Nesta quinta-feira (20) acontece o primeiro dos dois “Dérbis dos Inimigos Eternos”, entre Panathinaikos e Olympiacos, pela Euroliga, o oitavo da história disputado na competição continental. Uma das oito partidas que compõem a última rodada de jogos de ida do Top 16, mas que, facilmente, vale mais atenção do que todas as outras sete. E, talvez, seja a maior rivalidade do basquete mundial na atualidade. Não apenas pelos nove títulos europeus, três tríplices coroas e por conter os dois últimos campeões mundiais de clubes, mas por parar não apenas um país, mas por parar toda a comunidade do basquete mundial. A bola sobe em Atenas às 16h45, no horário de Brasília.

Clássicos ao redor de todo o mundo, em diversos esportes e culturas, são fenômenos. Alguns se destacam pelo apelo midiático, outros pela história esportiva dos clubes envolvidos, outros até mesmo por divergências políticas, sociais ou religiosas de uma comunidade. Dos exemplos mais famosos, pode se citar Real Madrid e Barcelona, no futebol, Yankees e Red Sox, no beisebol, Packers e Bears, a rivalidade mais antiga do futebol americano. No esporte europeu, dérbis como Roma e Lazio, na Itália, Celtic e Rangers, na Escócia, e West Ham e Millwall, na Inglaterra, são exemplos de dérbis que ultrapassam os níveis esportivos. Panathinaikos e Olympiacos se encaixa perfeitamente nesta definição.

Na origem deste duelo – também apelidado de “A Mãe de Todas as Batalhas” –, se protagonizava o conflito de classes entre as populações de cada cidade. De um lado, as classes altas de Atenas, representadas pelo Panathinaikos. Do outro, a classe portuária de Pireu, região metropolitana da capital. Elite e povo, apesar de que, hoje, essa disparidade de classe não mais existe, demograficamente falando. Representada em sua maior parte no futebol, essa batalha se extrapola para todos os esportes em que os dois escudos são defendidos.

Nossa reportagem conversou com o jornalista grego Rod Higgins (@rodhig7), colunista dos portais especializados em basquete europeu “Euro Step” e “In the game”, a respeito do maior clássico de seu país. “Olympiacos contra Panathinaikos é a rivalidade definidora dos esportes gregos. Ela começou como uma batalha de orgulhos entre a classe trabalhadora da cidade portuária de Pireu, representada pelo Olympiacos, e a classe média alta dos subúrbios de Atenas, representada pelo Panathinaikos. Como o futebol é o esporte mais popular na Grécia, a 'rivalidade eterna' é quase que apenas ligada à Liga Grega de Futebol. Mas, com ambos os clubes dominando a Euroliga desde a metade dos anos 90, a versão do basquete deste dérbi atrai mais interesse fora do país”, explicou o jornalista.

Como mencionado, este será o oitavo encontro entre os clubes pela Euroliga. Três dos sete outros confrontos anteriores, inclusive, foram na semifinal (jogo único), em 1994 e em 1995, ambas vencidas pelo Olympiacos, e em 2009, quando o Panathinaikos venceu e, posteriormente, sagrou-se campeão europeu. “Acho que os encontros no Final Four foram eventos definidores para o basquete grego, que viveu seu ápice na década de 90, quando o Olympiacos venceu duas vezes na semifinal. A vitória do Panathinaikos em 2009 serviu para reascender a rivalidade, que perdeu muito seu significado pela má fase vivida pelo Olympiacos no início da década de 2000”, disse.

Violência

Como qualquer grande rivalidade no mundo, o confronto registra uma numerosa lista de incidentes entre as duas torcidas. Os encontros que terminam em batalhas campais nas ruas das duas cidades não são os únicos problemas. Em vários casos na história a violência dos torcedores se estendeu para dentro do ginásio e algumas partidas, inclusive, acabaram sendo suspensas antes da conclusão.

Em duas das últimas três decisões da Copa da Grécia (nas temporadas 2011-2012 e 2012-2013), quando se enfrentaram em campo neutro, as duas torcidas ocuparam apenas as arquibancadas atrás das cestas e a totalidade das arquibancadas laterais ficou vazia, para evitar confrontos. Na decisão do Campeonato Grego do ano passado, sinalizadores foram lançados em quadra a poucos minutos do fim (foto), suspendendo a partida e dando o título nacional aos Verdes.

O cenário atual

Correndo atrás do Barcelona na tabela, o líder invicto do grupo, os dois times tentam se firmar no grupo dos quatro primeiros. Classificar-se para as quartas não é a única missão, mas, também, ficar com o segundo lugar, que garante mando de campo na próxima fase, disputada em séries melhor de cinco. Os Verdes começaram o Top 16 arrasadores, com três vitórias seguidas e, ainda, empurrando o Olympiacos para sua pior fase em anos, quando sofreu quatro derrotas em um mês, duas para o Panathinaikos nas competições nacionais e duas na Euroliga. Porém, semanas depois, o bicampeão europeu se recuperou, venceu três seguidas na Euroliga, enquanto o Panathinaikos perdeu seus três últimos duelos na competição.

“Independente da história e do que este jogo significa para os torcedores de cada time, este é um jogo importantíssimo para dois times que buscam conseguir mando de campo nos playoffs. O Olympiacos precisa de uma grande vitória fora de casa para compensar a derrota para o Barcelona e a 'surra' por 30 pontos de diferença para a Olimpia Milano. O Panathinaikos ainda tem que jogar em Barcelona, em Pireu e em Milão, então, uma derrota aqui atrapalharia até mesmo na briga por uma das quatro vagas. No fim, até mesmo sem o impacto da rivalidade entre os times, este jogo é gigante para ambos. Já que o Barcelona dificilmente perderá a liderança, a disputa fica para o segundo lugar e os dois gregos lutam por ele”, disse Higgins.

Outro fator que, para Higgins, pode fazer a diferença para os dois dérbis na Euroliga é a arbitragem. Segundo ele, nos confrontos jogados nas competições nacionais, a arbitragem foi tendenciosa para o Panathinaikos, o que não ocorrerá com uma arbitragem neutra. “Em dezembro, o Olympiacos sofreu duas derrotas seguidas para o Panathinaikos, no campeonato grego e na Copa da Grécia (eliminação em jogo único na semifinal). Em ambos os casos, houve muitas reclamações a respeito da arbitragem, por parte da torcida do Olympiacos. Na quinta-feira, em um jogo apitado por arbitragem europeia, os Vermelhos terão a chance de provar que suas reclamações foram válidas. O Panathinaikos tentará não apenas confirmar sua superioridade dentro de casa, mas, também, recuperar a vantagem moral contra os Vermelhos”, concluiu.

Confira um pouco mais do nosso bate-papo com o analista.

Quais podem ser as consequências para cada time após este dérbi?

Para o Panathinaikos...

“Se o Panathinaikos perder, ele precisará vencer vários jogos difíceis fora de casa para ter chance de conseguir o mando de campo. E quatro derrotas consecutivas na Euroliga representam uma grande crise para um time de tanto sucesso. Os Verdes asseguraram a vantagem de mando de campo no campeonato grego e já ganharam a Copa da Grécia, mas o que eles realmente querem é retornar ao Final Four e este jogo é muito crucial para isso.”

Para o Olympiacos...
“O Olympiacos precisa provar que consegue derrotar o Panathinaikos fora de casa e recuperar um pouco de vantagem psicológica. Portanto, não é um simples jogo de Top 16. Os Vermelhos terão mais oportunidades de conseguir vitórias fora de casa, mas, contra seu rival, eles terão uma oportunidade de mostrar que ainda são o melhor time na competição mais prestigiosa do basquete europeu.”

Você consegue apontar um favorito?
“O Panathinaikos tem uma grande campanha dentro de casa contra o Olympiacos (68 vitórias e 20 derrotas), portanto, ele é o favorito, ainda que os Vermelhos venham jogando melhor ultimamente.”

Supondo que um time vença ambos os dérbis neste Top 16, este vencedor pode ser considerado o principal candidato ao título nas quartas e no Final Four?
“Real Madrid e Barcelona parecem consideravelmente mais fortes como candidatos ao título. Mas, sim, este jogo dará ramificações significantes no que diz respeito a mando de campo nas quartas. E, na Euroliga, o time com o mando de campo nos playoffs quase sempre alcança o Final Four.”