas a vencer os dois desafios que faltavam disputar-se, e esperar que na última jornada a Espanha não 'levantasse o pé', derrotando a Finlândia. As nórdicas não poderiam sequer pontuar, sob pena de a equipa nacional desde logo ficar totalmente afastada da Fase Final do Euro. Contra as probabilidades, tudo se conjugou para o sucesso português.

Depois de mostrar argumentos para vencer na Finlândia, Portugal venceu o mesmo oponente em terras lusas, tendo disputado uma verdadeira final na República da Irlanda, ciente de que apenas a vitória a colocaria no play-off de acesso ao Europeu, contando com a acima mencionada 'ajuda' de Espanha. Devido a uma exibição sóbria na Irlanda e ao brio espanhol, a turma lusa conseguiu o já histórico feito de se colocar a somente dois jogos, e uma eliminatória, de uma inédita fase final de uma grande competição.

O que as comandadas por Francisco Neto uma vez não voltariam a esperar era mesmo que as celebrações tivessem lugar depois de dois encontros consecutivos sem vencer. Mais: depois de um empate em casa, o 0-0 registado na passada 6ª feira no Restelo. Ainda assim, a Roménia pareceu sempre um adversário ao alcance das portuguesas, que parecem lidar bem com os desafios nos quais não possuem qualquer margem de erro; no final de tarde desta 3ª feira, uma vez mais a derrota significaria 'morrer na praia’.

A selecção feminina poderia morrer na praia, mas celebrou um apuramento Histórico // Foto: Facebook Seleções de Portugal
A selecção feminina poderia morrer na praia, mas celebrou um apuramento Histórico // Foto: Facebook Seleções de Portugal

Golo do apuramento apontado por uma estreante que compete na Liga portuguesa tem outro sabor

Os 90 minutos regulamentares repetiam o sucedido em Lisboa: um empate a zero. No entanto, já no período final da primeira metade do prolongamento haveria de surgir o momento que ilustra a importância de este ano ter sido relançada a Liga doméstica no nosso País: um golo que não valeria a vitória (as romenas ainda empatariam na segunda metade do tempo extra), mas um precioso apuramento, e apontado por uma atleta que ao nível de clubes também compete em Portugal na recentemente criada Liga Allianz.

Mais concretamente, Andreia Norton, médio criativa internacional por Portugal desde...o minuto 78. E em boa hora esta menina de 20 anos, natural de Furadouro, Aveiro, se estreou com as Quinas ao peito - para colocar as suas mais experientes companheiras numa inédita presença em Europeus com um remate certeiro ainda desviado numa defesa romena. Com toda a justiça, Portugal ascende mais um patamar.